segunda-feira, 24 de junho de 2013

O FUTURO ACABOU DE ACABAR


A lua estava tão perto e tão cheia de tudo
explodindo e rindo, dando gargalhadas
enquanto daqui eu a contemplava
sem ver tanto tamanho no que ela era
sem saber ao certo a medida exata das coisas:
sempre fica um ,0058
que a gente quer arredondar
Eu não gosto de comer a ponta do pão
e a ponta da salsicha jogo pro cachorro
Não fiz um cartaz e não sei o que reivindicar
enquanto fazem por mim o almoço
vou comer quando a fome matar
vou morrer quando a hora chegar
mas por ora, não posso me pronunciar
pra não correr o risco de dizer bobagens
pra não matar no útero verbal
o que poderia nascer de bom
Fico aqui fazendo o que me cabe, onde alcanço
fazendo o que acredito e vejo florescer.  

Precisamos semear e isso é tão urgente...

Americana Pátria, morena  
Quiero tener Guitarra y canto libre  
En tu amanecer.
(Semeadura de Vitor Ramil) 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

ATALHO

Então desceu dos céus um cometa fulgurante que espatifou o asteróide pequeno que todos chamam de Terra.

E o problema foi parcialmente resolvido.

FIM

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Música incidental: 

Parabéns, ó brasileiros!
Já, com garbo varonil.
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.

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Resplandece a do Brasil? Deve ser por causa das dimensões continentais. De qualquer jeito, o cometa... 
Enfim!

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Estrelinhas para Zé Ramalho, Evaristo da Veiga e D.Pedro I

terça-feira, 11 de junho de 2013

CORAÇÃO RAMALHETE

Pois é...
Os fatos me anestesiaram e eu parei de sentir saudades.
Vez ou outra, quando ouço uma frase ou uma música, as lembranças tomam primeiro plano e nasce um sorriso que morre logo nas reticências do ato.
Alguém me disse que não sou uma boa amiga.
Eu só acho que não tenho apegos.
As pessoas passam. Sentimentos se intensificam quando as pessoas são constantes e cotidianas. A convivência as torna tão essenciais! Merecem nosso afeto, declarações, gratidão, mensagens de texto, e-mails gigantes, ligação pra falar sobre nada. Não possuo facebook e isso me distancia ainda mais do presente frenético que nos envolve e  nos aproxima. (Será?) Ver suas fotos e frases talvez não surta o mesmo efeito do que estar em suas fotos e frases! Acreditamos na distância entre nós.
A vida é repleta de caminhos e em certos momentos tomamos rumos diferentes, vamos pra longe, conhecemos outras pessoas e estreitamos outros laços, pela vontade ou pela necessidade, consequência das escolhas que fizemos.. As vezes velhos amigos se reencontram e percebem o quanto mudaram. Quantos filmes deixamos de ver juntos no cinema? Quantas coisas deixei de cozinhar pra vocês? Há quanto tempo eu não ligo no seu aniversário? Quantas notícias você deixou de saber e que agora tanto faz? Quantos interesses mudaram?
Meu amigo, meus amigos, que nem visitam mais ou nunca visitaram esse blog, ninguém deixou de ser importante. O tempo é como âmbar que preserva o que se passou, o amor que desenvolvemos juntos. 
Na arqueologia de minha vida, a amizade que houve é fóssil que descreve nossa história e relata a importância de uma época. O que estiver por vir nos reencontros, é outra forma de vida com o código genético originado em nosso passado, forte, bela e estranhamente nova.
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Estrelinhas para A Lista do Oswaldo Montenegro e para o Clube da Esquina

terça-feira, 4 de junho de 2013

CÉU - DE ONDE SAI O DIA

A criança que fui era como uma jujuba verde.
Alguns gostam, mas a maioria rechaça.
Eu montava o mundo com as peças erradas e achava impressionante o mundo simplesmente entender o contrário do que eu entendia. O meu óbvio era um absurdo para os outros e foi por sorte (ou mérito) que tive uma família que decodificava meus absurdos e os transformavam em algo normal.
Ocorre, que a verdade está la fora.
Demorei muito para aprender algumas coisas.
Aprendi a duras penas o significado da palavra depois.
Fiz um pedido de manhã e me responderam: depois.
Esperei tanto esse depois... Quando o pedido foi atendido, o sol já desaparecia no horizonte.
Passei muito tempo da minha infância acreditando que "depois" era o pôr do sol.
- Olha mãe, que depois bonito!
Outra vez era perguntar pra onde meu pai estava indo.
Ele dizia: Pra China.
Um dia, de tanto insistirmos, meu pai levou a mim e ao meu irmão pra China.
- Pai, leva nós na China?
- Paaaai, nós qué i pra China também.
(sic)
E ele levou. Era uma bica no meio do mato, a uns 10 km da nossa casa.
A gente enchia o cantilzinho de água e voltava pra casa. 
Lembro de que lá havia  2 vira-latas, um caramelo e um preto.
Cachorros da China que nunca pudemos levar pra casa.
Eu adorava ir pra China, sem carimbos e passaportes, só o velho passat.
Outras vezes via o Jornal Nacional e quando eles falavam de conflitos, eu achava que cada país era uma bola girando no espaço e que se um brigasse com o outro, ia sair um monte de bolinhas da bola maior, como pedras arremessadas. Não sabia distinguir países e planetas. Pra mim tudo era uma bola colorida girando no espaço cheio de estrelas e de problemas.
O pior pra mim foi o ingreso na escola.
Foi a coisa mais mágica e mais sofrida que aconteceu nos meus 5 anos.
Eu e o meu irmão não fizemos o maternal. Entramos direto no pré, hoje 3º período, pois somos do início do ano.
Nós já sabíamos ler, mas eu não sabia socializar.
Meus colegas não sabiam ler, mas sabiam o mundo.
Um dia a professora pediu que fizéssemos tiras.
Quando ela disse "tiras", me deu uma angústia enorme.
Olhei para os lados e vi que meus colegas cortavam o papel parecendo batata frita. 
Pensei preocupada:
Nossa eles vão fazer um tanto de tiras. Eu não sei fazer nenhum direito.
Naquele momento, comecei a fazer o melhor desenho que podia em um pequeno espaço.
Fiz o quepe, o uniforme, o distintivo e o revólver.
Depois fiz outro e outro.
E a professora veio perguntar o que havia de errado comigo:
- Por que você não está fazendo tirinhas como todos? Agora não é hora de desenhar.
Falei que fiz sim e mostrei o desenho dos tiras. (Na minha cabeça só lembrava das frases de A Gata e o Rato).
Ela pegou e levou embora. Disse que tava errado.
Me deu outro papel e pediu pra eu fazer de novo.
Fique sentada em minha carteira com a tesoura na mão e o papel na outra.
Estava um pouco aliviada de não ter que desenhar policiais (eu ainda não desenhava bem e isso nunca mudou muito!), mas também decepcionada de saber que minha missão era fazer um monte de batatas fritas sem graça.
E assim a gente começa a descobrir que uma palavra pode significar mais de uma coisa e que se você não entender as coisas direito, a professora vai acabar achando que seu pai tem problemas com a polícia.



Legal ver:
http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/dicionario-feito-por-criancas-revela-a-adultos-um-mundo-que-ja-esqueceram/