terça-feira, 30 de setembro de 2008

MARSUPIAIS

Na bolsa dela não cabe a máxima "o essencial é invisível aos olhos". Todo o resto cabe.
Huuum...Bolsa dela ficou feio, né?! Ficou cacofônico, parecendo uma palavra só: bolsadela!
Ei, me dá um pão com bolsadela, por favor?!!
Imagina, pão com bolsadela equivaleria a um X-Tudo, de tanta coisa que tem lá dentro.
Não, não tá bom não. Peraí, vou reiniciar pra ficar melhor:
Em sua bolsa cabe tudo, exceto a máxima de Exupery: o essencial é invisível aos olhos.
Olha, se o essencial fosse mesmo invisível, a existência da bolsa não teria sentido. Porque lá se vê de tudo, tem de tudo, quase tudo tem. E tem atééé couro pra pandeiro. Tá. Isso lá não tem não, mas tem secador de cabelo portátil, tem mini-chapinha, tem grampeador, tem uma sacolinha com três colherzinhas (???) (É que ela é viciada em Chandelle, e nem sempre Chandelle e colheres estão concomitantemente juntos.) Também tem câmera digital, tem comprimidos pra dor de cabeça, outros para cólicas, tem sombrinha, tem tesourinha, estojinho básico de maquiagem, tem cortador de unhas, tem esmalte, pelo menos dois, um cremoso e uma base, tem algodão e tem acetona, tem um exame preventivo (que já era pra ter levado ao laboratório!), tem saboneteira com sabonete dentro, tem um CD e um DVD virgens, tem pasta e escovas de dentes, tem agenda, tem duas barras de cereais, tem o pen drive que ela achou que tivesse perdido, tem um livrinho de receitas de sobremesa da Garoto, isso fora a carteira, o carregador de celular, o celular, as chaves enroladas no fone do MP3, e um chaveiro colorido sem chaves. Tem o monstro da lagoa negra, o abominével homem das naves, tem o Bin Laden desaparecido... Nó, tem tanta coisa que parece a casinha do Snoop. Já viu num daqueles episódios em que o Snoop tira uma escada interminável lá de dentro??! É como a bolsa!
Ela diz que é melhor prevenir: vai que acontece de irmos parar no meio do mato com uma bolsa vazia!! Já pensou?
McGiver é que se cuide, porque essa bolsa é mais surpreendente que seus canivetes!
E ela está andando cada vez mais torta, feito a torre de Pizza!
Pois é, o essencial além de não ser invisível, pesa nos ombros!
Então ela pára, repensa e decide, afinal, que vai organizar a bolsa, retirando de lá o que é supérfluo.
Quando esvazia a bolsa sobre a mesa, ficamos admirados pensando em como é fácil contradizer as leis da física e toda aquela história de dois corpos não ocuparem o mesmo espaço... Cartola de Mágico!
Depois de pensar muito e selecionar metodicamente, analisando a possível utilidade de cada coisa, exclui, enfim, alguns folders guardados, papéis inúteis, os esmaltes e a saboneteira.
Ela diz: Nossa, quanto espaço há agora! Não é tão difícil se desfazer das coisas!!
Realmente. (!!!)
Observando tooodo aquele espaço restante, antes de fechar a bolsa e concluir a “arrumação”, ela diz: tem tanto espaço que agora até cabem os esmaltes. E é assim que os esmaltes retornam (na repescagem!) juntamente com uma gominha daquelas amarelinhas e uns clips que nem estavam lá antes.
Afinal, agora tem espaço, eles não farão diferença, uai!!!
Esta é a hora em que a câmera fecha o close na saboneteira isolada ali na mesa (porque os papéis foram pro lixo!), enquanto na TV alguém noticia que aquela outra Bolsa lá está despencando, tão cheia de valores quanto a bolsadela!
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Inspirado na pequena Beatriz e sua grande bolsa, ou na grande Beatriz e sua pequena Maxxi Bolsa.
E mais ou menos na minha bolsa, na bolsa da Carol, da Zezé, da D.Hermínia, da Lú, do Marco Antônio (!?!), da Elisa...
E também inspirado no Snoop, no McGiver e nos cangurus!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

JELLY ROLLS (2º da Trilogia "O Crime Descompensa")


"-
Vou lhe dizer algo e espero que não se esqueça, caso queira ter sucesso na profissão: Nunca sofra por uma dor que não é sua.
- (...)
- Você pode achar isso cruel, mas vai acabar percebendo que não é. Não conseguirá resolver o problema dos outros se envolver seu coração nisso. Envolva a perspicácia, seu raciocínio e resguarde o coração. Veja através de você mesmo, de seus próprios problemas. Estando neles, sentindo a dor que eles lhe causam, fica mais complicado ter uma visão externa que lhe permita resolve-los. É preciso olhar de fora.
- É... Você tem razão. (pensava: E tudo aquilo que me disseram, sobre ser inteiro, sobre o “algo mais”???)
Ele queria ter certeza de que o outro tinha razão, mas ficava inquieto. Não sabia exatamente qual era o seu papel no mundo, se era apenas usar as palavras certas, a eloqüência e apresentar as soluções através de pedidos deferidos, alvarás, sentenças favoráveis.
- O mundo é uma selva.
- Raramente ele não é, rapaz. "
Este foi o diálogo que teve dias antes com um oficial de justiça que ele mal conhecia e que ecoava em sua mente enquanto aguardava que o acusado fosse trazido à sua presença.
- Pronto doutor. O preso está à sua disposição.
O aviso o trouxe de volta para o presente.
Era seu primeiro contato com o homem. Ele estava pálido e ferido, apesar de tratado. Parecia bem mais velho do que a idade que constava em seu prontuário.
Depois da conversa e orientações de praxe, o homem falou em tom de rogo:
- Aqui não é o meu lugar.
- Você é o responsável por estar aqui.
- Aqui é o inferno, durmo no chão frio entre mais de 130 caras, estou sem agasalho, estou com cólicas e essa ferida no braço. E são tantas moscas por lá. Me tire daqui, doutor, pelo amor de Deus!
No depoimento ele disse ser ateu, agora rogava pelo amor de uma entidade que ele sequer acreditava!
- O possível será feito por você. Mas não depende somente de nós, entende?
O homem começou a chorar feito criança. Verdade ou dissimulação?
- Você pode me fazer um favor?
- Peça e eu digo se posso.
- É que amanhã é dia de visita. Como você sabe, toda minha família é de outro estado. Não virá ninguém. Eu to louco pra fumar, sabe?
- Você quer que eu traga cigarros pra você?!!!!
Perguntou meio indignado. Ele não fumava. Detestava a fumaça de cigarros. Agora o homem pedia que ele comprasse...
- É que o cigarro me acalma.
- Está bem, verei o que posso fazer.
- E... Balas de goma. Sabe, aquelas coloridas?
Ele riu com o pedido!Era apaixonado por jujubas. Nunca se contentava com os rolinhos de 10 unidades! Achava mais poético chama-las de Jelly Rolls, como vinha escrito no pacote. É que se sentia no meio de um clipe da Janis Joplin, sabe-se lá porque!
- Você quer jujubas?!!
O preso ficou envergonhado ao assumir que sim. Tinha graça!
- Agora entendi o motivo dos chocolates no meio das outras coisas, seu malandro!
Os dois riram. Era a primeira expressão mais alegre naquele lugar cinza e frio.
- Pode aguardar. Eu trarei!
Não era o seu dever, mas como prometeu, no outro dia ele estava lá com “os pedidos”.
O cigarro entrou e mesmo assim, abriram as carteiras e espalharam todos avulsos numa sacola. Mas as Jellys Rolls foram barradas.
- É que pode ter muita manha dentro de uma simples bala, doutor - disse o agente penitenciário.
- É... Eu entendo.
Porque de repente parecia um crime portar balas?!!!!! Naquele lugar era mais fácil entrar com drogas do que com jujubas!
Foi embora dali. Ao sair, viu uma barraca de acampamento na entrada do presídio e duas moças dentro delas. Mulher de preso - pensou. Ficou pensando se elas faziam aquilo por aventura, por medo ou por amor. Ficou pensando na abnegação de todas aquelas mulheres que subiam o morro do presídio, mulheres de todos os jeitos e corpos caminhando em um séqüito como formigas, cheias de sacolas. Eram mães, filhas, irmãs, companheiras, esposas... Quase não viu homens entre elas, apenas meninos, crianças.
- Não. Não deve ser apenas por medo ou só por aventura. Ia além.
Havia sofrimento no suor daqueles rostos que subiam o morro para o dia de visitas, mas havia também uma beleza que ele não sabia explicar, e que, no entanto, tocava seu coração de tal forma que a garganta comprimia.
A cada um segundo suas obras. Era assim que as coisas funcionavam, o universo se encarregaria do destino de cada um. Daqueles presos pelo lado de fora e daqueles presos pelo lado de dentro. Como acontece com os lírios do campo...
Enquanto descia o morro, entre todos os pensamentos, ressoava aquele diálogo que tivera dias antes.
“Não sofra por uma dor que não é sua.” “Você não faz parte do problema, apenas movimenta as peças!”
Lembrou que aceitara o último caso antes deste, devido às súplicas de uma mãe de condenado e que foram as lágrimas maternas que o moveram, mais do que qualquer outra coisa.
E agora? Estaria ali pelo quê?
O morro acabava no início da estrada.
Ele parou por um segundo, olhou para o pacote colorido de balas no banco do passageiro e concluiu que apesar das inúmeras crianças, todas inocentes, que ficariam muito felizes em ganha-las, aquelas já teriam destino certo no dia da liberdade.
A doce liberdade!
Acelerou, deixando o presídio para trás.
Ele não era o herói do mundo e nem deveria tentar ser. Ele era só o cara que não sabia muito bem diferenciar piedade de compaixão ou misericórdia de pena.
Naquele momento, ele era só o cara das balas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

DIVÃ

Vamos falar da primavera que neste ano veio quente
Vamos falar de um inferno cheio de boas intenções

Vamos falar da poesia de sua alma transparente
Falemos dos elos perdidos e perigosas ligações

Vamos falar de tudo o que ainda não foi falado
Vamos propagar o som velado
Vamos revelar a luz do sol
Vamos falar do que é notícia
Dos podres poderes da polícia
Vamos falar do mundo
Vamos soltar a voz

Calei,
Nem foi por defesa
Eu tive coragem, mas não tive opção
Falei,
Que tinha certeza:
Nem toda verdade tem repercussão

Vamos falar do que incomoda
da moda sobre as passarelas
Vamos falar de tudo
Vamos soltar a voz

Vamos fazer do modo certo
Vamos jantar à luz de velas!
Vamos falar do mundo
Vamos falar de NÓS.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

CHOCOLATE E BREU (1º da trilogia quase fictícia "O Crime Descompensa")

Pequeno e acelerado . Era meu coração naquele momento.
Para contrariar o costume, eu queria o silêncio.
Então ela chegou e sentou-se ao meu lado.
- Está aí esperando tem muito tempo?
- Não. Cheguei agora.
- Tem um cigarro?
- Eu não fumo.
- Tô nervosa. Preciso de um cigarro.
- Nem se eu tivesse um você poderia fumar aqui dentro.
- Eu dava um trago lá fora. (...) E chocolate, você tem?
- É seu dia de sorte. Tenho um Chokito!
- Serve!
Dei a ela o chocolate que foi devorado em três tempos.
- Acho que você está mesmo nervosa!
Ela não parava quieta. Sentava, levantava, ia até a porta e voltava e esfregava as mãos.
- Fique tranqüila. Você já passou pelo pior. Agora vai doer menos que uma injeção de Bezetacil.
- Você é meio doida! Eu sempre achei.
Fiquei surpresa com aquela afirmação!
- Sempre achou por que?
- É que você fala umas coisa diferente. E nunca vi alguém com tanto doce na bolsa que fala coisas diferente. (sem concordância mesmo)
- Só por isso você me acha doida?
- Sei lá. Você não é muito normal não. Eu sou estropiada assim, mas sei ver quando uma pessoa é normal e quando é meio doida igual você.
A essa altura eu já ria, preocupada com o fato dela me achar “meio doida.” Aquilo poderia abalar a relação que tínhamos estabelecido até ali, com o respeito que deveríamos ter uma pela outra.
- O que é que tem a ver você se achar estropiada com saber se a pessoa é normal ou não?
Ela só riu e balançou a cabeça, como a dizer: sou foda!
- Você tem mais chocolate?
- Tenho não. Só tinha aquele. Tenho bala Toffe!
-Serve.
Meu telefone tocou e enquanto eu o procurava com a mão no meio da bagunça da bolsa, uma foto caiu. Ela pegou. No verso da foto, a inscrição com caneta preta: “Sempre seu”. Ela leu.
Enquanto falava ao telefone, vi que ela fazia careta. Desliguei.
- Humpf. Isso não tem jeito.
- Hã?!
- Prometer o que não sabe.
Me devolveu a foto.
- A gente faz jura de amor, menina, mas é sem saber o que vai ser.
Promete a eternidade, mas é tudo uma incerteza só!
Olhei para ela espantada. Sua última frase não condizia com o julgamento que eu fazia dela: mulher simples de idéias e vocabulários limitados.
- Mas na hora que a gente fala ou ouve, faz sentido, não é? Perguntei querendo ver até onde ia dar aquela conversa.
- Se você parar pra ver, não tem sentido não. Essas palavras aí são bonitas de ouvir, mas só cria vontade. Depois que a validade da palavra acaba, a vontade não acaba junto. Aí vai doer. Você ainda tá com o moço da foto?
- Não. A foto é velha.
_ Tá vendo?! E você ainda carrega a foto na bolsa. Joga isso fora.
- Não. Faz parte da minha história. Foi eterno enquanto durou.
- Ah, pára de falar bonito, menina. Dizendo isso, fez muxoxo. Deve ter durado menos que essa bala. Você sabe que eu tô certa.
- Durou o suficiente. (...) Se é tudo incerteza, quando é que a gente vai ter certeza pra dizer que ama?
- É tudo uma merda, menina.
Exclamei:
- Ó!! Acho que você é meio doida!
- Ei, peraí, num começa a inverter as coisas. Você é que é meio doida!
- Rsrs!
Eu já havia me revelado mais do que deveria para aquela mulher. Em certas horas é preciso conter as exclamações. Eu apenas sorri e me calei. Ela continuou andando de lá pra cá, esfregando as mãos e coçando a cabeça.
- Preciso de um cigarro, cacete...
Então ela olhou para mim e estendeu as mãos:
- Me dá outra bala aí.
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Ela cumpriu pena por oito anos, por ter assassinado seu marido.
Não suportou as mentiras dele e nem os socos.
Numa manhã, véspera de natal de 1989, depois que ele saiu do banheiro, ela o esfaqueou e o dividiu em quatro partes. Ficou em casa esperando a polícia chegar.
Agora cumpre o semi aberto. No momento do diálogo, aguardava as condições da audiência admonitória.
Começou a fumar no presídio.
... e a comer chocolate compulsivamente comigo.


terça-feira, 16 de setembro de 2008

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Acreditar não é verbo de auto-ajuda. É quase um pó de pirlimpimpim!

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Pessoas queridas,
Estranhos dias arrombaram minha porta e descobri que pensamento mágico não funciona muito depois que a gente cresce!
Certas coisas a gente precisa enfrentar mesmo. (Não havia uma placa na entrada dizendo que seria fácil).
Eu, cada vez que me surpreendo com as “flores no lixo”, sinto uma enorme necessidade de espalhar para o mundo que existe luz no fim do túnel e arco-íris no fundo do pote.
Sou imensamente grata, hoje especialmente às minhas duas irmãs, a Beatriz, irmã cósmica que me fez respirar , oxigenar o cérebro para encontrar soluções e à Jeanine, minha doce irmã de sangue, por existir e ter me auxiliado com o peso da cruz.
Os problemas continuam, assim como os fatos, mas por vocês existirem, ficou mais fácil enfrentá-los!
Obrigada, gente.
Amo vocês.
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O que tem solução é problema. O que não tem, é fato.
Problema a gente resolve.
Fato a gente encara.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

The Dark Side...


Ela...
Achava que não tinha máscaras, que era transparente!
Coitada, era tão transparente quanto um rio turvo.
Era uma cebola. À medida que a descamação acontecia, alguém por perto chorava.
A luta para saber o que havia sob sua pele era sincera, no entanto, seus artifícios eram muitos. Ela fugia e fingia sempre que fosse conveniente.
E o pior, ela cobrava sinceridade dos outros, embora não suportasse as franquezas mais cáusticas.
A frase da mãe ecoava:
“É fácil ser sincero quando não se vai dizer toda a verdade.”
- Tá, mas e aí? Como dizer verdades que não cabem na palma da mão?
Requer habilidade ou apenas decisão e firmeza?
Ela sempre escondia algumas frases debaixo do colchão. Engolia sapos indigestos para evitar as guerras. Quase sempre se escondia atrás de situações acima de suspeita, mesmo se sentindo desconfortável com tais atitudes, mesmo sob a égide do “sem querer”. Não premeditava tudo, mas o impulso da covardia e preservação ainda vigorava nela.
Um dia lhe disseram que não conseguia dizer as verdades mais duras porque queria safar a própria cara e não porque queria preservar o outro.
Era melhor ser a mocinha!
Na hora ela achou crueldade, mas agora pensa se não é assim mesmo.
Depois que soube que seu coração era explosivo, quis por um instante que acontecesse um infarto. O arrependimento por esse desejo veio imediatamente, por achar que poderia ser mais forte, que a vida era mesmo dádiva, que existe coragem nas continuações.
Já que o cálice não seria afastado, então, precisaria ver emergir o monstro da lagoa. E enfrenta-lo.
Ah, meu Deus, descobrir suas torpezas quando as detestava no outro, era árduo.
E quanto aos relacionamentos.
Nisso ela sabia ser perversa!
Culpa ou dolo?!
Sabe quando um programa trava e não adianta mais clicar?
Era ela nas entregas. Travada.
Entregou-se inteiramente apenas uma vez, mas nem antes e nem depois conseguiu fazer isso. A metade que ela sabia ser era como bala de pimenta. Bom pra quem gosta.
Logo ela, moça tão correta, de sorriso fácil, quase nunca aparenta tristeza embora fique triste, não fala palavrão, não bebe álcool, não fuma, não... (ah, isso ela faz de vez em quando!), não atura injustiça...
Logo ela era a vilã.
A vilã em seu próprio filme.
Vilã não do acaso, mas do pseudo-enfrentamento ou do autismo funcional.
A mania de querer melhorar o mundo era, no fundo, uma insatisfação com o que trazia por dentro.
Seu coração já não cabia no peito, mal suportava a expectativa do looping.
Mas ela sabia, ela sabia que a lanterna estava perdida em algum lugar dentro de si, entre as justificativas que formulava para as omissões, para as meias verdades, entre suas misérias, entre as vísceras, entre o chocolate e o mel que possuía e entre a luz que acreditava ter.
Ela sabia que estava ali o roteiro que a faria mudar de papel.
E mais do que tudo, ela queria outro papel.
Com Vontade.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O que a falta de inspiração não faz, né?!!
Eu resolvi reformar esse café.
Termino depois, quando o tempo estiver a meu favor.
Enquanto isso, sentem, tomem um chá, um suco, um chocolate ou um creme de abacaxi.
Hoje é por minha conta!
Sopro de Eves!

Ah, tem água também!

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Epifania Supernova

E de repente,
não mais que de repente
, toda angústia se dissolveu naquele ato.
O mundo se mostrava grandioso e brilhava mais na medida em que seus sentimentos retornavam do passado.
Abriu o livro por necessidade e encontrou inesperadamente, entre as técnicas páginas, a didática da revelação:
um botão de rosa vermelha, desidratado.
“Natureza morta” emanando vida às horas.
Foi um presente dele, talvez o único sincero.
Ela guardou para não esquecer.
Mas não era ele e nem a rosa que significavam aquele momento.
Era a resposta mística aos seus apelos ao alto.
Era o símbolo da sabedoria materna que recomendava fé, que a exortava ao caminho estreito, tão difícil de seguir.
Era uma mensagem ao seu coração assustado, egresso da “Terra do Nunca” dizendo: “Pulse. Impulsione. Não se impressione.
Não deixe a pressão te levar.”
O mar não deve ser maior que a Vontade.
Ela sabia. Ela sentia. Aquela era a sua epifania e as lágrimas de então eram de gratidão à vida.
Lá fora tudo continuava exatamente igual ao que era antes dela abrir o livro:
os carros, as buzinas, a algazarra, os enigmas e os prazos.
Por dentro dela, uma supernova acontecia.
Sua razão, quase sempre cética,
naquele instante deixava-se levar pelo
fluxo disperso do invisível e pela ordem incompreensível do universo.
Caso sua sensibilidade estivesse mais aflorada,
teria ouvido o silêncio sussurrando:
- Aquiete seu coração. A primavera já se anuncia!
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Supernova: corpos celestes que surgem depois que uma estrela explode.