segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SOMETHING

A rodovia era a mesma a não ser por um pequeno desvio perto da entrada da cidade.
Há poucos minutos a vida esteve por um fio, um deslize, uma distração, um movimento errado no volante, visibilidade distorcida pela lágrima caída...
Ela era tão dramática, adorava chorar acelerando.
Demorava pra tomar as decisões, mas quando tomava era porque a quota de certeza era maior do que a parcela nebulosa da dúvida.
Então, se estava certa, porque aquela sensação de perda, de soco no estômago?
Cadê a serenidade das decisões?
Cadê a calmaria da coisa certa?
Ah... Pensava em como a vida era inexata.
Nunca achou que João Gilberto, o chato de galochas era melhor que o silêncio.
Para aquele momento, Luan Santana, o chatinho de botas cairia melhor. Depois o resto da play list sertaneja que ela um dia teve certeza que nunca ouviria.
Mas era tão claro o motivo do sucesso daqueles artistas. Eles simplesmente falavam. Não rebuscavam sentimentos com palavras bonitas ou com metáforas preciosas. Eles falavam. Eles expunham o coração pulsando, sob os efeitos do vento, do olhar do mundo. Não tinha que ser bonito, tinha apenas que tocar quem ouviria. E a despeito de tudo o que gostava e respeitava, de tudo o que prezava e admirava, a rodovia para ela era uma faixa contínua de altas doses de vozes populares. E eles tinham razão.
Até que por descuido na seleção, eles param para dar passagem à guitarra de George Harrison. E Something veio como uma flecha com ponta envenenada.
Sentiu vontade de voltar e mudar seu destino. Teve ímpetos de andar mais centenas de quilômetros pra dizer que estava errada
Mas o retorno demorou tempo suficiente para a música acabar e ela mudar de idéia.
Então o refrão bobinho de Maria Cecília e Rodolfo soou como uma água fria no rosto.
É preciso acreditar no tempo, na natureza que não amadurece os frutos de um dia para o outro.
Acreditar que tudo se ajeitaria, mesmo que as renúncias doessem.
Acreditar que por mais difícil que fosse, era melhor pagar adiantado do que a prestação e com juros.
Acreditar que de alguma forma o amor vai nos encontrar preparados.

3 comentários:

Daniel Savio disse...

Te respondendo que a tua pergunta "camuflada", tem de doer porque era parte de nós, não arrancamos que faça parte de nós sem dor, mas não quer dizer que depois acabe por cicatriz e fiquemos mais felizes...

Se cuida menina =P (sério).

Fique com Deus, menina Michele.
Um abraço.

Anônimo disse...

Você poderia correr quilômetros, e eu estaria te esperando. Sinto tanto tua falta, não são só apenas musicas que me fazem lembrar você, são sentimentos que vivem no meu coração a todo instante. À vontade te encontrar a todo o momento, é o que me move com a incerteza de que algum dia, em uma esquina qualquer eu te encontrei, e meu olhar te acompanhará a cada passo a cada gesto seu. Não tem jeito, eu te amo!!!

Mulher Vã disse...

Eu já vi essa estrada antes. The long and winding road!

Let it be...


Beijo.