sexta-feira, 20 de junho de 2008

Expedito Garcia, 12:00h

e assim a vida vale a pena...
Dissolvo-me na ladeira numa solução de sol, poeira e suco gástrico. Em minha forma líquida, escorro até a perpendicular avenida. Sob os pés dos passantes me espalho pelo chão, transformada em pegadas. É no estômago que mora a angústia, não no coração. É o estômago que decompõe e modifica a matéria. É lá que voam as borboletas e outros insetos menos metamórficos. É lá que acontece a digestão da avenida efervescente ao meio dia. São dezenas de pessoas por metro quadrado, em locomoção frenética. Cada cem no seu quadrado! E são carros, ônibus, caminhões, motos, carros de propaganda, vendedor de peixe-elétrico e rapé, mendigos, profissionais liberais, órgãos públicos, comércios. A avenida é um livro repleto de histórias ocultas. Como a minha.
- Posso fazer uma pesquisa com você?
- A senhora já possui o cartão Blá Blá Blá Card?
- Moça, você pode completar o dinheiro da minha passagem?

Ao chegar em cada esquina, tenho folhetos, panfletos, filipetas e folders suficientes para montar uma bíblia da propaganda. Na verdade, penso em montar uma série de bloquinhos para rascunho!
“A profeta Dalva da Luz desfaz amarrações, traz de volta a pessoa amada e quebra todos os feitiços. Mundialmente conhecida.”
Eu nunca ouvi falar antes da tal “profeta”. Vai virar rascunho!
Mais à frente, a velhinha cotoca, sentada na calçada, estende a mão, apelando para a compaixão e misericórdia dos transeuntes. Eu acredito em outras possibilidades pra velhinha cotoca, mas quando lhe falei disso, ela me mandou lamber sabão. (não foi necessariamente isso que ela me mandou fazer!)
Na porta do banco, o homem com elenfantíase estende o boné. Dizem que prefere ficar miseravelmente ali do que se tratar. Faz parte do seu freak show.
Seguindo pela avenida, as ciganas profissionais querem ler minha mão. Ciganas que possuem residência fixa nunca entenderiam as entrelinhas da minha mão...
Atravesso a rua na faixa branca. Faz anos que quero tirar uma foto estilo Beatles em Abey Road. Faz anos que não concluo pequenos projetos.
Continuo. Hoje tenho vários destinos.
O dia ferve por dentro. Do lado de fora, o casaco me lembra que é inverno.
A avenida é imensa...
Sinto a iminência de implosões.

8 comentários:

Otavio Cohen disse...

o ser humano é uma escuridão. acho que o paulo coelho falava umas coisas desse tipo em um desses livros. tadinho do paulo coelho...

mas tadinhos mesmo é essas ciganas. um dia eu inventei com os meninos daquela velha turma uma história que o lobo mau era uma cigana que roubava o dinheiro dos outros, transformava em pandeiro e saia batendo o pandeiro, que era polifônico e tocava aquela música do Clube das Mulheres.

faz anos que esqueci de levar tão a serio os planos que eu sei que não concluir. faz anos. o vitor fasano.

Jean Baptiste Grenouille disse...

A não ser que vc tenha comido uma feijoada bem pesada, ou que seu estômago seja composto de massa encefálica, neuronios e neuro-peptídeos, dentre outros, vc é a primeira pessoa que eu conheço com um aparelho digestivo tão diversificado.

Os planos só são planos enquanto a gente não os conclui. Eu não quero ser um carrasco de planos, por enquanto deixo eles ali. É bom sempre ter um plano na manga, um plano B. Esses, provavelmente, nunca serão "extintos".

Guaraná e misto quente não fazem bem pra sanidade. Descobri isso relendo meu comentário. Mas não vou apagá-lo. É bom pra eu ver o tamanho da besteira q eu falei..Rsrsr!!

Au revoir!

Malaguetta disse...

uso panfletos de rascunho o tempo todo,ja virou normal pra mim... gostei dessa comparação com o estomago ;D

Mariana Ornelas disse...

Bem.. planos tem que ser como passos, caminhando se chega ao fim do percurso e do que se quer e sao passageiros... concluídos é somente questão de um segredo que pra mim nunca foi enigmatico , O QUERER, pra uns chamados como lei da atração renomeada em livro e documentario que rendeu milhoes de moedas ... moedas , pessoas, correria faz parte de um plano fisico do cotidiano onde as pessoas esquecem ou nao dao conta de ver o mais simples das coisas... ainda bem que existe toda a diversidade do mundo senao de nada valeria e nem tanto questionariamos ,muito menos um post se criaria... de tudo lembro-me bem de uma frase de uma pessoa muito querida, prefiro ser a esperança do que a barata... perguntei eu pq? Pq a esperanca tem um ciclo de inicio meio e fim enquanto a barata nao termina seu ciclo facil... Qdo se renova , qdo se determina , qdo todos acreditam ter o bem ali naquele determinado tempo do seu ciclo ... um homem nunca deixará se tornar um zumbi, pois um homem sem sonhos é um morto vivo...
Quem acredita sempre alcança... mesmo que seu tempo e ciclo nao seja tao rapido...

Bjos tive sumida mas apareci, estou andando meio corrida ultimamente... novas funcoes no trabalho , fora cursos de webdesigner que estou fazendo e estudando pra concurso ...

Mariana Ornelas disse...

perdao a pessima analise sintatica e ortografica das coisas a falta de tempo me deixa assim... mas respondo cada post com coracao e saudade tb de tempos que nao se voltam e de pessoas queridas que nunca se apagam

Anônimo disse...

VAMPIRA
Voltei a aterrorizar o mundo, agora mais que nunca na calada da noite, da noite preta...
Me faltaram pães no banquete de retorno, mas o quintal continua lá... disponível para visitas, quando quizeres...
E os memes, continuam á solta, tenho um texto muito próximo deste seu, mas em caderno, e como a mudança nunca acaba não descobri em qual das caixas ele está para que pudesse transcrever e te mostrar...
Fica pra outra vez...
Dessa vez deixa que as artérias urbanas são suficientes para levar tudo o que se tem, de bom e de mau...
.... aaauuuuhhhh.....
Lua cheia...
Calada noite preta!!!

Unknown disse...

A Avenida tem muitas histórias pra contar, infinitas. São tantas vidas que se cruzam ali, por um instante, e não se percebem. Quase tantas quantos os pequenos projetos que não realizamos.

Ótimo texto ;)

Unknown disse...

nossa, me deu até claustrofobia, vontade de estar naquela cachoeira do Cipó que vc tem que subir toda a trilha dos escravos pra chegar lá. Saudade minha linda.Segue o seco.