Agora eu não falo como irmã, porque seria suspeita. Falo como uma leitora, uma admiradora.
Quando eu era adolescente, ouvia Renato Russo e me surpreendia com a maneira tão profunda de ele cantar exatamente aquilo que eu estava sentindo. Eu mal sabia nesta época, que o menino que brincava do meu lado e assistia Chiquititas, seria capaz de fazer o mesmo com tanto talento.
Esse menino cresceu e tem o dom de perscrutar a alma humana extraindo dali sua essência. É de uma sensibilidade incomum, capaz de escrever e descrever os sentimentos de uma situação que nunca vivenciou e quando vivencia, ele refina e traduz em palavras que nos tocam e nos comovem. De sua janela ele observa e absorve o mundo. Como o próprio diz no Conto Quatorze: “Porque sua própria janela era uma metáfora de quem ele era. Vista de fora, apenas um quadradinho de vidro no meio do arranha-céu cinzento, imperceptível. De dentro, uma televisão multicanal, de onde se enxergava a vida.” E também : “O garoto era alguém, importante e histórico, e sua função não poderia ser mais nobre: se não fosse ele a observar a alegria dos outros, quem é que iria? Quem é que contaria histórias e inventaria fantasias sobre os moradores do prédio da frente? Deixara de deixar de viver". Mal sabe ele, que muito mais que um observador, ele é ator de uma vida muito peculiar e bonita, melhor do que qualquer seriado que assistiu.
O Otávio cresceu sem preconceitos, construindo uma visão de mundo muito sóbria e sensata, apesar de tão jovem. Ele tem 21 anos com maturIDADE. Escreve desde sempre. É a ele quem recorro quando me deparo com encruzilhadas, porque sei e confio em suas opiniões. Acho deliciosa a maneira leve como ele manifesta suas opiniões, como quando falou de sentimentos: http://meusanosincriveis.blogspot.com/2008/04/013-sentimento.html
O desenvolvimento de seu texto não pesa, tal qual um beija-flor, não se rebusca além do necessário, não se torna piegas como música sertaneja, mas sabe a hora exata de ser clímax e de encontrar emoções que estão lá dentro de nós. Percebemos isso em trechos como a carta de Eduardo à Rosa em seu Conto Dezoito: "Percebes meu desespero? Consegues ver que, de um jeito inevitável, estou completamente sujeito à tua existência? São vinte e três dias desde que te vi pela última vez. E definho em pensamentos quando me ocorre a possibilidade de que não sentes falta de mim. E me soterra a certeza. Porque nunca dependeste de meu afeto, embora eu saiba que ele lhe é caro, pela tua vaidade."
A gente se descobre em seus contos.
Aprecio também sua maneira corajosa de defender seus pontos de vista com argumentações coerentes e fortes, como neste trecho que achei brilhante: "É por isso que quem prega o conservadorismo de uma música culta ou mais sofisticada tem uma mente tão pequena quando o intervalo entre duas notas em um chorinho." consta em:
http://oteatrodevampiros.blogspot.com/2009/04/713-nick-and-norahs-infinite-playlist.html
Ele fala de coisas simples, de amores possíveis, impossíveis, platônicos, fala do tempo, pensamentos, amizade... Não consigo descrevê-lo porque assim eu o limitaria. E pra mim ele é ilimitado, é infinito. Como falar de alguém capaz de enxergar a mesma poesia em Nora Ephron e Fellini? Alguém que chora lendo um livro do Nicholas Sparks e ao mesmo tempo decora as linhas de García Marquez?
Ele, como muitos de nós, ainda está na busca da peça que falta no quebra-cabeça, mas seu pisca-pisca é eterno. Pra mim ele é o cara que na alegria ou na tristeza deixa tudo muito mais belo quando escreve com seu dom apurado de sensibilizar.
Obrigada, Otávio.