quinta-feira, 23 de maio de 2013

INÊS, ATA A MEDIDA!

 
É só chover para que as pessoas comecem a censurar quem sente frio quando chove.
Qual é o problema de vestir meu casaco?
Ficam se vangloriando, falando do frio do sul do país...
Os mais sofisticados ou aqueles que aproveitam pacotes aéreos baratos dizem:
- Se você estivesse em Bariloche, saberia o que é frio.
Hahaha!!! Bariloche!? Tem dó...
Não. Eu não sei do frio de Bariloche, porque eu moro em Sete Lagoas e aqui fica quente na maior parte do ano. E nem sempre quando chove faz frio.
Mas às vezes eu sinto frio quando chove.
E daí?
Isso é simplório? Isso me desabona? Isso te incomoda?
Por que?
Não preciso estar na Groenlândia,
em Bariloche ou no Bar da esquina pra saber que as pessoas têm dificuldade de deixar que as outras pessoas vivenciem sua esfera íntima: o sentir.
Isso é algo personalíssimo. Que seja psicológico ou não. Incoerente ou não. 
Se a pessoa sente, essa é a verdade dela naquele momento.
Por que taxar, fazer pedágio, tributar o que o outro sente diferente de você?
Analisam o outro com suas inexatas medidas e liberam fórmulas como caixas eletrônicos liberam comprovantes*.
Então, se chove em Sete Lagoas e você não sente frio, isso faz parte do seu quadrado, mas no meu quadrado cabe sim um casaco, que eu até posso tirar daqui 15 minutos, mas vou colocar porque estou arrepiando já.
E também vou tomar um caldo no final da noite.
E deixo que diguem, que pensem, que falem...
 
* Caixas eletrônicos às vezes não liberam comprovantes, há que se salientar!!!

terça-feira, 21 de maio de 2013

LOGÍSTICA

 
Ele portava as peças importantes
E ela, outras peças importantes
Mas quem se importava a ponto
de comportar o que era preciso
no mesmo suporte?
Ele, meia boca.
Ela, meio cansada.
Sem fins que justificassem
os meios escolhidos,
Sem e-mails, cartilhas, mensagens
ou manual de instruções.
Ambos perambulavam incompletos
buscando outra forma de montar a paisagem:
Um medicamento, uma nova lei,
Uma cópia autenticada da peça que falta,
uma cláusula em letras pequenas
no final do contrato.
E até que decidissem unir seus recursos,
continuariam quebrando a cabeça
com todas as peças nas mãos.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

CHAMA DAS ESTRELAS (Amor, futebol e gestação)

 
 


 
 
 
 
 
 
 


 

 
 
A cidade acordou alvinegra.
Antes isso fazia tanta diferença:
Nós chorávamos, lembra?
Hoje pouco importa
É só azucrinar o amigo, o chefe, o parente...
Ser vencedor sem benefícios.
Nunca fui de vestir essa camisa.
Enfim, não há mais grandes ganhos a não ser as faíscas
Muita coisa vira faísca enquanto outras se tornam incêndios, cinzas e fumaça
Não sei dobrar o fogo embora seja menina de elemento fogo de ascendente fogo.
Vivo com um balde de água na mão e combustão no peito
Aliás, é mentira, tenho peitos pequenos e campos minados.
Queria ter campos elísios, mas por hora, vivo meu calcinattio
O galo canta cedo, enquanto o céu ainda está estrelado.
E o amor é uma habilidade em desenvolvimento em mim.
Preciso de ar, outras terras, de água benta e não fogo fátuo.
Preciso me mover no éter, solver a eternidade
sentir novamente as possibilidades de conseguir equilíbrio no escuro e no frio
pacificar tempestades e oferecer flores aos meninos e meninas que vão chegar.
*
Pequeno (a), aqui não parece ser tão promissor, mas somos os homens presentes
e lhe amaremos, preparados ou não, lhe amaremos.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

MEDIDAS

 
Todo mundo tem uma dica,
um conselho pra dar,
todo mundo tem boa intenção,
remédio pra curar,
todo mundo sabe o melhor preço,
a melhor promoção,
todo mundo quer um grande mar
pra dissolver o verão
  
Todo mundo sabe o melhor trecho
pra você caminhar
Todo mundo sabe a melhor hora
pra você começar
Todo mundo quer dizer a dica
que melhor lhe couber
Sempre que você chega com o doce
o povo mete a colher
 
Todo mundo quer gratidão
dos conselhos que dá
Todo mundo tem opinião
pra você creditar no final
se afinal você acertar
Mas decerto haverá deserto
se no fim o seu caldo entornar
 
Na pressão, todo mundo é esperto
e na pressa chegamos tão perto
e morremos de tanto nadar
Percebemos, então, a verdade
que aos outros caía tão bem
Perecemos de fome e de sede
no próprio armazém.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

CANÇÕES PARA CHAMAR A CHUVA


Provavelmente
não sou o tipo de pessoa com a presciência felina
que protege o coração porque prevê o golpe.
Se apenas por algum acaso eu antecipar seu movimento,
rezarei pra que ele mude e se torne um afago ou um aceno, quem sabe?
E mesmo que ele se perca no nada, no que poderia ser e não foi,
 haverá um ganho, um alívio, uma graça.
Acho graça no mundo mesmo quando ele cospe, mesmo quando escorrego no lodo
e ostente após, um hematoma no corpo
Não é felicidade o que sinto, uma felicidade de hiena, dispersa de sentido
É mais uma certeza que dispensa senhas e logins,
que não precisa ser iderrogável nem absoluta.
Certeza de que as coisas são cheias de obediência.
Isso me enche de paz e paz é quase felicidade.
Colocaram um manifesto anarquista na porta e
mesmo assim as coisas obedecem, zombam dos manifestos.
A ordem está na impressão digital de tudo.
Tudo se reveste de cadência e ritmo e produz música.
O universo inteiro é uma sinfonia.
É a subversão do movimento e isso me deixa deslumbrada.
Você não ouviu, não ouve?
Chama de ingenuidade, porque eu acredito,
mas eu lamento sua surdez
e aguardaria seu golpe como aguardo o espirro,
mesmo que ele desista e me faça lacrimejar sem nunca ter sido espirro de fato.
Eu sei que ele quis, eu o senti, mas fica entre nós e meus olhos molhados.
Insisto no sorriso, embora você va me ver chorando algumas vezes.
Quando dói, eu sei chorar.
Quando dói eu reclamo e quero atirar também.
Quero sair pregando manifestos, revelar a ferida,
Expor a carne e a nudez da alma,
matar a chineladas as moscas que rondam,
fazer você sentir que pode doer em você
com a mesma intensidade que dói em mim...
Mas você tem um sistema nervoso central e o meu sistema é suburbano.
Vejo suas pernas inquietas e isso não me irrita como lhe irrita quando são as minhas.
Suas pernas também obedecem, marcam o compasso frenético
 e embora eu não possua a presciência dos fatos, antevejo com todo o meu estômago
o efeito das palavras e sentimentos que estão em você em estado gestacional.
O chão é um tamborim.
Pressinto uma canção prestes a emergir.

E certas canções, eu bem sei, são para chamar a chuva.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

TORTO

Estão cada vez mais frequentes as histórias trágicas que aparentemente demonstram que o ser humano faliu. Isso sedimenta no coração das pessoas a sensação e quiçá, a certeza de que não existe sentido nas coisas, no mecanismo da vida. A criminalidade, a decadência da juventude, a epidemia da depressão, a imundície na política, nossas leis tão imperfeitas como nós, as crianças que matam e que morrem, a educação deficitária, a desestruturação da família... São fatos que tem cheiro de apocalipse. São fatos que corroem a fé frágil, a esperança morna e o amor desbotado. São fatos que entortam o sistema nos fazendo pensar em soluções mais problemáticas do que o próprio estado vigente de tudo.
 
Muitos se preocupam com a estrutura do telescópio e esquecem das estrelas no cosmos infinito. A simplicidade está nas coisas comuns. Amar é comum, é natural, mas não é pauta das reuniões de Estado. E dái?

As coisas não vão bem, mas nunca foram tão melhores do que estão e nem por isso estamos em extinção. Passamos por guerras, por calamidades, ainda há vida na Somália e no Haiti! A Alemanha está de pé, a Rússia também. Os japoneses continuam avançando a tecnologia. Nós perecemos, mas nos preservamos, e já que não funciona combinar um suicídio coletivo e morrer todo mundo junto (sempre haveria um furão!), então por que nós mesmos não construímos o sentido para o existir?
O mundo pode nos entristecer, mas não devemos desistir por que um cara levou um tiro no semáforo em plena manhã ensolarada no centro de uma metrópole.
Na boa, eu me assumi cristã aqui e nunca gostei de ficar pregando ou doutrinando as pessoas. Cada um sabe o que lhe apetece, no entanto, se eu cito Sartre, Durkheim, Marx ou o Homer Simpson, não posso ter cautela em citar o Cristo.  Ele, ao ser questionado por Pedro em determinada passagem do Evangelho, sobre o destino e as tarefas de outro discípulo, responde de forma bem significativa:

“Que te importa a ti? Segue-Me tu.”
 
Gostas formam o oceano. As respostas são simples e simplicidade não é simploriedade ou ingenuidade, utopia. É da lei. O ser humano só vai falir, se eu falir.
O amor só é aniquilado se eu deixar de amar.
E a Terra vai continuar girando, bem ou  mal, todavia, girará muito melhor se eu fizer a minha parte.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Reverência à Vida!

 
Procuramos aflitos o ouro
Em montanhas, em escavações
Nos ferimos demais, nós suamos demais
para encontrar minerais sem valor
 
Nós perdemos a fé no início
e vertemos a lágrima vã
Nos movemos demais, nós perdemos demais
olvidamos o ensino da dor
 
Nossos braços agora são fortes
E mais forte é nosso coração
Percebemos sinais, descobrindo, afinal
que a mina está dentro de nós
 
Preciosa vida burilando seres
Na forja, na lida, na força do sol
no amor que doa, no cumprir deveres e
nos passos que deixam um rastro de luz
 
Ave, Vida!

terça-feira, 7 de maio de 2013

INTIMIDADE

Não é contar segredo.
A gente nem sabe guardar segredo.
Não é o sexo.
Para muitos, sexo é fácil e rápido de conseguir.
Não é olhar o contra cheque,
conhecer os pais,
viajar junto,
ter conta conjunta,
ter fotos e sorrisos e amigos em comum.
Intimidade é soltar pum
e não se envergonhar.
(...)
E fazer isso de novo.

Depois disso, meu filho, aguenta.
Entre a intimidade e o respeito escasso a linha é tênue, meu bem!!!