sexta-feira, 16 de agosto de 2013

NEM OTÁVIO CESAR AUGUSTO...


Aperte nossos corações com as mãos
para que o sangue que verter
possa lavar nossa consciência.
Aperte mais, quebre nossos ossos
e que o pó de nossas dores
integre a química de sua
redenção.

Que assim seja.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

--- A SOLIDÃO VAI ME MATAR DE DOR --- (1º da série A 4 MÃOS)

                                                               
Era um barulho de chave destrancando a porta, antecedendo aqueles passos curtos.
Era um escuro e frio sentimento a rodear o corpo inerte, a cama.
Era ela ali, enquanto ele entrava.
Nenhum dos dois sabia explicações, mas ele ainda ousava questionar.
Já para ela o destino é fato. Se entregaria sem reclamações.
A velha angústia já não existia, pois embora não soubesse como, há tempos descobrira o porquê.
Ele, aflito, consultava a ciência, a medicina e todos os pajés.
Sua esposa desaparecia: um dia as mãos, em breve, o braço, o tronco.
Perdeu a perna esquerda e um dos pés.
A urgência o acometia, queria ter a fórmula alquimista pra desvendar o mal e o reverter, trazer de volta a mulher que havia: era tão mansa e a vida resolvia.
Café na mesa, almoço e jantar. A casa limpa e sempre perfumada.
Os filhos que nunca puderam ter.
As tentativas e as tentações que ele costumava atender.
Agora tudo isso era nada.
Enquanto ela, nada se tornava. Ali na cama, ali sem ter razão.
Nenhuma lágrima, nenhum lamento.
Ele sofria de arrependimento e ela era a resignação.
O vento veio soprar da janela e dentro dela a solidão passou.
Era o instante breve e derradeiro:
- Meu bem, farei de tudo o que puder.
Já o silêncio dela era cortante e aquele corpo, esboço de mulher
Ele dizia, mas tinha certeza que não havia muito o que fazer.
Tocou em seus cabelos com ternura e lentamente fez um cafuné.
Ela sentiu certo vigor na alma e seu semblante então se alegrou.
Pretendeu ele segurar o tempo, confessar os erros e se redimir.
O tempo nunca para e as confissões não tinham o poder de reparar.
Era chegada a hora de partir.
A despedida foi um benefício para impedir seu enlouquecimento.
Ele não soube por um só momento porque a moça desaparecia.
Se soubesse, o que ele faria?
Se lembrasse de todas as vezes em que ele a tornara invisível.
O seu desdém a um amor incrível e a todo zelo que ele recebeu, causou na moça estranha doença de sintomas significativos.
Aquele moço entrou em desespero, buscou a cura em todos os lugares, pensou em morte, em mudar de ares, mas não pensou exato o que devia. A culpa o açoitava toda noite. O remorso vem durante o dia.
Sua esposa era seu espelho, seu casamento, um tipo de magia.
De novo olhou e ela ia embora. O sorriso desapareceu.
Ele soube o que perderia e pensou em lhe pedir perdão por não amá-la.
E ela sabia.


Série A 4 MÃOS é um desafio onde alguém sugere o tema e o outro escreve. Nesse texto, a sugeriu o tema e eu escrevi. Eu já a desfiei a falar sobre um contador que na proximidade da aposentadoria resolve mudar de vida... Vamos ver no que dá!!!! Aceita-se desafios!!!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

SILHUETA

De tempos em tempos faço acordos de paz com o espelho. E de tempos em tempos quebro as promessas.
Um dia resolvi que meu corpo seria respeitado.
Fui fazer natação.
Havia um grupo de bombeiros na mesma turma que eu. Quando cheguei, o professor perguntou o que eu sabia sobre nadar.
Eu disse: Nada
E ele disse: Nade!
E eu nadei do jeito que achei que fosse o certo e até me surpreendi quando uns dois carinhas daquele grupo de bombeiros pularam na água e vieram me puxar pra beira.
- Olhei pra eles com cara de "meu Deus, que isso?", pensando que eu deveria ter nadado muito mal para eles quererem me tirar da piscina.
E eles:
- A gente achou que você estava se afogando! Desculpa, moça.
Onfs.. Que vergonha!!! Minha primeira performance náutica e os caras pensam que estou me afogando. 
Persisti, no entanto!
Com o tempo fiz 25 metros, depois 50, 75... 
Quando eu estava quase completando os 100 metros sem parar, chegou o natal.
E se as andorinhas voltaram, eu nunca mais voltei para aquela piscina. Por 50 motivos diferentes.

Mas não desisti do movimento. Fiz comigo o compromisso de dar voltas ao redor da lagoa. Levo 45 minutos para completar 3 voltas, embora eu sempre queira ir embora na segunda volta!! O que ocorre, meus caros, é que aquela orla faz pilhagens com os cidadãos comprometidos que circulam por ali.
Tanta gente se esforçando, suando, marcando a pressão e tals e a lagoa,  cercada por suas sorveterias, pastelaria e outras rias , ri de todos, debocha dos meus derrames. Sim, sofri um derrame. Tem pele derramando sobre a calça. Derrame sabor pera!!
Se bobear, compro a Michelin. Nem precisa mudar o nome fantasia.
Mesmo assim, nesses cinco meses de caminhada na lagoa, as 6 vezes em que lá compareci foram muito válidas!! Não estou perdendo o peso, mas a disposição some rapidinho.  É impressionante.

Agora comecei outra viagem aeróbica.
É um aparelhinho completo, o tal do elíptico, que exercita pernas (coxa e panturrilha), quadril, cintura, braços e glúteos!! Porque no meu pacote tem que estar escrito: Contém glúteos!
Pensei: Movimentar esse tanto de coisa em um único aparelhinho é funcional e prático demais, gente!! E dentro de casa. É nisso que vou!

Comecei toda animadinha, tendo como meta não me esforçar demais no início.
- Vamo na humildade. Meia hora tá de bom tamanho por hoje!!
Então lá foi eu, disposta, atlética, querendo endorfina circulando dentro de mim.
E então o tempo veio me sacanear.
Estou lá no esforço gigantesco, bufando, ofegante e penso: Já devem ter se passado uns 20 minutos...
Visualizo o relógio: CINCO minutos apenas, constatei incrédula. 5?!
Quando deu 10 minutos eu queria água.
Deu quinze eu queria tempo pra descansar.
Deu 16, comecei a querer minha mãe!!
E minha personal mais que particular dizendo: Vamo, vamo, não para.
E eu já queria chorar.
20 minutos???
-  Ah, fala sério. Esse relógio quebrou. O ponteiro agarrou no 20.
- O relógio é digital, Michele.
- (...)
Naquela altura, eu já começava a ter vertigens, ter visões de primavera. Acho que cheguei a ver os ursinhos carinhosos...
Juro que se eu estivesse sozinha, teria parado, mas a personal recitava o mantra do vamo, vamo!! Só vai parar nos 30 minutos. Vamo, vamo.
Olhei de novo o relógio: 21 minutos.
Comecei a querer que a hora passasse no grito e acho que cheguei a acreditar que passaria mesmo.
Por segundos eu gritei: Passa, idiota, passa.
(Pensa, chamar o tempo de idiota...)
Por fim, deu 22 minutos.
Tirei as mãos, fiquei movimentando somente as pernas no aparelho.
Personal olhou, voltei com os braços e mãos.
23 minutos.
Parei e respirei. Manifestei meu desejo de desistir. Desejo indeferido!
Ela tirou o relógio de perto de mim.
Comecei a contar o tempo mentalmente. Quando deu 30 minutos e tive ímpetos de festejar, ouvi a frase mais intimidadora do dia:
- Continue aí. Você parou muito, perdeu o ritmo. Mais 1 minuto para compensar. Vamo, vamo.
Aí eu corri. Nó, que raiva. Aumentei meu ritmo, acelerei, quase deu um curto circuito em mim.
Quando parou, nem havia mais alegria. Saí do aparelho, disse à personal algumas palavras sem nexo, porque a língua enrolou na boca, dei alguns passos e desmaiei.
Desmaiei mesmo, que nem o cachorrinho chihuahua do meu amigo Renato depois que cruzava com uma pinscher. Ele colocava a língua pra fora e desmaiava! 
Quando recobrei a consciência, determinei que 15 minutos talvez  sejam suficientes amanhã.
Ou presenciarei o apocaelíptico!!!

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A RODA DO OLEIRO


Hoje são mais teclados e dispositivos.
São mais horários e menos tempo.
A massa aumenta os números gradativamente.
Já não são os mesmos sonhos.
Mas a coisa humana de compartilhar o mundo,
de fazer conexões entre a minha, a sua, a nossa energia,
continua sendo a causa e a consequência 
de tudo o que faz sentido 
quando cessam as explicações.



quinta-feira, 1 de agosto de 2013

JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO

Querido Charles,

Se eu soubesse de antemão que haveríamos de parar onde chegamos, teria tomado um outro trem. Existem coisas das quais não me arrependo, o que não significa que faria novamente do mesmo modo.
Ao conhecer-te, pude senti meus órgãos reagindo à tua presença.
Eu pude sentir meu coração, meu estômago, minhas mãos e minhas pernas reagindo ao simples pensamento em ti. Eu pude sentir minha ânsia, minha vontade que sairia rompendo portas, atravessando paredes por ti e mesmo assim eu não poderia imaginar que ficaria pequena demais diante desse sentimento.
Se no início pude controlar, pude andar como me apetecia, dediquei muitas noites de insônia à tua existência. Se no início eu pude sentir o frescor das novidades, no fim eu poderia apenas sentir o pesar lancinante de tua partida de mim, de dias sangrando, de esperanças destroçadas. Uma rosa tão rara que entregamos a alguém com tanta sinceridade não espera ser destruída pelas mãos que a recebem.
O que não quero, meu querido, é que te sintas um monstro, como cheguei a te acusar. Se puderes, perdoe-me. Naquele momento a besta existia, entretanto, dentro de mim e queria destruir. Eu a controlei, juro que a controlei. Não pude, no entanto, deter seus urros, suas palavras, suas lágrimas.
Hoje, sob o céu onde na torpeza dos sentidos tu batizaste uma estrela com meu nome, percebo que vivencio um momento grandioso. 
Quero chamar-te pelos melhores vocativos. Quero dedicar-te os melhores pensamentos. 
Quero crescer mais do que o ódio incômodo que um dia pretendeu fazer morada em mim.
Não se imagina, Charles, que um sentimento tão bonito e terno possa um dia nos esmagar.
E nem se imagina que desse desterro que é o abandono possam nascer outros gigantes.

                                                                                            Perdoo-te.

                                                                                                               Emma