quinta-feira, 5 de abril de 2012

PROVE QUE VOCÊ NÃO É UM ROBÔ

Tem um GPS no meu celular.
E minha cabeça abriga tantas dúvidas que daqui a pouco haverá revolução, guerra civil, luta pelo espaço cerebral, sentimental.
Quem ocupa mais memória ran dentro de mim? Minha saudade se mede em gigas, teras ou em metros cúbicos? Eu te amo daqui até a mais distante cratera da lua. Estou com saudades daqui até o planetóide longínquo da galáxia de Andrômeda, indo de burro e com dor de dente. É longe!
Você sabe quantos continentes há dentro de cada um de nós? Seremos a réplica da Terra? Um replicante contra Blade Runner?
Em vão a gente tenta encontrar um dispositivo, uma calculadora interna que nos forneça o número exato que resolva nossas ações e inequações.
Como o computador do primeiro volume do Mochileiro das Galáxias, cuja resposta para o segredo da vida, do universo e tudo o mais era 42. Simples assim! Esperamos milênios pela grande resposta e no final é 42. O que faremos com esses números?
Eu venho de longe, estou cansada, agitada, ferida, estou alegre, eufórica, estou triste, eu amo, odeio e minto, eu reconheço meus erros, eu emito desculpas, eu omito alguns fatos, eu escancaro as misérias.
Eu magoei e perdoei. Eu sofro e suplico, eu peço anestesias, eu peço pro sangue correr, fluir, eu me apaixono, eu devoro e sou ruminada. Tenho manias. Meu quarto é uma desordem, mas não suporto o quadro torto na parede, ou o tapete de entrada fora de esquadro.
Eu entendo os homicidas e os portadores de transtornos mentais, eu me assusto com o excesso de sensatez. Eu faço canções e ouço canções. Tenho orgasmos lendo Guimarães Rosa, e talvez seja tão estranha a ponto de gostar mais de uma frase bem feita do que de sexo.
Fico feliz quando vou à sorveteria, Eu erro caminhos. Dou referências bizarras, como "Esse lugar fica em frente a uma caçamba da Codesel e sempre tem uns meninos jogando peladinha no meio da rua.” Meu banco de dados é cheio de pastas a renomear e sempre trava pedindo login.
E tenho um aplicativo que diz: "Você quis dizer." Meu programa é muito mais complexo do que qualquer circuito japonês e desafia os milhões de números combinados que geram declarações de amor e de guerra, ou apenas vocativos comuns pra chamar atenção ou dar bom dia.
Mas meu cérebro pode ser reprogramado. Existem diversas correntes que defendem a mudança de minhas atitudes com uma simples troca na maneira de pensar. E enquanto penso, eu digo: I have feelings, como o Data do Jornada, como A Super Vick, como o menininho de AI, como o homem bicentenário do Robin Wilians, como tantos outros robôs que almejaram a nossa humanidade, enquanto eu muitas vezes desejei ter entrada USB!! E não façam piadas infames com isso! Mas até pra isso seria legal: Me passa um filho por bluetooth? Vamos compartilhar nossas vidas, nosso colchão e nossos arquivos?
Ainda não fiz o download de todas as informações que eu gostaria de ter e que tornariam nossa vida mais prática. E mesmo que eu seja a mais inexata medida de mim mesma, sem simetria e ordem, sem sistemas binários ou solares, eu preciso provar que não sou um robô e digitar caracteres aleatórios para meu comentário ser aprovado em uma página virtual.
É claro que eu não sou um robô! Olha pra mim.
Se eu fosse, já teria me programado para tudo que ainda não consigo fazer e faria mecanicamente tudo o que me custa esforço, suor e noites revirando na cama.
Mas... Tudo bem!
Quero que minhas palavras demasiadamente humanas sejam sentidas, por isso vou digitar os caracteres numa sequência de letras sem sentido e torcer para que não produzam efeito devastador e provoquem pane no sistema.
Gosto da sensação de esperar ser lida na serenidade da página enquanto o caos segue em frente com toda calma do mundo. (S.P!)



domingo, 1 de abril de 2012

TERCEIRO ATO

Nós poderíamos velejar em mar tranquilo
sem que os ventos soprassem o medo contra nosso rosto
E tudo estaria bem
Nós poderíamos passear pelas gôndolas de Veneza
Sem que o tempo imputasse culpa em nossos autos
E tudo estaria bem
Nós poderíamos conhecer a lua
Sem que o espaço dilatasse a distância entre as naves
E tudo estaria bem
Mas nós estacionamos desperdiçando a órbita
e não sabemos exatamente onde está o problema, se há realmente um problema ou se temos apenas fatos.
Rezamos pra tudo ficar bem enquanto a noite vai,
enquanto vêm os dias, as madrugadas
Enquanto o passeio mais longo é descer e subir a escada e ainda assim se cansar.
Existe uma rota e um verso, uma linha de costura e de chegada
Meus sentimentos cabem numa cartela de comprimido
Cuja combinação com a água movimenta a escala Richter
sem causar desconforto com a possibilidade da tragédia
Coisas pequenas tendem a crescer e nem sempre tudo fica bem como se espera
A gente desaprende a repartir e a continuar seguindo acrescido de tudo o que nos falta, de toda luz que é farta enquanto a miopia dança valsa em nossa olhar
Aquelas coisas muito parecidas com o amor
nos acenam e oferecem cartas, alforrias e abrigos
Porque nós decidimos parar aqui nesse lugar sem placa ou sinalização?
O que pode crescer, brotar, vicejar nesse lugar
a não ser a ânsia, a flor da náusea?
Quais são os perigos que corremos enquanto estamos paralisados?
O céu inteiro brilha a palavra permitir
e guarda lugares mágicos para onde podemos ir
quando tudo isso passar, quando o passado parar de latejar
sanguíneo e nervoso como o efeito de uma martelada no polegar.
Se eu não entender nada até o final da estrofe
será que o mundo vai fazer mais sentido do que aquelas setas
que há quilômetros apontaram para lá?
Por algum motivo trilhamos o inverso com a bolsa repleta de estrelas-guia,
alimento para as horas perdidas, para a ausência de rotas e de certezas.
Se acaso nós descobrirmos que erramos o caminho de propósito
e como prêmio de consolação recebemos um pôr do sol magnífico,
beijos guardados na palma da mão, pipoca e aconchego de edredom,
será que teríamos novamente o propósito de errar?
O relógio anuncia o xeque-mate
Não vou me dar por vencida
Não perdi, nos perdemos
Nós perdemos, olha aí...
Mas se eu souber que você está comigo
Mesmo que a noite caia
Que raios partam de lá para nossa estratosfera
que os crimes continuem movendo jornais
e o preço do dólar ascenda como elevadores,
Se eu sentir que você está comigo
Mesmo que os presidentes renunciem e proclamem monarquias
Que a fome assalte os reinos rendendo glutões e famintos
Que meu time perca os jogos , que as divas percam o timbre
lesando as cordas vocais
Se você está comigo
Apesar dos pesares da Terra,
Das contas vencidas
E das crises mundiais
Apesar do esforço que faço pra ficar aqui também
Sob a mira do campo inimigo
Se eu souber que você é comigo
Sei que tudo vai ficar bem.