domingo, 1 de março de 2009

COMA

É engraçado pensar no ato de comer.
A procura pelo alimento é natural e instintiva. Todo animal racional ou não, sabe que precisa de alimento para sobreviver.
Comer, comer, é melhor para poder crescer!
O que se come, inclusive, classifica-nos biologicamente.
O ser humano come de tudo, come até gente, viva ou morta, luxuriosamente ou em tragédias como nos Andes, antropofagicamente, no meio do mato!
Dependendo do prato, você transgride e subverte. Filmes como “A Festa de Babete” (que acho excelente) ou Chocolate mostram bem isso.
Leões não ligam se sua carne está bem ou mal passada, se está temperada ou insossa. Nós, seres humanos, somos mais seletivos no paladar e ao longo do tempo rebuscamos nossos livros de receitas com a criatividade do possível e do reprovável.
Até Leonardo da Vinci foi um gourmet.
Em Nova York, existe um Clube dos Exploradores, que comem (de beca e vestidos longos) lesmas, baratas, vermes, tarântulas fritas, e confessam que é delicioso.
Devem fazer jejum antes de um banquete assim!
Em certos momentos, eu só penso em comida, em receitas. Isso acontece quando a fome aperta e estou longe de poder comer. Acontece no meio do trabalho, quando estou voltando pra casa... As receitas giram ao redor da minha cabeça e tenho ilusões de Zeta Jones, em “Sem Reservas”. Mas agora, tudo é deletado da idéia. Minhas antigas preferências são eliminadas do menu pelas borboletas cáusticas que voaram em meu estômago, e agora preciso aplaudir os cream crakers.
Nunca fui muito seletiva (lê-se : fresca) para comer. São poucas as coisas que excluo do meu garfo.
Mas foram tantas emoções que meu estômago não agüentou e apelou: aqui não entra mais suco de laranja, não entra mais massas, não entra catchup nem tomate, não entra coca cola, não entra morango, abacaxi, café, e lá se vai a lista. Todo mundo está barrado.
E é por isso que venho tendo pesadelos com batata frita e bacon.
Eu também nem queria mesmo.
Lesmas flambadas, caviar, arroz com feijão, sobremesas, pão de queijo, relacionamentos, problemas do escritório, mentiras e pipoca colorida, no fim ...
*
...TUDO VIRA BOSTA
*
(Moacyr Franco)
**
O ovo frito, o caviar e o cozido
A buchada e o cabrito
O cinzento e o colorido
A ditadura e o oprimido
O prometido e não cumprido
E o programa do partido
Tudo vira bosta...

O vinho branco, a cachaça, o chope escuro
O herói e o dedo-duro
O grafite lá no muro
Seu cartão e seu seguro
Quem cobrou ou pagou juro
Meu passado e meu futuro
Tudo vira bosta...

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

Filé 'minhão', 'champinhão', 'Don Perrinhão'
Salsichão, arroz, feijão
Mulçumano e cristão
A Mercedes e o Fuscão
A patroa do patrão
Meu salário e meu tesão
Tudo vira bosta...

O pão-de-ló, brevidade da vovó
O fondue, o mocotó
Pavaroti, Xororó
Minha Eguinha Pocotó
Ninguém vai escapar do pó
Sua boca e seu loló
Tudo vira bosta...

A rabada, o tutu, o frango assado
O jiló e o quiabo
Prostituta e deputado
A virtude e o pecado
Esse governo e o passado
Vai você que eu 'tô cansado'
Tudo vira bosta...

Um dia depois
Não me vire as costas
Salvemos nós dois
Tudo vira bosta...

13 comentários:

Otavio Cohen disse...

diz q essa musica é do moacyr franco. eu n gosto dele não. mas gosto da Litta Ree.

ricardo aquino disse...

Eu tive uma coisa dessas, tomei até soro caseiro. O melhor foi ganhar duas embalagens de yakut. Fiquei amarelo, feito anêmico. Hoje eu estou de volta à gastronomia inútil. A Soya agradece a minha preocupação. Pois tudo, tudo vira bosta!

mas nada de coca-cola sob o sereno!

com distinção

Anônimo disse...

Não importa o fim, mas o prazer que as coisas lhe causam.

Elga Arantes disse...

Também já cheguei a essa conclusão e até escrevi sobre em algum dos posts antigos. Mas não lembro qual... No final, tudo vira bosta. Que bosta, né? E ninguém está livre de evacuar (leia-se cagar, rs!). Nem Angelina Joli, nem a Sandy. Imagina! Esta deve fazer aquilo sorrindo, também. Aquele sorriso de "fazendo força", sabe?

***
Agora, porém, fiquei preocupada. Já sei que vc não vai me acompanhar numa cervejinha, nem numa Cuba quando a gente se encontrar num buteco, porque vc não bebe. Coca-cola, também vc já havia contado que não podia mais tomar. Agora, até suco de laranja???? Batata-frita com água? Ops, batata-frita também não pode, né? Já imagino eu tomando um chopp com uma porção de jiló com escalope acebolado, e vc, pão de queijo com água mineral. Ou pior, eu te acompanhando na combinação, por solidariedade.

Ai, ai...

sblogonoff café disse...

Tatá, corrigi. A música é mesmo dele!

Meu caro poeta, Acho qeu agora vou ter baratos com suco de pêssego sob o sereno!!!
Ou então sobre o efeito inebriante do liquidozinho da endoscopia. Eu vi duendes!!Rsrs

Anônimo, existe um certo problema entre o prazer e suas consequencias. Se vão me proporcionar prazer e depois vou sentir dor, então vou preferir uma renúncia ao prazer, que na verdade seria uma renúncia mediata à dor!! Entende?
Eu amo batata frita, suco de laranja, maracujá, pizza, mas vou evita-los, porque eu odeio a dor que sinto quando os consumo.
E assim é na vida!

Elga, nem me fale, menina!!
Depois que postei, cometi uns abusos. Era domingo e a boca fica nervosa aos domingos. Comi tudo o que não devia e depois fiquei parecendo um balão. Virei uma fábrica de puns, o que me fará postar sobre outro assunto: Intimidade!Rs
Mas aqui...
Eu não ligo de pedir pão de queijo com suco. Ainda sobraram as goiabas, as mangas, os pêssegos!!rsrsrsrs

Unknown disse...

sabe,
uma vez me disseram que fomos
viciados à comer. Como se a comida ingerida fosse droga, e o ato de comer um vício, em partes pode ser verdade. porque tem gente por aí que como sem fome. como vc disse,
tudo vira bostaaa.
e lá vem a nossa sintonia.
eu coloquei algo sobre eliminarmos
nossas fezes no esgot no meu blog...

abraços do Felipe Godoy;
http://garfosemdentes.blogspot.com/

Daniel Savio disse...

Hua, kkk, ha, ha, mas fala sério que não pode comer catchup senhorita Michele?

Nossa, eu estaria lascado, pois adoro...

Fique com Deus, menina.
Um abraço.

Tempos de Aracne disse...

Não se vive com medo e tão pouco pauta-se a vida por ele. E renunciar aos prazeres da vida é saber que se morre um pouco a cada dia e chega-se ao fim lamentando o que poderia ter feito.

sblogonoff café disse...

Não estou falando de renunciar os prazeres, mas renunciar o que nos causa dor, mesmo temporariamente. Quem é que sabendo da cura prefere o mal? Há inteligência nisso? Quem é que com cirrose prefere continuar bebendo? Há inteligência nisso? Quem é que com diabetes continua consumindo doces imoderadamente? Há inteligência nisso ou só um prazer suicida?

Anônimo disse...

o meu estomago é pequeninho. igual de
uma criança. eu num consigo terminar uma pamonha.e quando me falaram que o tanto que vc come é inversamente proporcional ao tanto que vc vive,
eu gritei "yes!"(fazendo junto aquele
movimento com o braço característico dos yeses). como uma criança.

eu sou dau, fico esquecendo de vir aqui. e eu adoro.
michele.. =)

Tempos de Aracne disse...

A dor faz parte da nossa existência caríssima e pautamos nossas decisões pelo que nos dói menos. Muitos preferem o mal a cura, ou então não teriámos viciados nas mais diversas coisas. Não é uma questão de inteligência.
São relações de custo benefício. O sujeito é diabético, porém vai comer um docinho de vez enquanto. Muitas pessoas que tem o fígado detonado por bebida voltam a beber depois de um tempo, mesmo que em doses menores. Isso não é burrice, mas uma opção que o indivíduo faz, levando-se em conta o prazer que tais atos lhe causam.
Quantas que pessoas você conhece que trabalhando adquiriram desgastes ósseos, foram aposentadas e continuaram fazendo tarefas que não estavam mais habilitados a fazer?
Quantas pessoas jogam bola e tem o joelho bichado? Enfim, isso é viver da forma que cada um escolheu, seja esta forma inteligente ou não.

Sheyla disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sheyla disse...

Mi,
Adoro comer, mas com o tempo meu gosto foi ficando "apurado", rs...
A questão é que sei cozinhar e amo descobrir novos sabores, experimentar novas combinações, etc.
Cozinhar pode ser uma arte amorosa quando se quer.
Mas que no fim tudo vira bosta é uma grande verdade.
Já tive gastrite e esofagite. Nesse período tive que evitar muitas delícias.Passava muito mal. Foram tempos doloridos.
Estimo melhoras.
Bjs.