terça-feira, 26 de agosto de 2008

(I Can't Get No) Satisfaction

"Jurei mentiras e sigo sozinho
Assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos.
O que me resta é só um gemido,
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos
Meu sangue latino, minha alma cativa"

(Ney Matogrosso - Secos e Molhados)

Parece brincadeira...
A gente se recupera de um golpe e vem outro
Mal dá tempo de tomar fôlego
Se fossem fases de vídeo game
Estaria perto do “game over” quase sem vidas para continuar
Só quase!
A dona me falou que querem tirar o meu sorriso,
que é pra eu estar atenta
Por teimosia, vou sorrir
Mesmo com o coração descompassado
Mesmo com um detalhe engasgado na garganta.
O que me importa é não estar vencida
Porque agora a rédea é minha
Sempre foi, mas agora eu sei que é.
Antes, bem antes,
Era a vontade estúpida e violenta
De quebrar os copos, metralhar o mundo entre as paredes
Explodir tvs e telefones
Agora é melhor
Eu absolvi o mundo de qualquer pecado acima ou abaixo da linha do Equador
Não há revolta porque a desordem é a minha
O que sinto agora é um incômodo centrífugo
Uma auto-insatisfação
Eu tenho uma relação paradoxal comigo de amor e ódio
Hoje é assim e ainda derramei café em minha roupa.
É a menor mancha que tenho no corpo, na veste ou na alma e não queima mais do que o frio das horas que passo sozinha formulando soluções
Tudo parece uma repetição sob novas perspectivas.
Não tem a ver com minha obsessão por Foucault ou por Dali,
Não tem a ver com a dádiva da existência de pessoas que são verdadeiros anjos em minha vida,
Com as belas paisagens do caminho,
Com esse jingle horrível do candidato 23.222 para vereador,
Com eu gostar menos de sexo do que os outros terráqueos e de me sentir E.T por causa disso,
Com o resultado do hemograma que me alforriou da angústia da semana passada
Com o fato de eu poder continuar comendo jujubas sem preocupação,
Com essa tosse que não passa,
Com o armário bagunçado,
Com o caleidoscópio que quero montar, reutilizando os cacos,
Ou com a alça do meu sutiã aparecendo toda hora, fora da moldura como eu.
Não.
Na verdade, tem a ver com *embarcar.
E embarcar tem a ver com todo o resto.

Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo...



*Foi golpe baixo Beatriz!! A frase era minha!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

EMBARCAR


Para ser grande, sê inteiro.
(Fernando Pessoa)

É simples assim: cada escolha é uma renúncia.
Existe um barco na água, pronto para ir.
Ao lado dele, está o continente, cheio de possibilidades.
Você pode escolher embarcar, assumir o risco do desconhecido e vivenciar novas experiências. Recomeçar.
Você também pode escolher ficar em terra firme, solidificar as conquistas que já fez, sedimentar os afetos ou concluir seus projetos inacabados. Continuar.
O que não dá pra fazer, é ficar com um pé no barco e o outro no continente.
Isso irá lhe partir ao meio e não possibilitará a você a luz de experiência alguma, a não ser a sombra da indecisão inerte. E convenhamos, viver é movimento, né?!
Que movimento acontece quando você tem um pé em cada lugar de natureza diferente?
Você até consegue rebolar, mas precisa saber se é realmente o que quer. Rebolar pra viver. Você consegue mexer os braços, mas não pode alcançar muita coisa. Você pode girar o pescoço, mas não verá muito além do que existe ao redor.
Você trava o mundo, a rotação, a translação e deixa a angústia, a expectativa e o medo segurarem as rédeas do seu destino. Que é seu! Só seu.
Esqueça os “e se”. Ora, você só vai saber se for... ou se ficar. Não há respostas dentro do “mais ou menos” e nem na experiência do outro.
O outro estava sob outras condições de temperatura e pressão atmosférica!
Renunciar a uma alternativa gera certa dor, contudo, é preciso ter coragem e ter coragem não significa não temer. Significa ter medo e enfrentar. No pain, no gain.
Embarcar é isso, é enfrentar a dúvida e escolher.
É escolher e assumir a escolha, sem “mais ou menos”.
Você pode ir. Você pode ficar.
Mas é bom lembrar que a felicidade só é possível no lugar onde você for inteiro.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A distância entre nós II

(Eu e a velha da praça!)
*
*
Existe um certo incômodo, pelo menos para mim, em ficar em silêncio na companhia de alguém que conheço a pouco tempo ou que acabei de conhecer. O silêncio me perturba nessas horas. Sabe aquelas reticências que ficam no ar, o sorriso puxado sem mostrar os dentes, sobrancelhas levemente arqueadas, algo um tanto constrangido pela ausência de assuntos?!
No elevador, então... Geralmente são pessoas que vemos todos os dias e nunca temos nada o que dizer além de saudações comuns. Isso quando acontecem, porque tem gente que emite um nfuewwj que deve significar “bom dia” e tem gente que simplesmente fica ali, muda, olhando pra baixo o tempo todo, enquanto o elevador sobe! De resto, ficamos observando o visor, ansiosos para chegar logo em nosso andar. Quando tem criança é mais fácil. Elas são mais espontâneas e quase sempre estão rindo. A gente brinca com elas e acaba formando um elo com os pais (ou responsáveis), mesmo que bem frágil. O problema é quando você mexe com um bebê e ele faz beicinho querendo chorar (ou chora mesmo!) e ainda faltam três andares pra chegar no seu.
“Pensa logo numa coisa pra fazer esse menino se acalmar”. (cabeça baixando arquivos de ajuda!)
É... Elevador é complicado. Não dá tempo de conversar. Mas precisa fingir que não tem ninguém do seu lado? É tão difícil dizer “oi” ?
Não me considero tagarela, no entanto, adoro bater papo. Quando estou de TPM, a coisa piora. Eu não fico irritada. Eu fico com uma necessidade extrema de falar. Foi por isso que resolvi formular um rol de assuntos para iniciar uma conversa, aberto à sugestões. (!) O rol precisa transcender os clichês sobre o tempo. Essa história de “hoje está frio”, “hoje está calor”, faz o assunto acabar rapidinho e não acrescenta muita coisa além do que você já sabe.
Na efervescência da lista, descobri que falar sobre as cicatrizes pode ser bem interessante. Você fica sabendo um pouco da história do outro e acaba por se revelar também.
Eu tenho uma cicatriz pequena sobre a sobrancelha direita. Foram cinco pontos. Eu devia ter uns três anos e meu irmão mais velho ia atirar na minha boneca com uma espingarda de chumbinho. Fui salvar a boneca e levei o tiro na testa. O chumbinho está lá até hoje. Se pressionar o dedo, dá até pra senti-lo. (Eu e meu irmão temos atualmente uma relação harmoniosa!!!Rsrs) Adorei dizer certa vez ao otorrino (que consultei devido à sinusite) que aquele “objeto metálico não identificado” que apareceu no raio-X da minha cabeça, era fruto de uma abdução alienígena, onde instalaram um chip em mim! Gosto daquela cara de incredulidade que fazem, embora a verdade que eu conto depois seja menos glamourosa : "Estou brincando, isso aí é um tiro que eu levei!”
E o assunto começa...

sábado, 16 de agosto de 2008

Sob os olhos do sol


O sol nasce primeiro no estado da Paraíba.


Quis estar onde era claro
Quis esclarecer o que sentia
Sem sombras, sem te assombrar
A sombra da dúvida a enviar-me cartas de alforria
Correr pela estrada, a cidade a se perder de vista
(Todas as imagens e o som da sua voz)
Eu vejo fatos e passagens
e as cores que ficaram
Tantos personagens, eles, tu e eu
Quem somos nós?
Quis deixar tudo mais claro
Quis purgar as culpas que nem tinha
Sem medo, sem te amedrontar
Pra dissipar a dúvida
E desfazer amarras,
libertar-se rumo à luz
que sob nossas cabeças rasga a escuridão
a revelar-nos o mundo nú
Assim como veio ao universo
Como vimos, nada mais se ocultará
Sob os olhos do sol.
.
.
.
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Bem vindo dia. Bem vinda alvorada. Bem vinda luz!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Por entre os dedos...


Era para ser qualquer outra coisa
Que englobasse mais confetes
Que lançasse serpentinas
Que brindasse a vida
Celebrasse as novas amizades
Ou sondasse os efeitos da mentira
nas verdades que não cabem na palma da mão.
Mas qualquer outra coisa não seria a coisa que sinto
Essa vontade cáustica de ser matéria dentro do liquidificador ligado.
Lágrimas de culpa e desespero no meio do campo de batalha.
Sensação de dever não cumprido.
Se eu era um índio sob a força de Marte
Hoje sou apenas uma criança encolhida e com medo
Desejando paz e rezando baixinho para o caos seguir em frente,
para ver ordem novamente no jardim.
“Por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas”
(o sol morreu aqui também)
*
*
Pequena fresta por onde a sombra atravessa nos dias estranhos.
Hoje, depois das 17:00h não teve chá!

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Guerra, amor e bactérias

"Se alguém vos disser que não é o braço direito, ofereça-lhe também o esquerdo."
(Sblogonoff, post 65:8)


Ofereci meu braço ao sacrifício.
Tem um conflito na Geórgia, olimpíadas em Pequim e uma agulha injetou bactérias enfraquecidas em meu corpo.
Despedacei seu coração com minhas palavras cortantes, mas não pude suportar as lágrimas que rolaram. (Seus olhos ficam mais claros quando você está triste.)
Consternada, quis unir seus cacos num abraço e acabei lhe ferindo mais uma vez.
A vida é luta renhida, viver é lutar
Estou em campo.
Eu sou um índio, amor. Marte sobre o meu signo inflama meu coração aflito para as batalhas.
Qual é a guerra que dói mais?
Aquela envolvendo a Rússia ou a nossa cotidiana?
Guerra nas estrelas. Desordem na constelação.
Ação de anticorpos na defesa do território.
Existe em mim um combate cheio de sangue e glóbulos brancos.
Aparthaid interno.
Terninhos em promoção.
Ternos abraços.
Obscenos gestos avulsos a me torturar.
“A vida é combate que aos fracos abate. Aos fortes, aos bravos, só pode exaltar”.
Quanto do meu suor merecerá a medalha de ouro?
Quanto do seu suor fará jus aos louros da vitória?
Nessa guerra , cor do cabelo não é prerrogativa para vencer.
A Vitória está lá para todos.
Basta atravessar a 3º Ponte.
.
..
...
O laranjinha é de Tamoios, Gonçalves Dias.
O amarelinho é do Drummond.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Anabelamente!


A eternidade.
Este é o tempo contido entre o início da queda e o impacto contra o chão.
Eternidade comprimida no desejo de que aconteça algo mágico que reverta a situação e evite o trágico tombo. Fica-se na sensação da dor antecipada e do constrangimento que a queda causaria. A visão se turva e todo o corpo se prepara na defesa dos ossos e músculos possíveis.
Eu sei. Já caí algumas vezes!
Dessa vez foi ela, uma das advogadas mais respeitadas e requisitadas daquele quadrado.
Entrou lindamente na padaria onde eu, humilde “aprendiz de feiticeira”, esperava ser atendida.
Reparei no salto. Anabela. Tinha o desenho bonito de um beija-flor nos hibiscus. Os galhos que saíam do desenho continuavam como tiras da sandália.
Enquanto observava os detalhes, ouvi uma interjeição que não consigo traduzir aqui e vi que ela tentava se escorar em algo. No ímpeto, segurou a cadeira vazia da mesa onde eu estava, no entanto, a queda era inevitável. A dela e a da cadeira sobre ela.
Naqueles átimos de segundo, desejei não ser testemunha do espalhafatoso momento. Quis que não fosse ela. Quis não estar ali. Mas eu estava!
No intervalo de tempo em que levantei depressa e contornei a mesa para acudir, ouvi o “Anhi”. Lembrei que foi a mesma interjeição dolorida que ouvimos quando a moça toda poderosa esborrachou no meio do baile de formatura de minha irmã, meses atrás. Quis rir da comparação, mas me contive.
Aproximei-me dela achando curioso que apenas eu fui socorrê-la. Nenhum cavalheiro presente se moveu. Algumas pessoas ficaram tentando disfarçar o riso. Outras nem disfarçaram.
Acho que fiquei tão constrangida quanto ela, sem saber se seria mais adequado minha séria comiseração ou qualquer comentário cômico que amenizasse a situação! É mais fácil cair assim perto de amigos. Uma gargalhada em conjunto resolve tudo. Mas como eu ia dizer a ela que aquilo sim era um “chá de cadeira”?!!!
Optei pela séria comiseração!
- Você se machucou? Perguntei oferecendo o braço.
- Aquele filho da mãe... Ele falou pra eu não usar esta sandália. (ela não respondeu minha pergunta!)
- Ah, mas ela é tão linda!
- Também achei. Mas já me desequilibrei antes e ele disse que aconteceria de novo. Lei de atração, conhece?! Fiquei com isso na cabeça e acabei caindo.
- Acho que isso está mais pra lei da gravidade!
Ela riu. Ufa!! Ri também.
Nisso o funcionário da padaria se aproximou e perguntou se estava tudo bem. Ela disse que sim e agradeceu, mas é claro que não estava. Como cair ruidosamente e ficar bem?!
Um senhor, sem sair de onde estava, tentou encontrar algo no chão para colocar a culpa, porém, coisas inanimadas são inimputáveis!
E foi assim que em poucos minutos fiquei sabendo que “ele” a quem ela se referiu era o namorado 12 anos mais novo, que aquela sandália foi comprada na Itália por um preço ínfimo e que ela não vive sem pão de queijo pela manhã. Encerramos nosso pequeno diálogo sobre lei de gravidade, lei de atração, pão de queijo e atitude:
- Já não existem tantos gentlemans no mundo! Ela disse, se referindo à falta de solicitude dos homens ali.
- Mas tá cheio de ladys, né?!
Ela riu do trocadilho e foi embora trabalhar com as leis, enquanto eu fiquei ali esperando a sucessão dos fatos.
A manhã estava apenas no início.
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Esta imagem eu encontrei no blog de Fábio Moon. Com o perdão do cara, eu modifiquei o salto da moça!
oblogdapapoila.blogspot.com

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Amanheceu


Estive fora por uns dias...
Deixei meu café sozinho e acéfalo, mas hoje é dia de retomadas.
Um dia é tão curto para conter tudo. Cronos continua devorando seus filhos e aqui na Terra, enquanto estão jogando futebol, entre o samba, o choro e o rock`n roll, continua sobrando tanta falta...
Faltaram abraços, faltou conhecer vocês, faltou encontrar mais amigos, faltou tomar vergonha na cara e resolver “a pendência”.
Só espero que não faltem oportunidades.
Hoje a manhã chegou antes que o sono fosse embora.
Na verdade, ele quase nunca vai embora antes do terceiro café!
Estou novamente na highway, onde a velocidade dos acontecimentos é maior do que o tempo que um corpo em desequilíbrio cai no chão.
Ela estava com salto anabela e tudo o que eu queria era não estar ali naquele momento de constrangimento. (Este é um assunto para outro post!)
Mas eu estava. Café da manhã na padaria! Depois do que aconteceu com ela, veio ele e perguntou se eu queria o meu suco sem açúcar, com açúcar ou com adoçante.
Eu disse que queria com açúcar e com afeto.
Acho que ele concluiu que aquilo era uma cantada, porque quando trouxe o suco, deu uma piscadinha e sempre que passava perto de mesa onde eu estava, olhava para mim com sorrisinhos.
Achei graça na situação!
Mas o que é que ele poderia entender de diferente, né?!
Uma mulher sozinha na padaria, logo cedo, querendo açúcar, querendo afeto...
Saindo dali, segui rumo ao escritório, sob a luz solar, pensando no que a noite foi, no que tudo isso tem sido. No táxi que me trouxe até aqui, Zeca Baleiro me dava razão! (NEM VIM DE TÁXI!)
De manhã, certas coisas parecem não ter sentido. Certas frases, certos alvos, certos planos incertos.
É difícil acordar cedo, contudo, as manhãs compensam o sacrifício!
Elas têm um quê de mágico, elas trazem auroras, elas rompem.
Acho até que tudo o que falta fazer no resto do dia cabe nas manhãs.
Elas são assim, elásticas. E mesmo que as manhãs não fossem, amanheceria.
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Eu não vou medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro, esse hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o Tejo escorrendo das mãos
Que a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter: estrela, flor, estilo
Sua língua em meu mamilo, água e sal.
(Bandeira- Zeca Baleiro)