sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O Mistério do Planeta...

"Vou mostrando como sou e vou sendo como posso. Jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos.E pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto. E passo aos olhos nus ou vestidos de lunetas.Passado, presente, participo sendo o mistério do planeta."
(Novos Baianos)

Era primeiro de março. Foi o dia em que ele desceu da astronave para habitar o mundo onde eu já existia. E veio, não apaixonadamente como Peri, mas enigmaticamente como um faraó! Desde criança. Desde a primeira lembrança consciente que tenho dele. Um menininho careca que sorria sem fazer barulho, que tinha um amigo invisível, que possuía um lado oculto que nem os neurologistas e psicólogos conseguiram descobrir. A esfinge.
Foi o primeiro em muita coisa em minha vida. Meu primeiro amigo, meu primeiro companheiro de aventuras! Foi a primeira pessoa com quem briguei e foi a primeira pessoa com quem fiz as pazes, coco de mim! Eu morreria por ele. Seu sofrimento me causava dor. Certa vez, quando brincávamos de fazer bolinhas de sabão, ele engoliu a água. Entrei em pânico.Toda criança sabe que beber sabão não é brincadeira! Na mesma hora, bebi toda a água do meu copo também. Assustamos todo mundo, mas enfim, nós dois sobrevivemos.

Um tempinho depois, foi a hora da nossa primeira aventura. Andamos de velotrol uns seis quarteirões em busca de duendes. Ambos acreditávamos piamente que pudéssemos encontrar os tais Benebons amarelos dos quais minha mãe falava! Mais crescidos, já de bicicleta (!) íamos tentar ver a sereia na D. Guará. Em outra cidade, construímos cidades. Ele era o prefeito de Barro Preto e me ajudou a construir Toá Grande, nossas cidades de casinhas de pedra, pedaços de tijolo, barro e argila.
Seu silêncio sempre nos falou muito. Houve um período em que ele se separou de nós. Meu Deus, como sua presença sempre tão comedida, sempre tão silenciosa, sempre um enigma, como nos fez falta. E de repente, quando nos reencontramos, ele estava mais alto que eu! É a ordem das coisas... Esse cara, agora bem crescido, se tornou um amigo em quem eu confiava muito. Inteligente, perspicaz, sagaz, ponderado e entre tanta seriedade, ele é incrivelmente cômico!E muito carinhoso. Um dos raros que topa às 4:00 da manhã subir a serra pra ver o nascer do sol. Um cara que gosta do lado B, que prefere Lex Luthor à Clark Kent, que admira Darth Vader e Vejeta, mas que é um herói com o coração grande!

Um dia, quando eu precisava tomar uma decisão, ele me disse: Se achar que é certo, ponha a faca entre os dentes e vai.

Eu sempre me lembro disso toda vez que a sombra do medo invade uma decisão minha. Pensei nisso quando decidi vir pra cá.
Hoje estou aqui e mal dá pra acreditar que meu irmão será um pai. Quem diria!!! E eu sei que ele será um pai apaixonado e cuidadoso. Eu sei que ele será um pai especial.
Jônatas, desejo que seu futuro seja tão glorioso quanto a sua visão, que seu sorriso possa sempre iluminar o ambiente em que estiver, que seu filho seja tão especial como você é, que Chinese Democracy seja lançado (!), que sua escuderia seja a mais veloz, que a força esteja sempre com você, principalmente quando não houverem tantas estrelas na guerra. Que você seja muito, mas muito feliz. E siga com seu sabre de luz sendo assim esse surpreendente mistério do planeta!

Um brinde à você nesse seu dia. E todo o meu amor piegas, porém, intenso e verdadeiro de irmã mais velha!!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Linha 526/Terminal de Vila Velha


Rabisco o embaçado por toda a janela
Enquanto a chuva encontra o chão
Lá fora o frio não faz o que ele faz aqui

Eu faço pedidos para os gênios que invento
O ônibus entra pela contra-mão
Buzina que ouço, não faz a menor diferença
É só um ruído a mais em minha dispersão

Meu amor, por que é que a gente não habitou o planeta
Que tem sua órbita além do sistema solar?
Meu amor, se a gente chora, é porque não percebe as setas
E segue no caminho inverso ao que deve trilhar

Em meu pensamento, as suas promessas
Nas mãos levo as contas que devo pagar
Entre os meu rabiscos, um sorriso vem do outdoor
Dizendo que a dor que eu sinto está pra passar

Descubro uma parte de mim
No anúncio que nunca “foi eu”
O sinal vermelho alerta que devo esperar

Não quero que seja assim
Igual ao que alguém já viveu
O verde indica que agora eu posso avançar.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Fantástico show da vida

A manhã acordou vermelha e preta. Rubro-Negra para ser mais exata. Eu acordei com sono, pra variar. Ontem foi dia de Flamengo x Bota Fogo, e por mais que eu seja indiferente à tudo isso, principalmente depois da Copa do Mundo na França, não há como não ouvir os gritos , urros e foguetes dos torcedores capixabas (que nem têm times próprios para torcer e adotam os times cariocas).
Pelo Brasil é assim, basta um apito para que o resto do mundo desapareça.
Entre os desaparecidos eu sigo com o coração apertado, com a fé meio abalada. Falta de fé no mundo.
Meu Deus, o Flamengo venceu. Por que o Bem não vence esse jogo? Por que está sempre subjugado aos mais terríveis absurdos, enquanto o mal cresce nas frestas da sociedade e no lodo da alma humana, penetrando os lugares mais improváveis com seu hálito infernal?
Enquanto esperava a entrega do Oscar, assisti ao Fantástico. Realmente, a edição deste domingo foi de entristecer. Primeiro falaram das milícias, uma nova e inacreditável forma de organização e controle social das favelas e subúrbios, envolvendo políticos influentes e policiais.
E eu que pensei que a droga era um grande problema...
Em seguida houve a reportagem da mãe mineira que jogou a filha na Lagoa da Pampulha e agora a quer de volta. Enquanto isso na floresta, o lobo mal com pele de pai, padre ou padrasto entra no quarto das criancinhas com a sua repugnante e incompreensível libido. Nessas horas sou a favor das penas corporais. Estou falando de castrar. Matar não. Castrar. Querer vingança, é o meu fim. Não fazer nada também. Na sexta feira vi um crime acontecer em minha frente. Na hora fiquei chocada, mas depois classifiquei aquilo em minha alma como mais um acontecimento comum e triste do cotidiano. Acho que estou ficando insensível, e isso me preocupa.
Sobrevivi ao Fantástico para ver a duvidosa cobertura da Globo à maior festa do cinema mundial, não antes do paredão do Big Brother. (É ou não é o meu fim?) Pois é!
Oscar, glamour, jogo de interesses, festas incríveis com mesas compradas por U$10.000,00!!!
Alguns prêmios talvez tenham se destinado à mãos erradas. Mas enfim, nem tudo está no lugar certo.
Eu imagino simbolicamente o Juízo Final. De um lado o Mal. De outro, o Bem. Deus e o Diabo são da Academia, não aparecem para o público. Quem apresenta a festa é um bobo da corte com asas de anjo. Ao som de trombetas, Arpas e guitarras ele convida um dos santos mais prestigiados do Além para abrir o envelope. Entre o Bem e o Mal há grande expectativa.
E o Oscar vai para...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Nostalgias de verão

Por todo o dia uma música tocou em minha cabeça trazendo o passado de volta ou me levando de volta pra lá. Não sei o nome dela. Sei que está no disco The Good, The Bad And The Ugly, trilha sonora do filme homônimo de bang bang italiano executada pela orquestra de Hugo Montenegro. Não era raro esse disco tocar em minha infância, na enorme vitrola com válvulas e caixas gigantes. O que esta música fez comigo foi um desdobramento quase astral. Pude sentir o cheiro de lustra móveis na estante da sala onde ficava a vitrola. Vi os volumes de uma enciclopédia de capa verde que ficavam enfileirados na mesma estante. Então veio a saudade e a imersão. Lembrei de vários momentos em anos diferentes. Saudades da tia Nicinha, das conversas de madrugada, das histórias de fantasmas, do porco sujo, de como ela me fez conhecer Pink Floyd, do apagador de mão que ficava na cabeceira de sua cama, do penico que ficava embaixo (!), dos legos que a gente montava e remontava casas de faroeste, das balas Toffe que ela sempre tinha... Saudades da tia Marilda, de sua jovialidade, de sua elegância, de seus momentos de perua, de seu humor, da prateleira cheia de maquiagens e perfumes, de sua moda, do modo como fazia qualquer filme dramático parecer comédia! Saudades da Vovó Dina, de sua sabedoria paciente, de observar o tempo entre a lucidez e a epifania, de suas rugas, do barulho que ela fazia com a boca quando ia jogar milho para as galinhas, da alegria etílica que ela ficava quando bebia vinho no natal, de sua caneca esmaltada com uma ferrugem no cantinho, de sua poltrona na sala de frente à TV, seu trono de rainha. Saudades da presença invisível do Vovô Tuninho. Saudades do flamboyant florido e da sombra que ele fazia em frente à casa. Saudades das ruas de cascalho de Araçaí, onde pegávamos cristais para fazer tesouros. Saudades de esperar o caminhão do tio Zé Afonso passar na pracinha do Manoa pra gente ir pra Araçaí na carreta, junto com as latas de leite! Saudades de correr atrás da Folia de Reis que passava pelas ruas de cascalho. Saudades de nunca ter gostado de acompanhar procissão de semana santa e ficar no portão da vovó com medo da luz da Florzina! Saudades de brincar de ter coragem e tocar o crânio aos pés do cruzeiro da praça do cemitéiro. Saudades da casa na rua Montes Claros. Da Vovó Nica. Saudades de sua devoção, de sua fé, de seus terços e rezas, da vontade que ela tinha de viver superando tantas limitações que o corpo e a saúde impunham. Saudades do jardim com trevinhos. Saudades das cadeiras na varanda. Saudades da cadeira dobrável do vovô. Saudades do Vovô Tião chegando com o pão embrulhado em um papel cinza e amarrado com barbante que ele sempre guardava. Saudades de levar para o Jônatas a parte do jornal sobre carros que o vovô sempre separava! Saudades das três garrafas térmicas sobre o armário da cozinha. Uma com café forte, outra com café fraco e a terceira com chá Mate Leão. Onde estão todos agora? Daquele tempo não ficou nada. A casa de Araçaí está vazia. A da rua Montes Claros está alugada para estranhos. As ruas de cascalho foram asfaltadas. O flamboyant teve que ser cortado para não estragar o passeio. O Tio Zé Afonso não tem mais caminhão de leite. Todos os vovôs e vovós dormem. As tias dormem também. Estão todos dormindo, com disse Manuel Bandeira. Dormem profundamente. Mas eu prefiro acreditar que habitam outras eras, outros planos com novos netos e novas histórias. Com novos sobrinhos e últimas modas. Eu ainda estou aqui com a mente e o coração repletos de lembranças bem despertas e tão vivas quanto a música de faroeste.No presente, fenos imaginários rolam pelo chão de concreto. Saudades...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Ventos de Minas, ventos da F1

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Entro num acordo contigo
Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
És um dos deuses mais lindos
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Ouve bem o que te digo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Quando o tempo for propício
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
E eu espalhe benefícios
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Apenas contigo e comigo
E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Não serei nem terás sido
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Num outro nível de vínculo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...
*****
Não sei como descrever o presente momento.
Deixei Caetano falar por mim através da Oração ao tempo.
Obs: Eu não estou grávida!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

No ano em que eu nasci

No ano em que eu nasci, algo revolucionário acontecia no reino musical. Algo que marcaria a história da música para sempre. Era a ascensão de um rei ao trono e ao mesmo tempo o início lento, doloroso e metamórfico de sua decadência.
Neste ano, a Epic lançava o álbum mais vendido de todos os tempos. Thriller.
Eu tenho lembranças sonoras desta época. Lembro do meu irmão mais velho ouvindo inúmeras vezes Billye Jean no quarto. Lembro de ficar apavorada vendo o clip de Thriller com todos aqueles monstros. Ouvir Wanna Be Startin Somethin me remete à infancia em Pará de Minas, minha terra natal.
Aquele garotinho vindo de uma família de artistas, que tinha ganhado fama cantando “Bean”, agora era o protagonista da mudança do mundo. E não morreria por isso. Não como morrem os mártires. Seria história, mas pagaria pelo estrondoso sucesso com casamentos estranhos, manias estranhas, estranhas metamorfoses, perseguições, boatos, verdades e mentiras que povoariam sua Never Land de maneira quase fatal. Culpado ou inocente, ele sobrevive. Sobrevive para ver figuras muito menos especiais, muito menos talentosas, às vezes nada talentosas, fazendo o escarcéu com a própria vida, com a mídia, atormentadas por um sucesso letal. Inaptas para administrarem qualquer coisa. Mas sobre todos esses vermes criados pela indústria fonográfica, está ele. Michael Jackson. O homem do ego desproporcional e costumes faraônicos. E como um eco do passado ele impera como o único que pode afirmar que nunca alguém vendeu mais discos que ele, mesmo os melhores que ele!
Ariano Suassuna certa vez em entrevista, disse Michael Jackson era lixo musical. Sr. Ariano, com todo o respeito ( e eu o respeito muito) , se for lixo, deve estar cheio de flores! A mídia é controladora, inventa mitos, cria lendas, mas não se pode criar tão bem e deixar ecoar por tanto tempo uma mentira assim.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Rito de Passagem

(vista da Terceira Ponte , Vila Velha/Vitória,ES)

A sombra de uma nuvem sobre o mar
não muda, a não ser que o vento a mude
Amor, não sei dizer se vou voltar
Saudade, uma questão de longitude

O mundo continua a girar
No som uma mudança de atitude
Eu já não sou quem era ao chegar
Na diferença brusca de altitude

Vida que segue
O que mais aconteceu?
Será que a D.Rita se casou?
Será que o fulano me esqueceu?

Vida que segue
Tudo aqui me encantou
Mas ouço a sua voz a perguntar
Ainda haverá você e eu?

Vento,
Vem soprar aonde estou
Abençoe, Deus, quem sou

Tempo
Vem passar, porque eu vou
Abre as asas, eu vôo

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Fosco temporário de uma mente sem lembranças

(A persistência da memória de Salvador Dali)


Lástima.
Ontem fiz conexão com os sons do mundo e compus uma canção. Porem, tal canção não passou do meu imaginário. Não a gravei em lugar nenhum, não cantei pra ninguém.
Fiquei solfejando a melodia no caminho pra casa.
Chegando em casa, tive a intenção de grava-la, mas fiquei em outras circunstâncias.
Era a obra-prima! Agora minha ventura teve fim. Puft! Esqueci. Esqueci como era. Só o nada. Quero me lembrar. Já fiz todas as posições com a cabeça, respirei, já fiquei no silêncio, mas nada do que lembro se parece com o que era ontem. Que agonia. Não há backups que eu posso fazer, como vou pedir para penetrarem meu hardware? Eu quero lembrar.
É horrível quando algo se perde na mente. Fica na ponta da língua e de lá não sai.
O esforço para lembrar torna tudo pior.
O que eu posso fazer é esperar.
Se houve a música, há de emergir uma hora.
Não é assim que costuma ser?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

A Fonte da Vida

Nesta madrugada assisti ao filme The Foutain (A Fonte da Vida), com a Rachel Weisz (O Jardineiro Fiel) e Hugh Jackman (O Wolverine do X-Man). Este filme é realmente uma “viagem” metafísica do roteirista, diretor e auxiliar de serviços gerais (!), Darren Aronofsky. Para assisti-lo até o fim, você precisa ser paciente e não ter sono. Se você passar do meio, perceberá que valeu a pena ter continuado neste drama/ficção que fala da odisséia do amor através dos tempos e da busca incessante pela Fonte da Juventude. Concomitante à isto, o filme trata da morte e do renascimento de uma maneira bem interessante e ainda consegue integrar a mitologia maia, inquisição espanhola e Jardim do Éden com a astronomia do século XXVI, junto ao desejo de alcançar a vida eterna.
Thomas, o personagem central, via a morte como uma doença que precisava ser curada. Na busca obsessiva pela “cura” da morte, ela acaba por perder os momentos importantes e simples que fazem a vida valer a pena. Ele leva um milênio para descobrir o que a gente já sabe. Que a morte é uma fase dos ciclos, e que cada estrela que agoniza no espaço, dá vida á outras tantas. Ele tinha medo de perder, e medo de desaparecer. O filme termina como em uma lenda indígena. Mas o final eu não vou contar!
Gente, essa coisa de viver para sempre... Eu não entendo isso, gosto da idéia de ciclos, de que morreremos um dia. Tem gente que não morre nunca, como a Derci Gonçalves. Ela já descobriu a fonte. O Silvio Santos só precisa beber mais uma dose da água da vida e pronto. Torna-se imortal. O Paulo Coelho já é imortal, né?! Mas ele burlou a regra, tinha que beber água e não sentar na cadeira da Academia Brasileira de Letras! A Xuxa está na busca. Lembro de que quando eu era pequena (e isso já faz tempo) de ela fazer aniversário de 32 anos por três anos seguidos. Ela deve ter quase 50 anos e diz que vai fazer 44. Não cabe nos cálculos!! A Sandy até quis ser imortal, mas ela sabe que morre no final!!! Rs!Eu gosto de existir, mas sei que não sou pra sempre.
Só não quero terminar como comecei essa vida: esperneando e gritando!
Podemos fazer mais que isso.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Medo do Fim do Mundo

Eu tive medo do fim do mundo.
Fui uma garotinha ingênua, assombrada pelos monstros que meu irmão mais velho, Dinho, inventava, como o Carireu, por mitos folclóricos, como a Carimamba, a Mulher de Branco, o Homem do Surrão que pegava as crianças desobedientes e colocava dentro de um saco! Minha mãe era um baú de fantasias, nos deu um reino mágico, entretanto, criou para nós um universo maniqueísta. Havia o Bem e havia o Mal. Tínhamos, eu e o Jônatas, meu quase caçula irmão, muito medo do mal.
Entre as coisas que mais me impressionavam em tudo aquilo estava o FIM DO MUNDO.
Minha mãe dizia que um dia aconteceria o “alinhamento do eixo da Terra” e nesse dia o mundo ia acabar. Ela ficava cantando uma música assim: Ai de quem tiver um filho ainda por nascer... Eu tinha verdadeiro pavor dessa música. Para complicar meu medo, ela comprou um disco que o Jean Michel Jarre produziu em homenagem aos que morreram na explosão do foguete espacial Challenger. A ilustração do encarte era o planeta Terra humanificado, com as mãos na boca, como a que chamar qualquer coisa. O que a Terra está falando, mãe? Rendei-vos à grandeza do espaço, ela respondia. Havia uma música que simulava a respiração de um homem dentro da roupa de astronauta, tipo o Darth Vader. Naquela época, lembrar dessa música e do alinhamento do eixo da Terra, me fez dormir muitas vezes entre meu pai e minha mãe! Queria estar perto deles quando o mundo acabasse! Isso foi nos anos 80.
Chegou o ano 2000 e continuamos vivos, contrariando Nostradamus!
Realmente, em 2004 o eixo inclinou-se, sofremos com o Tsunami e outras catástrofes naturais, mas o mundo não acabou. Não para nós. Não no Brasil.
Hoje, não tenho mais medo do disco Rendez Vouz do Jean Michael Jarre e nem do Carireu. Hoje temo por meu filho, que há de vir um dia habitar este planeta. Temo, porque o mundo chega ao fim por outras vias, por desalinhos, não por alinhamentos. A vida humana perdeu o sentido, morre-se por nada, mata-se de graça, cobra-se para matar, negocia-se vidas, o narcotráfico contaminou a política, a corrupção assola o mundo, minha casa tem grades na janela, ninguém acredita em mais ninguém, a paz se esconde até em lugarejos, antes tão pacatos, garotinhas de 11 anos ganham bebês, o consumo de antidepressivos e outros psicotrópicos impressiona e enriquece a indústria farmacêutica. O que é o alinhamento do eixo da Terra diante de tudo isso? Quais serão seus medos, meu filho?
Quanto a mim, já não é mais possível dormir entre meus pais.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

E no entanto, ela se move.

Assisti ao filme “O Caçador de Pipas”. Embora “Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain” continue encabeçando a lista dos meus filmes preferidos, o Caçador de Pipas é um filme simples, lindo, terno, chorei até. Ainda não li o livro. Talvez lá eu encontre explicações para certas atitudes do personagem central que me incomodaram. Para mim, esse não é um filme sobre amizade, nem sobre o Talibã. É um filme sobre firmeza. Sobre coragem. Sobre atitude. No caminho de volta pra casa, fiquei pensando muito sobre ter coragem e ser covarde. Amir jan, protagonista, ao meu ver, não alcançou a redenção com a atitude de ir buscar o filho de seu “amigo” em Cabul. Ele sofreu leves transformações no decorrer da trama, porém sempre foi um banana. O filme termina e ele continua assim, tentando fazer as pazes com sua consciência de banana. Mas eu não quero estragar o prazer de quem não viu ainda. Assista e diga!
Agora, por que isso me incomodou tanto (?), pensei. Será que sou assim também? E segui pensando a respeito durante todo o trajeto de volta pra casa. Pensei no ditado popular que diz que mais vale um covarde vivo do que um herói morto. Ao mesmo tempo, lembrei que entre os trailers do Caçador de Pipas, havia o do filme Rambo IV, onde o Satalone dizia: - Viver por nada ou morrer por algo.
Pensei naqueles que negaram suas verdades e seus amigos, como Pedro, o apóstolo que chegou a negar Jesus (três vezes!), ou Galileu Galilei que para não ser condenado pela igreja católica negou suas teorias, disse que havia cometido um erro, que a Terra não se movia em torno do próprio eixo e nem girava em torno do sol! E ainda jurou que sempre acreditaria nos ensinamentos teocêntricos da igreja. Pensei também naqueles que morreram por suas verdades, que lutaram pelo que acreditavam, como Joana D`Arc que foi firme até o fim, Mahatma Gandhi, Luther King, aquela mulher que a Sigourney Weaver interpretou no filme Congo, Paulo César Vinhas, ambientalista do Espírito Santo, que foi assassinado por não ter se calado ante as constantes e falsas fiscalizações e extrações ilegais de areia, assim como outros tantos pelo mundo.
E com tudo isso em mente, pensei em até que ponto eu iria por uma verdade, até que ponto eu daria minha cara à tapa pra defender o que eu acredito, para defender alguém que amo. Não sei se sob tortura eu “pedira para sair”! Sei que em sã consciência jamais deixaria que alguém pagasse por um erro meu, mas me incomodou e está me incomodando essa dúvida.
Existe um ponto, uma bifurcação no caminho onde a gente escolhe se vai se imolar por algo ou se não vai ser besta pra tirar onda de herói. Por onde você escolhe ir na maioria das vezes? Até que ponto você consegue continuar vivendo consciente de que não foi verdadeiro consigo mesmo nem com o mundo. De que não teve a atitude certa quando deveria? De que foi omisso?
Não se sabe ao certo, mas dizem que Galileu quando terminou seu julgamento, se levantou e sussurrou baixinho "eppur si muove" ("e, no entanto, ela se move").
(...)


sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

OVNIs na sopa

Ao abrir a página do Terra no outro dia, li uma notícia sobre corpos estranhos e pedaços de corpo humano encontrados em produtos do gênero alimentício. Falava de um alemão que encontrou um dedo humano em uma barra de chocolate italiano. Tinha até unha. Como havia nozes no chocolate, foi difícil identificar a diferença!!! Imagina?!! Que nojo! Essas são as maravilhas da produção em série, seriamente comprometida pela ganancia e a negligência do mundo moderno. Também existe o "fator azar", mas mesmo assim o controle de qualidade é remoto. É rato no iogurte, é dedo de gente no chocolate, é ser humano dissolvido na Coca-Cola, é água oxigenada no leite, é mosca na sopa, é barata no pão caro, é pau, é pedra, é o fim do caminho... E ainda tem os coliformes fecais, meu Deus! Será que essa coisa voa, prolifera no ar? Tem vestígios de cocô por tudo quanto é canto, até na água "potável". É... Andam espalhando pela Medina que só a cerveja não contém coliforme fecal. Disseram que é preferível beber cerveja e falar merda à beber água e não falar nada. No meu caso, só calando a boca mesmo, mas prefiro seguir bebendo apenas água, obrigada! Merdas etílicas possuem consequências muito mais desastrosas, pelo que vejo. Por falar no assunto, li esta frase em um banheiro de rodoviária:
Não faça na vida pública o que você faz na privada. (!)
(...)
É, minha gente, vamos seguindo a vida, entre gôndolas de supermercados, prateleiras de mercearias, balcões de padarias, nos pegue e pagues do mundo, torcendo para encontrar supresas só no Kinder Ovo! Ah, e sem a neurose de achar que adianta ler a tabela nutricional dos alimentos. Com alguma sorte, a embalagem informará a verdade.
E assim, parto daqui deixando um Sopro de Eves e uma alerta: Cuidado com o que consumirem aqui. Nossos pratos podem conter OVNIs!
Entre a embalagem e o produto há muito mais coisas do que supõe a nossa vã, topic, kombi, perua ou besta filosofia.
ISO de Eves 9008. Nosso selo de qualidade!