O sentimento que sobra no fundo do ano sai espremido como
pasta de dente no fim do tubo.
Ouço os homens falando de amor e não sei mais se amo e me
importo como já amei e me importei.
Talvez seja um jeito novo de olhar o mundo, talvez porque o amor seja apenas isso que eu estou
vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois de amanhã é domingo e segunda-feira ninguém sabe o
que será.
Escuto o meu coração e consigo notar uma interferência,
um chiado revelando uma voz que fala em um código que ainda não aprendi a
decifrar. Tem muito ar aqui e pouco pulmão em mim. Mas tem muitos outros pulmões no mundo.
Esse meu lar tão
frágil tentando resistir ao calor e às diferenças, exige do meu coração um pulsar mais intenso. Tem uma fresta na parede que
eu não sei consertar. Mais tarde pode chover e isso me aflige. As pernas ficam
inquietas, os segundos não param, um novo ano já vem e não tem como frear.
Coloco canela no café, só pra você saber. Poderia ser maracujá,
talvez as pernas entendam.
Por hora, a expectativa do looping já embrulha meu estômago,
sem papel bonito e laço que a gente compra pronto. Embrulha com papel rasgado
de caderno.
Além da parede, dos muros e plantas carnívoras nascendo no jardim, preciso cuidar de umas coisas, consertar outras, mas estou cansada e não dá tempo pra prender a respiração. Tirar férias e ir pro Tibet não resolve. Não vamos mergulhar,
vamos passar por ali e procurar sobreviver sem muitas marcas, sem ferir e ser
ferido. Só é possível enfrentar. A vida é isso. O duro combate, aos fracos abate. E quem quer ser fraco de propósito?
Sinto-me velha e cansada. Há um bombardeio de ideias novas e
planos fabulosos, mas essa infinidade de universos que existe nos outros é o
maior desafio a vencer por hoje. Cada um é um templo que preciso respeitar, entender,
tolerar e perdoar.
Sei que tudo é urgente, mas quem sabe, no ano que vem?
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