Sou cristã.
Sou aprendiz das lições do Cristo.
Amo Jesus com todas as forças do meu coração, mesmo que tudo o que eu consiga vivenciar de seus ensinamentos seja apenas uma pequena parte, ínfima parte...
Já li as cartas de Paulo, inclusive as polêmicas cartas aos romanos e procurei saber das traduções menos afetadas, mais fiés ao vernáculo em que foram escritas. Foi preciso conhecer o pensamento do povo hebreu e dos gregos para concluir que um documento tão sublime não poderia embasar o assassinato da filósofa Hepatia, a desvalorização e submissão da mulher, o ódio aos homossexuais, aos cabeludos e nem a estigmatização de nenhum ser humano. De nenhum ser humano.
Mesmo assim, fico espantada com as interpretações que dão ao que é realmente sagrado (a essência e não o papel), com as manipulações, com todo o desvirtuamento que pretende tornar o amor algo menor, mesquinho e impuro.
As coisas que fazem em nome de Deus, de Jesus, de Paulo ou de qualquer um que serviu a humanidade em nome do Amor, não possuem ligação alguma com a caridade benfazeja, com o Bem, com o Belo, com o não julgar, com o oferecer a outra face, com o perdoar e com o servir.
As Cruzadas, a Inquisição, a negação da ciência, o preconceito, o vilipêndio, os julgamentos sumários, as condenações sumárias e outras diversas formas de ignorância, são atitudes que distanciam o homem de Deus ao invés de reconduzi-lo. É assim que geramos um deus à NOSSA imagem e semelhança e o deixamos agonizar em nossas mãos, morto lentamente pela corrosão de uma fé arbitrária e delirante.
A Religião não seria necessária se fôssemos perfeitos. Ela serve apenas de muleta para quem não consegue ainda caminhar sozinho, ser dono do próprio destino e ter autonomia para fazer escolhas sem afetar negativamente a vida do seu próximo.
Madre Tereza entendeu isso quando se livrou de qualquer rótulo religioso e percebeu que sua maior religião era seu próximo. Era o outro.
Nós outros mal exergamos o outro. Nós outros somos mancos e carecemos dessas muletas.
Nós outros mal exergamos o outro. Nós outros somos mancos e carecemos dessas muletas.
De qualquer forma, a religião fez mais bem ao mundo do que o materialismo e é por isso mesmo que não consigo entender... Não entendo em qual parte do caminho nós nos aprisionamos, nós nos escravizamos assim.
A religião deveria nos libertar, deveria nos oferecer ampla vista, deveria nos estimular a melhorar o mundo, a melhorar a nós mesmos, acabar com as guerras e os protocolos, os cárceres do mundo e os cárceres íntimos. Deveria fazer o filho confiar nos pais e vice-versa, deveria nos unir, mostrar que somos todos da mesma família universal e que por isso mesmo deveríamos nos amar, procurar nos entender e estender a mão para aquele que ainda não consegue caminhar sozinho, para aquele que ainda enfrenta inúmeras dificuldades. Estender a mão como já fizeram conosco tantas, tantas vezes.
A Religião deveria nos mostrar que a Ciência é uma expressão divina que nos conduz ao progresso, por mais que as perguntas se multipliquem a cada resposta encontrada. A religião deveria tornar evidente toda a ciência contida nos ensinamentos evangélicos, explicando com racionalidade os aparentes absurdos e assumindo os erros propositais cometidos por homens comuns e não negar o que é difícil de entender.
A função da religião deveria ser (e é!) nos religar a algo maior, a Deus, Alah, Força que Rege o Universo, Inteligência Suprema, Elohim, Causa Primária de Todas as Coisas, Jeová ou qualquer outra denominação que nos remeta ao Amor.
Então porque as pessoas (tão religiosas!) querem privatizar a verdade e o amor e após privatizar, tributar aquele que ousa sentir? Por que privilegiar um povo, tachar quem não foi eleito, emburrecer as massas, separar os diferentes e deletá-los do caminho da redenção? Por que distanciar do nosso irmão que o sangue nos ofereceu quando ele pensa diferente de nós? Por que tanto escarcéu e guerra se nem o próprio Jesus lançou qualquer olhar de reprovação a Pedro em suas mancadas, a Judas em seu engano ou à turba (burra) que o crucificou?
Por que tantos insistem em enxergar o próximo como inimigo, como anomalia e não como irmão?
(...)
(...)
Pecar significa errar o alvo.
Pelo que vejo, muitos do povo de Deus estão acertando a borda.
Ou o ar ao redor...
*
*
PODRES PODERES
Caetano Veloso
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...
Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...
Será que nunca faremo senão confirmar
A incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...
Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...
*
*
PODRES PODERES
Caetano Veloso
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Motos e fuscas avançam
Os sinais vermelhos
E perdem os verdes
Somos uns boçais...
Queria querer gritar
Setecentas mil vezes
Como são lindos
Como são lindos os burgueses
E os japoneses
Mas tudo é muito mais...
Será que nunca faremo senão confirmar
A incompetência da América católica
Que sempre precisará de ridículos tiranos
Será, será, que será?
Que será, que será?
Será que esta minha estúpida retórica
Terá que soar
Terá que se ouvir
Por mais zil anos...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Índios e padres e bichas
Negros e mulheres
E adolescentes
Fazem o carnaval...
Queria querer cantar
Afinado com eles
Silenciar em respeito
Ao seu transe num êxtase
Ser indecente
Mas tudo é muito mau...
Ou então cada paisano
E cada capataz
Com sua burrice fará
Jorrar sangue demais
Nos pantanais, nas cidades
Caatingas e nos gerais
Será que apenas
Os hermetismos pascoais
E os tons, os mil tons
Seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão
Dessas trevas e nada mais...
Enquanto os homens exercem
Seus podres poderes
Morrer e matar de fome
De raiva e de sede
São tantas vezes
Gestos naturais...
Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo
Indo e mais fundo
Tins e bens e tais...