Não que essas sejam as melhores palavras...
Às vezes a excelência está na brecha de silencio.
Às vezes a poesia se compreende na pausa do verso.
Às vezes a gente entende a vida quando cansados, paramos para recobrar o fôlego.
O próximo passo da caminhada é ressignificado e nada mais será do mesmo jeito dali pra diante.
É aqui onde me encontro. Em agonia diante de uma silenciosa página em branco.
Ela é uma mão estendida, uma convocação.
Ela insinua (embora nem sempre ensine) que podemos criar as coisas, sermos pequenos deuses preenchendo as lacunas da tela do mundo com nossa própria tinta.
O silêncio é um manifesto pregado na porta que nos conduz para dentro ou nos remete para fora, como força centrífuga, supernova.
Em qualquer desses movimentos, as coisas não deixam de existir, por mais que as olvidemos.
O sol continua brilhando por mais que meu coração se confranja em tempestades, temendo as guerras, os líderes, o câncer e as falsas promessas de bonança.
O câncer parece uma palavra mal escrita que me afeta mesmo que eu saiba ou suponha sua razão.
Eu posso estar cheia de palavras e sons, mas quando vejo a ferida crescer em nós, tudo o que o pensamento publica no cosmos ao meu redor é um erro de digitação que o word não corrige automaticamente ou uma nota irremediavelmente dissonante.
Quando eu respiro, sei que há perfeita ordem, mas para uma pequena engrenagem há de haver uma reprogramação a ser feita, que nos impeça de ruir a máquina que integramos. A nossa ideia de ordem precisa de manutenção, de reajuste.
Um lenitivo que possibilite a permanência da sanidade.
Se uma verdade que eu não quero saber, simplesmente vem á tona, o que fazer para não ir á lona a nocaute outra vez?
Se a montanha aparece de repente no meio da paisagem, sem aviso prévio ou anestesia, preciso elevar a minha fé a nível de sayadin e remover outros apegos, gestos, restos e a velha necessidade de mais palavras. De pá, de lavra. De terra.
É preciso lavrar o solo da calma, da alma, esperar florescer aquelas sementes plantadas lá longe, com a esperança que depositamos no amor. Os desatinos das lágrimas que ainda me restam, são rastros rebeldes da construção de um livro gravado a ferro e lava vulcânica através das eras que me compõem.
Desvencilhar desse caminho, é quase que exigir do silêncio o fim do som.
Eu ouço coisas que não quero acreditar e elas transitam pelo espaço à minha revelia.
Se eu pudesse converter a angústia em diamante agora, se em minha prece coubesse a fé, eu poderia, quem sabe (?), ter a riqueza suficiente para doar de mim a melhor frase! Aquela frase cheia de poder que lhe convenceria de que tudo vai ficar bem e que tudo aqui é efêmero, por mais que a dor neste instante seja aguda.
Mas (...) veja você, estou aqui rogando por mim mesma, porque no fim eu sei que essa lacuna que se estende diante dos meus olhos não é uma ruptura irreversível do mundo e mesmo assim eu dificilmente posso suportá-la.
São minhas placas tectônicas de medo procurando uma boa posição para que a superfície fique em paz.
Talvez seja um plano meu.
*
"Se é na sutileza,
Que reside a exuberância.
Busco ressonância,
Nos ideais do amor."