segunda-feira, 26 de maio de 2014

COMPREENDER A MARCHA

Se estamos aqui, agora, com tanto a oferecer, é porque nós podemos fazer aquelas marcas se tornarem insignificantes. Da insignificância, extrairemos a luz e as marcas um dia brilharão, provando que o tempo e o amor podem sim consertar o mundo e nos conduzir de volta a um caminho seguro.

No universo que se movimenta, é difícil que algo não saia do lugar e não se quebre. Talvez nosso trabalho de manter a ordem seja apenas um ensejo para fortalecermos nossos músculos, nosso afeto, nossa compaixão e não necessariamente controlar os fatos.

Talvez todas as notícias ruins e a dor ao nosso redor sejam uma rogativa da vida pelo nosso melhor, pelo nosso esforço de entender que estamos todos meio quebrados, que estamos adoecidos e precisamos trabalhar a nossa cura, cuidando da ferida do outro.

Talvez as lágrimas que rolam em nosso ombro sejam um chamado da Vida, convidando ao despertar, à compreensão dessa aurora que trazemos em nosso coração. E é tanto sol, tanto sol, que não se enxerga a culpa, os erros, os débitos. 

Não, não pare. Não paralise agora, porque temos muitas bênçãos e não precisamos permitir que um único espinho aniquile o jardim inteiro.

Juro, quando vejo sua ferida, queria ser um pajé, um milagreiro ou retornar ao passado e impedir que todo mal atingisse você de uma forma triste e cheia de ramificações, no entanto, esses são poderes que não tenho.

Mas eu posso estar aqui.

E posso ser aquela pessoa que vai *te abraçar tão forte que todos os pedaços quebrados dentro de você se juntarão novamente.  E aí eu saberei também que estou inteira, porque você me juntou.

Então compreenderemos a marcha, venceremos a sombra e nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe pra trás. Apenas começamos. O mundo começa agora.

Apenas começamos.

* Frase de rede social...
* Metal Contra as Nuvens... Mas eu escrevi ouvindo Fix You do Cold Play e o título é de Tocando em Frente.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Sobrevivência

Acho que era Marte.
Pode ser qualquer estrela, qualquer planeta, qualquer nação do espaço...
Mas eu acho que era Marte.
Olhei como se fosse
Assim como olho para o crime no jornal
achando que o mundo tem poesia
achando que estamos melhor que a 50 anos atrás
Vivo como se estivéssemos
Assim como vivo a saudade das coisas fugidias
que entram pra sempre no passado
enquanto os prazos vencem no código de barra
Pago como se pudesse
Assim como pago contas de compras que nunca fiz
pelo prazer de ver que não te pesaria tanto
Dividimos as estrelas, a saudade e as contas
Enquanto a poesia insiste em escorrer
como o sangue no estômago de alguém que levou um tiro
e não morreu.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Recursos naturais

Spatifilus

Há dias em que o céu fica nublado e a ameaça de chuva não se concretiza por mais que você, a contragosto, tenha carregado a sombrinha.
O spatifilus do jardim quase morreu de sede. O cachorro não.
O cão sempre tem água, embora às vezes fique sem ração.
Nós também temos água, embora nem sempre tenhamos razão.
Em alguns lugares do mundo, há quem não tenha nem um e nem outro.
Em alguns lugares do mundo, por alguma razão, há seca acerca de tudo.
Eu moro em Sete Lagoas, a porta aquosa do sertão.
O próprio nome da cidade já é cheio de água.
Yes, nós temos água, mas é uma água calcária que ao longo do tempo joga pedra em seus rins.
Aqui todo mundo compra água mineral, embora toda água pertença ao reino mineral, inclusive a água cheia de calcário, que também é um mineral. Quem quiser, fique à vontade para explicar sobre águas e minerais sólidos, pois eu estou com uma preguiça imensa de pesquisar, assim como hoje, por preguiça eu tomei banho de mangueirinha.                    
É que a água daqui entope os buraquinhos do chuveiro.
Um chuveiro entupido no inverno chega a torturar.
A água não cai, ela esguicha para todos os lados.
Raros pingos caem no corpo, eriça os pelos. O banho é quase um balé.
Então, nós, perigosamente, desentupimos o buraco cheio de calcário com uma agulha, enquanto um  mísero e gelado pingo escorre pelo braço rumo as axilas.
Meu pai nos proíbe, diz que é perigos fazer isso.
Ele desencaixa e lava os furinhos, mas nós sempre optamos pelo jeito mais prático e mais perigoso. Ninguém se imagina morrendo enquanto desentope o chuveiro.
Seria tão bizarro morrer sofrendo um choque elétrico nessas condições.
É tão bizarro saber que a água do mundo vai acabar e que há quem morra de sede em pleno século XXI, assim como é bizarro ver o spatifilus quase morrer à míngua estando ao lado da mangueira.