terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Do jeito que você faz

Você andava rápido em minha frente.

Eu apressava o meu passo atrás de você.
Talvez fosse melhor deixar você ir, esfriar a cabeça.
Talvez fosse melhor te puxar pelo braço, te pedir pra relevar.
Talvez fosse melhor comprar um chocolate.
Eu não sabia o que fazer, só sabia que era péssimo te desapontar.
Eu havia me atrasado e pra variar, meu celular estava sem bateria, nem deu pra te avisar.
Enquanto andava, reprimia a criança chorona que queria se desculpar.
Você pára e olha pra cima.
Eu paro perto e olho pra baixo.

- Puxa, amor, não é a primeira vez...

Eu abro os braços, naquela expressão de que “não tenho culpa”!
Como eu ia explicar todos os fatos que me conduziram até ali e causaram meu atraso.
Parecia invenção, parecia ridículo.
Você suspira.
Eu gelo.

Então você diz – deixa pra lá – e me abraça ali mesmo, no meio da rua.

Eu fico surpresa como alguém que vai morder uma cebola e sente gosto de maçã.
Você sempre desestrutura meu coração e quando me preparo para o nocaute, você me afaga.
Surpresa, te aperto entre meus braços, meio zonza, meio agradecida.

- Quero explicar -  eu digo.

- Eu ainda estou chateada..O filme sai de cartaz hoje, você sabia disso.

- Desculpa mesmo. É que as circunstâncias me adotaram.

- Isso acontece porque você tem que se organizar. Contratempos não assaltam quem se organiza, amor.

Quando você fala isso com ternura, você aplaca o desconforto e me faz querer melhorar. Eu sinto que tem razão. Eu sei que tem razão.

- Te devo uma sessão de cinema.

- Não se preocupe! Você vai pagar com juros. Juro!!!

- Ou meu nome vai pro seu SPC!

- Vai sim.

- Eu posso começar a pagar os juros hoje mesmo.

- Sério? E o que você tem em mente?

- Você!

Sorrimos com cumplicidade.
Selamos a paz com um beijo selado.
Nós vamos embora. Você sabe que eu vou explicar o que aconteceu. Eu sei que você vai me ouvir.
Você sabe que vou cometer outros erros parecidos, mas sabe também que vou me esforçar pra não errar. Eu sei que isso ainda te chateia. Você sabe que estou me martirizando por dentro. 
A gente sabe muitas coisas a nosso respeito.

*****
Muitas vezes as discussões surgem porque as pessoas reagem ao invés de agir. Não dão ao outro o benefício da dúvida, e logo condenam e sentenciam sumariamente.
A mentira nasce do medo das condenações.
Mesmo a mentira sem necessidade, que oculta fatos que poderiam ser facilmente compreendidos.
Quando agimos (ao invés de reagir), nós controlamos a situação e fazemos com que todos mantenham a serenidade, mesmo que sacrifiquemos alguns sentimentos incômodos. 
Isso pode ser recompensado com a sinceridade da outra parte.


As Velhas Novas e Tortas Retas

No núcleo de cada tentativa de retorno ao blog, havia o desejo de algo notável e significativo.
Ocorre que o tempo adiado para o fundo do relógio, roça o pulso e penetra na corrente sanguínea, transformando o sangue venoso em uma espécie de combustível para a realidade. É nisso que a inspiração se esvai. É nisso que dá a intenção de transformar o velho layout em algo novo pra mim e desinteressante pra qualquer ser envolvido no mundo dos aplicativos rápidos e práticos.
As constelações se convertem em espinhas de peixe...
E a palavra se reveste de novo sentido, mesmo que contrário.
Quem ainda lê textos? Surpreende encontrar quem. Surpreende a vontade ainda ser resquício nas impressões digitais dos meus dedos. Estou aqui por mim, mas tenho apreço pelos feed backs.
E é com uma historinha de flash back que ressurjo das cinzas: o passado é cheio de novidades esquecidas.