sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Entendeu?

A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
(Mário Quintana)

Entre o emissor da mensagem e o receptor da mensagem, há um universo de possibilidades.
Quem escreve em blogs sabe o que é isso.
Nem sempre o que se quer dizer é o que é dito.
Cada cabeça é uma sentença, como já dizem por aí. A viagem que o sentido faz até ser decodificado, é cheia de curvas e morros, de rios e vales. Quem cria e publica suas obras, deve ter desapego. Há que se desprender até daquilo que intencionalmente era para ser sem sentido. Uma vez no mundo, o significado do texto não tem propriedade. Seu autor o elabora, lê, relê, corta palavras, insere outras, edita, registra e coisa e tal. Mas é impossível obter direitos sobre o significado, sobre a interpretação, sobre os desdobramentos da própria criação.
Às vezes, por mais objetivo que se queira ser, o texto para a outra pessoa pode ser cheio de entrelinhas.
É então que se começa a garimpar o sentido de tudo o que não foi dito, fazendo com que o receptor crie um novo texto só de entrelinhas não intencionais. Há também a hipótese de se criar uma entrelinha e ninguém percebe-la ali! É a hora de explicitar a intenção e preencher as lacunas com notas explicativas. Eu faço isso quando sou mal interpretada!Rs.
Um texto não termina depois de publicado. Ele se prolonga na imensidão de seus significados ou não significados. Em blogs, certos comentários são até maiores do que o texto comentado!
Também há as canções. Confesso nem sempre entender certas letras e outras eu apenas digo: Isso não era pra ter sentido.
Alguém me explica o que são “segredos de liquidificador” que o Cazuza colocou na música? É algo tão dilacerado que é impossível juntar?
E “Zabelê, Zumbi, Besouro /Vespa fabricando mel /Guardo teu tesouro Jóia marrom /Raça como nossa cor”?
Eu só fui entender que "Lágrimas e Chuvas" do Leoni era sobre suicídio depois que ele falou numa entrevista.
Dispersões também podem ser provocadas por melodias que fazem a gente dançar alegremente por algo triste, como “Eu só quero um xodó”, do Dominguinhos. Acordes menores são mais melancólicos, os maiores são mais alegres. Nem sempre.
Recebi em uma missa de sétimo dia aqueles santinhos que a família distribui. Nele havia o retrato do nosso amigo e aquela música do Tim Maia: "Gostava tanto de você". Não sei porque você se foi, quantas saudades eu senti... Desabei a chorar, eu que nunca havia pensado na música assim.
E o Pato Fu, meu Deus! Certas letras eu acho bricolagem e fico tentando entender.
Será que é em vão?
De repente o significado está mesmo no vão.
Obvio ou subjetivo demais, o fato é que a arte de escrever e ler, é e sempre será bela, porque nunca se completa por ser o próprio caminho.
Entendeu?

sábado, 24 de janeiro de 2009

As the world falls down...

"toda vez que falta luz
toda vez que algo nos falta
o invisível nos salta aos olhos"


A ponte sobre o Rio Doce caiu.
O teto da igreja caiu.
As últimas mentiras estão caindo.
As maçãs continuarão caindo.
Toda criança cai um dia, enquanto ainda é criança.
Dentes de leite caem todos.
Um dia, os juros caem, caem também os reis.
As leis se manifestam em nossas vidas, as leis e suas gravidades.
Para os justos e os injustos.
E eu, transpondo o sábado, temo por minha saúde que agora quer cair também.
A febre, a dor, a insônia, os planos para o futuro...
Você, meu amor, tem o meu coração inteiro, mas eu sou fogo.
“O fogo ilumina muito por muito pouco tempo.”
Espero que me perdoe quando minhas palavras doces ferirem mais do que as verdades que guardei pra nunca dizer.
Eu me sinto como se a qualquer momento o Darth Vader fosse chegar dizendo que é o meu pai. Ou que o Al Pacino, como o pai do advogado do Diabo (!!).
E então eu teria um gene problemático, não é?
Sempre foi tão mais fácil não ser bom.
Mas eu venho resistindo, amor.
Enquanto eu acreditar em qualquer coisa de luz que houver em mim, em nós, enquanto houver qualquer estrelinha de brinquedo que brilha no escuro.
Eu não sei o que faço com minha vida.
Eu não sei o que vai ser de nós.
Os Engenheiros me dão pistas, assim como David Bowie.
Preciso escovar os dentes para fugir das cáries.
Preciso apagar a luz e acender novas idéias.
Pensar não é preciso.
Viver muito menos.
Amar é cair de certa maneira num precipício.
Bem vindo, domingo, enquanto cai o mundo.
*
"todos os dias eu venho ao mesmo lugar
às vezes fica longe, difícil de encontrar
mas, quando o neon é bom
toda noite é noite de luar"
*

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Baboseiras sem fim de tardias crises existenciais, enquanto na floresta os índios exportam o pau brasil.

Hoje, acho que o principal é o movimento.
As direções são de importância secundária, uma vez que derivam do próprio movimento. Se você não jogar os dados, não saberá quantas casas deve andar. Não saberá se terá que esperar a sua vez ou se terá que retornar ao início.
Eu sei que nossas vidas são muito mais que um jogo, o que não me impede de fazer certas comparações.
Toda teoria sobre a atração, o universo conspirando a nosso favor, depende do movimento. É só um passo que damos e o resto acontece por conseqüência.
E agora que as engrenagens reiniciam seus trabalhos em minha vida, meu coração se aperta. Não era isso o que eu queria o tempo inteiro?!
Eu não posso seguir duas direções ao mesmo tempo. Não sob o meu ponto de vista.
A gente chega numa encruzilhada e encontra uma caixa aberta cheia de alternativas. Podemos escolher apenas uma. A vida às vezes é uma prova fechada!
E é só de fachada que isso não me afeta. Sim, porque seria tudo um pouco mais fácil se cada escolha não implicasse em uma renúncia. Seria tudo mais fácil se existisse um livro de receitas que ensinasse as prioridades. Para mim, por diversas vezes, o prioritário perdeu a importância pelo caminho. Seria uma mentira - se com tudo o que hoje sei - eu dissesse que faria tudo da mesma forma. Uma ova, eu ia fazer muita coisa de uma maneira diferente. Mas sabe, acho que certos erros se repetem.
Eu ainda continuo não sabendo de nada, embora ache que o principal é o movimento!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Muito pouco

De manhã ela toma seu café quente e fresco...

Você quer sim, que eu diga palavras bonitas.
Eu sei o caminho que os seus ouvidos querem fazer.
Mas minha passagem está comprada para outro destino.
Além disso que sou, não há nada melhor que eu possa ser
sem ferir o que quero.
Sem seguir ao contrário, meio contrariada.
A verdade é mais pura dentro do meu território.
Você quer sim, que eu deixe de ler as legendas.
Eu sei exatamente as dificuldades que queremos evitar.
Sei também que nem todo atalho é seguro e mais fácil.
Aprendi com as mais belas histórias, cheias de caçadores e lobos.
Já deu pra perceber que gosto dos desvios e de subir os morros.
Você consegue me ver fora de uma confusão?!
Queria ter novos pensamentos, atrair coisas diferentes.
Mas viver é bem mais do que lei de atração.
É distração de vez em quando.
E uma falta de linearidade.
É uma antítese convivendo pacificamente com todas as teses.
O sopro que apaga as velas deve ser o mesmo que leva de mim
a mais firme certeza.
O absoluto é só um espectro.
Tudo o mais, é arco-íris.
Você diz que eu sei muito sobre tudo.
Tudo o que sei é muito pouco.
E agora?
Onde é que eu vou enfiar todos esses acentos?
Por favor, não me responda.
Certos verbos não têm lirismo nenhum...