segunda-feira, 23 de novembro de 2015

MAL CONTATO


Foi um raio sem aviso prévio.
Queimou os aparelhos elétricos e disparou meu coração.
O dia está cobalto e está tudo bem.
Hoje não precisei ligar o ventilador e foi possível até pensar num origami de estrela para decorar a casa pro natal.
A lama chegou no mar e nós continuamos comprando bobagens doces na frente de caixa. Chocolates sedutores, MMs cheios de corantes alergênicos e até um tubo de super bonder que a gente nem precisava. Por que a gente tem disso, a gente humana. Mesmo se a água do mundo acabar, lutaremos como a Furiosa em Mad Max e vamos adiante num paradoxo onde o passo que prossegue desiste do caminho escolhido quando o horizonte era outro.
Nenhuma guerra mundial foi declarada e isso merece nossas preces. Tento manter meu íntimo em paz, e aí vem um raio com esse e é como uma pedra tacada no lago.
Tudo isso é tão frágil. Acho que a Terra é um planeta de mal contato onde a gente custa a ter constância.  Sobrevivemos fazendo downloads de um dia por vez pra ver quanto cabe de arquivo em nosso propósito de mudança, pra vencer os vícios e conseguir perdoar.
Só que tem uns dias em que algo sai do lugar e voltamos ao início, sofremos recaídas e mudamos pra não tão melhor assim. Abandonamos dietas, deixamos o caos se instalar nos cantos que prometemos deixar em ordem pra sempre, e aquele hábito estranho e tão determinantemente abandonado emerge como se fôssemos um pântano.
Mas não tem Hércules pra lutar contra a Hidra nesse pântano. 
Só tem nós com um cérebro que não entende “pra sempre” e nem “nunca mais”.

"Happiness, more or less
it`s just a change in me"
(Lucky Man - The Verve)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Um ruim muito ruim

É isso.
Você não prevê, mas acontece.
E é culpa sua.
Nem é necessário um agente do CSI pra concluir isso.
No momento, falo sobre cair no banheiro.
Mais especificamente, sobre cair nua.
É um ruim muito ruim.
Porque você está com pressa, que sair do banheiro e vestir sua roupa em tempo recorde, porque o relógio despertou e você estava num sono tão profundo que não conseguiu ouvir.
Um hora depois do que programou no despertador, você, como que chamada por um alguém invisível, abre os olhos, pega o celular, toma um susto com as horas e entra correndo no banho.
Tudo vai bem, até o momento em que você desliga o chuveiro, se prepara para pegar a toalha, mas escorrega e a "parábola glútea" encosta no ralo, fazendo pressão.
Nessa hora, nada importa mais.
O ralo é um dos lugares mais nojentos do mundo, mesmo se ele estiver muito limpo. E eu sou uma das pessoas mais neuróticas do mundo com coisas nojentas. Tem um bichinho dentro de mim que diz "argh" e vomita.
Então você levanta, toma outro banho, passa desinfetante na própria bunda, reza pra ter efeito sobre a celulite também, passa sabonete e praticamente toma outro banho.
Sai do banheiro, agora com calma -  já resignada com seu atraso - pega as coisas e descobre por fim que o ralo é o menor dos problemas do tombo.
Lamenta um pouco, porque ninguém é de ferro e vai pro trabalho mancando e dolorida!
Como dizia minha avó: o que é que vale isso daqui dez anos?
Pior que isso, a Ronda sofreu!
Enfim...






segunda-feira, 16 de novembro de 2015

COLAPSOS


Em alguns milhões de anos, por atrair Phobos para sua órbita, Marte a destruirá.
Aqui na Terra, o sol faz tudo parecer apocalíptico, com efeito mais imediato.
Pra variar, estamos em guerra! 
A gente olha o mundo e nossa órbita ocular engole as notícias, nos arrebatando do paraíso no qual brincávamos de poder. Venho contra a vontade, agarrando as maçanetas das portas como uma criança fazendo birra, querendo ficar onde está.
Então vem o mundo com o dedo em riste e diz que o que podemos não está relacionado com a destinação das grandezas, com a contenção da morte, dos gases, da tosse e da extinção dos satélites e estrelas. Há tantas coisas que não se pode evitar depois de previstas. (...)
Nos resta ver a onda crescer sobre nós e rezar para que o inevitável seja ao menos rápido ou indolor.
Não é a primeira vez que estamos na iminência de uma jihad, mas é a primeira vez que eu vejo o que era doce se acabar no leito de um rio e é a primeira vez que sinto tanto calor, a ponto de perder o sono e odiar os insetos. Não gosto de odiar a criação, mas há algo no ar que dificulta que eu ame plenamente.
Os insetos, os rios, o sol, vem da mesma fonte que venho, do mesmo "abracadabra" e é engraçado como nos destruímos uns aos outros para que a Lei se processe sobre nós, sobre o universo. Destruir é uma necessidade da evolução e pensar nisso requer pulmões!
Marte vai comer uma lua e nós morreremos de fome e de sede...
Mas isso não é pra agora.
Pra agora é o presente e o cotidiano. A gente segue adiante e sempre que houver motivos, celebraremos o que ainda existe de luz, comemoraremos os gols, os aniversários, os nascimentos, o fim do ano e com certeza, se pudermos, compraremos um pacote de lua de mel para alguma ilha vulcânica do planeta!!
Qual é a possibilidade de um plano assim acabar mal?
Afinal, o fim é só uma miragem de um deserto muito distante daqui.
É no que queremos crer.