terça-feira, 20 de março de 2012

REIS


Não se fere um rei a ferro e fogo
Eu não desejaria ao fogo, à febre um rei
Seja cangaceira a carta à Espanha
Seja d'ouro a cana, o canto servo, a lei

A cada grito a porta aberta desespera
Aponta a flecha ao céu além
Cada caravela que espera o retorno da era
Quimera, a peixeira, o desdém

Não se cala um canto, uma discórdia
A língua que separa a prece
Ilude o mesmo Deus

Não se foge ao mar a procurar relíquias
Sujeitando a mata a recriar o caos

A cada grito a porta aberta desespera
Aponta a flecha ao céu além
Cada caravela que espera o retorno da era
Quimera, a peixeira, o desdém

Dizimando o rei, o réu sou eu
Vitimando o réu, o rei sou eu
Cangaceiro febril da terra inteira, o erro é meu

Da mortalha a peixeira que usei
Cada prece iludida que preguei
Desbravando o meu peito sem fronteira
Agora eu sei

Consumando o rei, o réu sou eu
Vitimando o réu, o rei sou eu
Cangaceiro febril da terra inteira, o erro é meu
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O ERRO É MEU.

*
a música, da Maria Gadú...

sexta-feira, 16 de março de 2012

Lamas no Everest, Belo Horizonte no meu coração

Amo o céu cobalto.
O céu cobalto pinta de outras cores meu íntimo, diferente dos dias quentes (reclamando pra variar), que lançam chamas, incendeiam e de herança deixam a fumaça, a fuligem e a dificuldade de respirar, de esfriar a cabeça, de dormir abraçado em conchinha, de enfrentar filas, de oferecer amor em troca de cada pisão no dedo inflamado.
O cobalto me torna um pouco mais paciente,assim como minhas doenças.
Piada estranha, né?
De perto pouca coisa é normal!
Sou mineira de Pará de Minas.
Pará de Minas, Luas da Terra...
Em dias de chuva, Sete Lagoas parece a lua. Enche de crateras e de vez em quando vemos emergir o monstro lunar.
Em Guaranésia, sul de minas, havia a mulher do cemitério. E o mais belo por do sol com cheiro de café daquela região.
Em Vila Velha há a terceira etapa, o terceiro sexo, a terceira ponte. Parte dela. A outra, parte sobre o mar rumo a Vix. É o trânsito flutuante mágico. Cariacica tem caranguejos e a Avenida Expedito Garcia, flor da manhã, padaria e movimento. E tem a Rua Jerusalém, um pedaço de Minas com polenta capixaba!
Viana tem o passado a limpo, uma amoreira e cheiro de perfume.
Domingos Martins tem uma pedra no meio do caminho, com um lagarto paralítico que brilha úmido quando há sol depois da chuva.
Marechal Floriano tem o aconchego da serra, do frio, dos lagos e cavalos.
Araçaí tem um portal, argila de moldar o pensamento, pequi e casos de assombração. No cerrado, os dragões bafejam, mas a noite os asserena.
Serenô, eu caio, eu caio...
Eu caio em Belo Horizonte.Capital afrancesada, província iluminada cheia de ruas e carros. Nunca vi uma cidade tão pichada quanto BH. Os pichadores de lá são os mais aventureiros de todos. Pense num lugar improvável e verá spray borrifado formando letras e códigos. Garatuja urbana, maltraçadas linhas antropológicas da cosmopolita e caipira cidade. Seus encantos me fizeram sempre andar no interior, perifericamente distante, como se o sol não delimitasse meu horizonte ali.
Eu percebia sim que mesmo brincando de roda, girava ao redor de BH enquanto minhas águas convergiam praquele ponto e eu não pudesse conter o fluxo.
Contive, mostrei que meus braços ficam fortes quando remo contra a maré.
Então o tempo passa e a força aumenta o poder dos gentílicos.
Somos arrastados junto com todas as outras cidades para o interior da capital, sem pecado, sem estado civil, sem outras fronteiras a não ser as placas dos motéis, dos um milhão de motéis que precedem BH, com volúpia, açúcar, afeto e promoções de pernoite. Com certezas derretidas como queijo na pizza e com a dúvida se o amor mata mais do que as DSTs!
Tapetes vermelhos se estendem para desfiles nem tão elegantes assim de jovens com sonhos universitários de proclamarem a república para o resto de suas vidas e depois se transformarem na plebe agonizante e feliz cantando acappela todos os hinos de massa! Reis e rainhas sem trono, assim como eu, rainha de estrelas que já deixaram de existir, embora a sua luz ainda visível insinue outros castelos.
Tanto chão pra andar.. O céu, a terra e as pessoas... Você pode me estranhar, mas eu prefiro as Sete Lagoas.O mundo é uma bola só, onde a gente desvaria e voa. Você pode até estranhar, mas tem sentido ser sete lagoas.
Radicalmente!
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Se eu não fosse analfabyte, postava a música "Três Coroas" dos The Darma Lovers. Vã, vc se habilita?

sábado, 10 de março de 2012

A força que faz a flor nascer

Eu deveria oferecer a minha cara a tapa, assumir as culpas, os erros e os jardins que abandonei.
Assumir a poeira que se formou, a crosta de sujeira sobre todas as promessas, a ferrugem do sorriso e o desgaste das amizades por pura negligência, púrpuras chuvas que não fizeram março fechar nenhum verão.
Será que alguém vê mesmo alguma coisa? O sol nas bancas de revista, me enchem de alegria e preguiça. Quem lê tanta notícia???
Eu não leio. Eu não vou assumir. eu não vou enfrentar.
Os erros, a poeira, as traças e a ferrugem são causas naturais, aconteceriam mesmo que eu fosse contorcionista e me esticasse até a última fibra gritar.
A gente vai até onde dá e se possível mais um pouquinho pra ver se o passo se adapta ao andar do mundo.
Mas o mundo voa.
É quase desleal.
Mas é justo.
Esse mundo é cheio de justiça e flores.
Eu faço minhas orações e procuro não morder as maçãs.
Mas sabem, adoro maçãs.
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Não sobrará mais que o leito de um rio...
Enquanto o homem não acorda, idiota, nem nota
Se enforca com a corda da própria tensão....


Estrelinhas pra Caetano, Maria Gadú, Dani Black e pra Eva.