quinta-feira, 14 de novembro de 2013
terça-feira, 5 de novembro de 2013
O açúcar mais doce
As promessas de eternidade são mais um desejo de prolongar a sensação e os sentimentos de um determinado momento do que a vontade de estar junto a alguém eternamente de fato.
As pessoas são metamórficas e as promessas são feitas quando estão entorpecidas de felicidade e cheias de conflitos ocultos. E a felicidade é tão
transitória quanto nossas palavras.
Ao longo do tempo a gente vai perdendo os movimentos, como
um brinquedo com cheiro de plástico novo que envelhece e é doado junto com
outras sucatas, na esperança de fazer alguma criança feliz.
Com alguma sorte, são doados apenas porque envelhecem ou porque as crianças crescem e mudam o interesse. Basta que o tempo envolva os antigos donos com segredos e novas paisagens para que os brinquedos, mesmo
inteiros, sejam descartados.
O descarte de um brinquedo não tira a importância do passado
em que ele significou muito e nem a eternidade comportada em um sorriso ou em
uma brincadeira de cinco minutos.
Ultrapassando a linha não muito tênue que nos separa das
metáforas com brinquedos e dentro da lógica do Hugo Cabret, é raro chegarmos
aos 30 sem faltar uma peça, ou sem reajustes, up grades ou super bonder
prendendo um braço no tronco ou a cabeça no pescoço.
A gente se arrebenta entre as eternidades e a vida que
transcorre em um universo que parece mais paralelo do que sobreposto, nos posiciona em lugares que não eram nosso destino inicial. A
gente, sem perceber, vai se dilacerando
aos pouquinhos e solta a mão do outro em partes importantes do caminho.
A gente dá a mão para outras pessoas, a gente se aventura e
a gente retorna ao ponto íntimo de partida, procurando sentido para tudo o que
fizemos.
É engraçado como juras antigas se transformam em disputas
jurídicas por filhos, carros, casas ou panelas. Como beijos ardentes podem se
transformar em hematomas no corpo, cortes no peito, sangue vertendo no quarto escuro ou num bar qualquer. Como uma assinatura no
cartório num dia feliz de arroz e amor pode nos deixar apartados e desgastados pelo tempo, pelas mágoas, pelas
palavras que dissemos e pelas que deixamos de dizer. Isso retalha nossos filhos, por mais que seja comum e
corriqueiro.
Deixamos morrer uma coisa bonita e precisamos continuar,
buscar outros significados e outras eternidades para caber numa pedaço finito
do nosso coração. A ilusória expansão desse pedaço finito origina as promessas e promessas não podem ser cumpridas sem que estejamos habilitados e dispostos a fazer a manutenção do amor.
Onde não há manutenção do amor, crescem outras ervas, outras
eiras, outras pessoas, novos conflitos e novos débitos e as promessas são destroçadas, viram pó, adubo para alguma outra flor crescer no solo da desilusão.Onde o amor não é mantido, a eternidade tem a duração de um chiclete sem açúcar.
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