Às vezes eu me sinto flutuando na atmosfera que o tempo criou entre tudo o que eu fui e o que sou agora. Eu tenho todas essas dúvidas e certezas, esse conformismo que como um calo enrijece uma imperfeição que tinha valor e brilho.
Não sei se atualmente você gostaria de se
sentar para tomar um café comigo, ou um cappuccino com samantilhas. Não sei se com
tudo o que caminhei na superfície ainda posso ser companhia interessante ou
relevante. Nem sei se sou mais uma pessoa bondosa, preocupada com os destinos do
mundo e não sei como cheguei até aqui.
Eu poderia dizer que as
circunstâncias me impeliram para esse lugar como uma tromba d`água que te
pega de surpresa durante mergulho despreocupado no rio. Mas não é verdade. Sei que não foi assim.
Vi tudo acontecer lentamente, apertei todos os botões, moldei cada rampa de
acesso com as mãos, com as ferramentas para aparar arestas e aprimorar a obra. Eu tive a consciência
de que eu estava fazendo o melhor de mim, o melhor com tudo o que eu sabia e
que estava aprendendo. Eu tive a consciência de que eu não fiz o melhor.
Nesse silêncio gelado, o que a vida tem realmente a dizer? Aqui no oásis, sem filhos do meu ventre, sem conquistas materiais, com inseguranças demais, apegos demais, medos demais, porém num entorpecimento confortante que pode até ter me distraído, vivendo sob a sombra de outra pessoa, o que eu tenho a dizer, o que legitima minha fala?
Eu queria saber o caminho de volta
para as coisas que me traziam felicidade sem culpa, leveza sem câmera anti-gravidade. Há uma pandemia e zumbis,
desgosto, política e enquanto milhares morrem de fome, eu engordo complacente
entre a dieta e os aplicativos de comida.
Como é que a gente sabe que tá
feliz? Como é que eu sei se você está?
E o fim é com a música do A-HA:
So, please now
Talk to me
Tell me things I could find helpful
For how can I stop now
Is there nothing I can do
I have lost my way
Por favor, agora fale comigo / Me diga, coisas que eu poderia achar úteis /Como eu posso parar agora?Não há nada que eu possa fazer? Eu perdi o meu caminho...