Amo o céu cobalto.
O céu cobalto pinta de outras cores meu íntimo, diferente dos dias quentes (reclamando pra variar), que lançam chamas, incendeiam e de herança deixam a fumaça, a fuligem e a dificuldade de respirar, de esfriar a cabeça, de dormir abraçado em conchinha, de enfrentar filas, de oferecer amor em troca de cada pisão no dedo inflamado.
O cobalto me torna um pouco mais paciente,assim como minhas doenças.
Piada estranha, né?
De perto pouca coisa é normal!
Sou mineira de Pará de Minas.
Pará de Minas, Luas da Terra...
Em dias de chuva, Sete Lagoas parece a lua. Enche de crateras e de vez em quando vemos emergir o monstro lunar.
Em Guaranésia, sul de minas, havia a mulher do cemitério. E o mais belo por do sol com cheiro de café daquela região.
Em Vila Velha há a terceira etapa, o terceiro sexo, a terceira ponte. Parte dela. A outra, parte sobre o mar rumo a Vix. É o trânsito flutuante mágico. Cariacica tem caranguejos e a Avenida Expedito Garcia, flor da manhã, padaria e movimento. E tem a Rua Jerusalém, um pedaço de Minas com polenta capixaba!
Viana tem o passado a limpo, uma amoreira e cheiro de perfume.
Domingos Martins tem uma pedra no meio do caminho, com um lagarto paralítico que brilha úmido quando há sol depois da chuva.
Marechal Floriano tem o aconchego da serra, do frio, dos lagos e cavalos.
Araçaí tem um portal, argila de moldar o pensamento, pequi e casos de assombração. No cerrado, os dragões bafejam, mas a noite os asserena.
Serenô, eu caio, eu caio...
Eu caio em Belo Horizonte.Capital afrancesada, província iluminada cheia de ruas e carros. Nunca vi uma cidade tão pichada quanto BH. Os pichadores de lá são os mais aventureiros de todos. Pense num lugar improvável e verá spray borrifado formando letras e códigos. Garatuja urbana, maltraçadas linhas antropológicas da cosmopolita e caipira cidade. Seus encantos me fizeram sempre andar no interior, perifericamente distante, como se o sol não delimitasse meu horizonte ali.
Eu percebia sim que mesmo brincando de roda, girava ao redor de BH enquanto minhas águas convergiam praquele ponto e eu não pudesse conter o fluxo.
Contive, mostrei que meus braços ficam fortes quando remo contra a maré.
Então o tempo passa e a força aumenta o poder dos gentílicos.
Somos arrastados junto com todas as outras cidades para o interior da capital, sem pecado, sem estado civil, sem outras fronteiras a não ser as placas dos motéis, dos um milhão de motéis que precedem BH, com volúpia, açúcar, afeto e promoções de pernoite. Com certezas derretidas como queijo na pizza e com a dúvida se o amor mata mais do que as DSTs!
Tapetes vermelhos se estendem para desfiles nem tão elegantes assim de jovens com sonhos universitários de proclamarem a república para o resto de suas vidas e depois se transformarem na plebe agonizante e feliz cantando acappela todos os hinos de massa! Reis e rainhas sem trono, assim como eu, rainha de estrelas que já deixaram de existir, embora a sua luz ainda visível insinue outros castelos.
Tanto chão pra andar.. O céu, a terra e as pessoas... Você pode me estranhar, mas eu prefiro as Sete Lagoas.O mundo é uma bola só, onde a gente desvaria e voa. Você pode até estranhar, mas tem sentido ser sete lagoas.
Radicalmente!
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Se eu não fosse analfabyte, postava a música "Três Coroas" dos The Darma Lovers. Vã, vc se habilita?