quarta-feira, 30 de abril de 2014

O ESPAÇO E O TEMPO


Mas, silêncio! 
Soa na sineta eterna a primeira hora de uma Terra insulada.
O planeta se move no espaço e desde então há tarde e manhã.
Para lá da Terra, a eternidade permanece impassível e imóvel,
embora o tempo marche com relação a muitos outros mundos.
Para a Terra, o tempo a substitui e durante uma determinada série de
gerações contar-se-ão os anos e os séculos.

Transportemo-nos agora ao último dia desse mundo, à
hora em que, curvado sob o peso da vetustez, ele se apagará
do livro da vida para aí não mais reaparecer.
Interrompe-se então a sucessão dos eventos;
cessam os movimentos terrestres
que mediam o tempo e o tempo acaba com eles.

Esta simples exposição das coisas que dão nascimento
ao tempo, que o alimentam e deixam que ele se extinga, basta
para mostrar que o tempo é uma gota d’água
que cai da nuvem no mar e cuja queda é medida.

                                                                                             Galileu Galilei em A Gênese de Allan Kardec.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Madrugada

Na madrugada o silêncio reverbera na casa.
Vivos aqui, só eu, as bactérias e o cachorro, mas o cachorro também faz silêncio.
Parece que todos fazem minutos de silêncio, pois não ouço o dilatar dos metais, o pingo que sobra na torneira e nem o ruído da geladeira.
A TV estava no volume mínimo e mesmo assim parecia amplificada milhares de vezes.
Melhor desligar.
Só o meu corpo não silencia.
Ouço minha pulsação e o movimento do ar em minha cabeça quando aperto os olhos.
Parece vento.
Ouço minha respiração e se eu fizer um pequeno esforço, posso ouvir você dentro de mim
Posso ouvir muita gente e eu não quero entender o que dizem e nem o que sabem.
Hoje não.
Levanto, pego o violão, pois não quero ouvir o que tenho a dizer sobre tudo o que ouço sem querer.
Mas o violão faz tanto barulho que temo acordar os vizinhos e não há nenhuma canção capaz de superar o silêncio obrigatório no decorrer da madrugada.
Resolvo me render. Deito e aguardo os passos do sono se aproximando, embora eu acredite que o sono errou o caminho dos meus olhos.
E silenciosamente são tantas coisas que ouço simultaneamente que leva um tempo até que se consiga equalizar uma estação e ouvir apenas o necessário.
Hoje o necessário tem um tom terno e enérgico, extrai lágrimas e povoa meu quarto de outras ondas que eu pretendi evitar.



terça-feira, 1 de abril de 2014

mera brisa


Deve ser porque às vezes venta... 
E o vento arqueia as coisas leves e frágeis. Ensina-nos a resiliência, não sem antes mover o que de fato era dado como certo. 
E o que era tido como certo, 
na certa não era um fato... 
Era um aparelho ligado na tomada por um cabo com mal contato.