
E minha cabeça abriga tantas dúvidas que daqui a pouco haverá revolução, guerra civil, luta pelo espaço cerebral, sentimental.
Quem ocupa mais memória ran dentro de mim? Minha saudade se mede em gigas, teras ou em metros cúbicos? Eu te amo daqui até a mais distante cratera da lua. Estou com saudades daqui até o planetóide longínquo da galáxia de Andrômeda, indo de burro e com dor de dente. É longe!
Você sabe quantos continentes há dentro de cada um de nós? Seremos a réplica da Terra? Um replicante contra Blade Runner?
Em vão a gente tenta encontrar um dispositivo, uma calculadora interna que nos forneça o número exato que resolva nossas ações e inequações.
Como o computador do primeiro volume do Mochileiro das Galáxias, cuja resposta para o segredo da vida, do universo e tudo o mais era 42. Simples assim! Esperamos milênios pela grande resposta e no final é 42. O que faremos com esses números?
Eu venho de longe, estou cansada, agitada, ferida, estou alegre, eufórica, estou triste, eu amo, odeio e minto, eu reconheço meus erros, eu emito desculpas, eu omito alguns fatos, eu escancaro as misérias.
Eu magoei e perdoei. Eu sofro e suplico, eu peço anestesias, eu peço pro sangue correr, fluir, eu me apaixono, eu devoro e sou ruminada. Tenho manias. Meu quarto é uma desordem, mas não suporto o quadro torto na parede, ou o tapete de entrada fora de esquadro.
Eu entendo os homicidas e os portadores de transtornos mentais, eu me assusto com o excesso de sensatez. Eu faço canções e ouço canções. Tenho orgasmos lendo Guimarães Rosa, e talvez seja tão estranha a ponto de gostar mais de uma frase bem feita do que de sexo.
Fico feliz quando vou à sorveteria, Eu erro caminhos. Dou referências bizarras, como "Esse lugar fica em frente a uma caçamba da Codesel e sempre tem uns meninos jogando peladinha no meio da rua.” Meu banco de dados é cheio de pastas a renomear e sempre trava pedindo login.
E tenho um aplicativo que diz: "Você quis dizer." Meu programa é muito mais complexo do que qualquer circuito japonês e desafia os milhões de números combinados que geram declarações de amor e de guerra, ou apenas vocativos comuns pra chamar atenção ou dar bom dia.
Mas meu cérebro pode ser reprogramado. Existem diversas correntes que defendem a mudança de minhas atitudes com uma simples troca na maneira de pensar. E enquanto penso, eu digo: I have feelings, como o Data do Jornada, como A Super Vick, como o menininho de AI, como o homem bicentenário do Robin Wilians, como tantos outros robôs que almejaram a nossa humanidade, enquanto eu muitas vezes desejei ter entrada USB!! E não façam piadas infames com isso! Mas até pra isso seria legal: Me passa um filho por bluetooth? Vamos compartilhar nossas vidas, nosso colchão e nossos arquivos?
Ainda não fiz o download de todas as informações que eu gostaria de ter e que tornariam nossa vida mais prática. E mesmo que eu seja a mais inexata medida de mim mesma, sem simetria e ordem, sem sistemas binários ou solares, eu preciso provar que não sou um robô e digitar caracteres aleatórios para meu comentário ser aprovado em uma página virtual.
É claro que eu não sou um robô! Olha pra mim.
Se eu fosse, já teria me programado para tudo que ainda não consigo fazer e faria mecanicamente tudo o que me custa esforço, suor e noites revirando na cama.
Mas... Tudo bem!
Quero que minhas palavras demasiadamente humanas sejam sentidas, por isso vou digitar os caracteres numa sequência de letras sem sentido e torcer para que não produzam efeito devastador e provoquem pane no sistema.
Gosto da sensação de esperar ser lida na serenidade da página enquanto o caos segue em frente com toda calma do mundo. (S.P!)