sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Buracos na pista


Não sei se você já sentiu isso...
Como se houvesse um buraco negro dentro de você sugando toda a matéria e a antimatéria, e tudo o que for mais efêmero que o éter.

A revisão da vida inteira não faz tanto sentido quando acontece em poucos segundos e sem anestesia. Nem os prazos, os compromissos, a hora que passa e a dor mais pungente que doeu na semana passada têm significado.Você tinha gases e o resto de mertiolate no vidrinho... Mas não adiantava. Estava vencido há 3 meses e a ferida urgia.

A fenda do universo se amplia e você se lembra do dia em que sonhou que estava nu e acordou suando no meio da madrugada. Com tanta coisa pra se lembrar, você retorna a um momento tão desbotado e inútil que chega a ser um pouco patético.

Você se lembra daquelas figuras psicodélicas do Windows Media Player que te sugavam enquanto você ouvia Like a Stone do Audioslave e tentava formar suas impressões acerca do amor e da guerra.

Você se lembra de quando matou uma aula inteira pra ficar sozinho, sem fazer absolutamente nada na quadra em construção da faculdade, tentando trazer alguém para perto com a força do pensamento. E você errou o alvo.  Meu Deus, as paixões comuns fazem mesmo um estrago na gente e nem compensavam pelo tempo que duram.

Você se lembra de quando errou o caminho de volta pra casa e caminhou pelo escuro, rezando para chegar vivo e inteiro.

Quando recobra os sentidos, por uma força racional que te obriga a  manter o controle, você lamenta não ter se lembrado dos episódios onde tinha companhia, alegria e fogos de artifício.

É incrível como às vezes estamos sozinhos e eu lamento que o buraco esteja nos sugando e eu não posso te dar a mão.


Feliz Natal!

And on I read
Until the day was gone
And I sat in regret
Of all the things I've done
For all that I've blessed
And all that I've wronged
(Like a Stone, Audioslave)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Ploc

Se vendessem somente a poupa da jabuticaba (sem o caroço) em um copinho pra comer de colher, talvez eu não apreciasse tanto assim a fruta.  Eu gosto do "ploc" na boca.
Algumas coisas são assim, precisam do rito, do processo e do esforço para serem apreciadas e despertarem o ploc do gosto que pode haver em tudo.
O sabor nem sempre está na coisa, mas no todo ao redor.
... e se o sal for insípido, com o que se há de salgar?

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Um minuto avulso dentro do dia

Você sabe que eu me perdi.
Demorou tanto para reencontrar o caminho, que quando comecei a avistar as placas que indicavam nossa cidade, eu já era outra pessoa.
Você me reconheceu por alguns traços inconfundíveis, desses que nem o tempo e nem as circunstâncias depreciam ou transformam.
Mas eu sei que você olhava com desconfiança, como se eu estivesse sob torpor temporário ou interpretando alguma das minhas novelas imaginárias.
Não...
Era aquilo e só.
Eu era um produto, um resultado ou um "resto ou diferença".

Fiquei me sentindo como se me faltassem partes.
Estranhei as partes novas (...), no entanto é como dizem:
"Com o tempo a gente se acostuma."

Vejo as horas no rodapé da tela enquanto as músicas dos anos 80 me reconduzem ao presente.
O tempo não perdoa.

Quando os elétrons que orbitam todos os meus átomos desaparecem, pra onde será que eles vão?

Quanto mais eu demoro nessa janela, mais atrasada fico e a consciência do atraso não me faz mover quase nenhum músculo.

Procuro sustentar a lógica e encontrar qualquer pensamento que seja linear. Quem sabe eu possa ao menos ter a desculpa que preciso pra justificar minha ausência na sua caixa de e-mails, emitindo alguma nota fiscal ou na constância dos contatos?

Na verdade, nesse momento eu sei de tão pouca coisa.
Mas sinto coisas demais.

Ouvindo A-ha