domingo, 1 de abril de 2012

TERCEIRO ATO

Nós poderíamos velejar em mar tranquilo
sem que os ventos soprassem o medo contra nosso rosto
E tudo estaria bem
Nós poderíamos passear pelas gôndolas de Veneza
Sem que o tempo imputasse culpa em nossos autos
E tudo estaria bem
Nós poderíamos conhecer a lua
Sem que o espaço dilatasse a distância entre as naves
E tudo estaria bem
Mas nós estacionamos desperdiçando a órbita
e não sabemos exatamente onde está o problema, se há realmente um problema ou se temos apenas fatos.
Rezamos pra tudo ficar bem enquanto a noite vai,
enquanto vêm os dias, as madrugadas
Enquanto o passeio mais longo é descer e subir a escada e ainda assim se cansar.
Existe uma rota e um verso, uma linha de costura e de chegada
Meus sentimentos cabem numa cartela de comprimido
Cuja combinação com a água movimenta a escala Richter
sem causar desconforto com a possibilidade da tragédia
Coisas pequenas tendem a crescer e nem sempre tudo fica bem como se espera
A gente desaprende a repartir e a continuar seguindo acrescido de tudo o que nos falta, de toda luz que é farta enquanto a miopia dança valsa em nossa olhar
Aquelas coisas muito parecidas com o amor
nos acenam e oferecem cartas, alforrias e abrigos
Porque nós decidimos parar aqui nesse lugar sem placa ou sinalização?
O que pode crescer, brotar, vicejar nesse lugar
a não ser a ânsia, a flor da náusea?
Quais são os perigos que corremos enquanto estamos paralisados?
O céu inteiro brilha a palavra permitir
e guarda lugares mágicos para onde podemos ir
quando tudo isso passar, quando o passado parar de latejar
sanguíneo e nervoso como o efeito de uma martelada no polegar.
Se eu não entender nada até o final da estrofe
será que o mundo vai fazer mais sentido do que aquelas setas
que há quilômetros apontaram para lá?
Por algum motivo trilhamos o inverso com a bolsa repleta de estrelas-guia,
alimento para as horas perdidas, para a ausência de rotas e de certezas.
Se acaso nós descobrirmos que erramos o caminho de propósito
e como prêmio de consolação recebemos um pôr do sol magnífico,
beijos guardados na palma da mão, pipoca e aconchego de edredom,
será que teríamos novamente o propósito de errar?
O relógio anuncia o xeque-mate
Não vou me dar por vencida
Não perdi, nos perdemos
Nós perdemos, olha aí...
Mas se eu souber que você está comigo
Mesmo que a noite caia
Que raios partam de lá para nossa estratosfera
que os crimes continuem movendo jornais
e o preço do dólar ascenda como elevadores,
Se eu sentir que você está comigo
Mesmo que os presidentes renunciem e proclamem monarquias
Que a fome assalte os reinos rendendo glutões e famintos
Que meu time perca os jogos , que as divas percam o timbre
lesando as cordas vocais
Se você está comigo
Apesar dos pesares da Terra,
Das contas vencidas
E das crises mundiais
Apesar do esforço que faço pra ficar aqui também
Sob a mira do campo inimigo
Se eu souber que você é comigo
Sei que tudo vai ficar bem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia, boa tarde e boa noite.

Se ainda não é, será.
A hora chegará.
O medo vai embora, a criança chora.
Mas o sorriso nascerá de uma semente que temos dentro de nós.
Segurar nas mãos dos especiais.
Quando pensamos que não dá mais, uma porta ou janela se abre.
Abrindo olhos e corações.
Tudo em nós é feito de recomeços, de tropeços, de frente, de avessos.
Ainda temos pés, ainda temos mãos.
Tempo no caminho rasgando a escuridão.
Estou contigo!

Um super Abraço com beijo para a Menina das Estrelas!!!

LuizH

Elga Arantes disse...

Não sei denominar sentimentos, nem sei o que são, como vc disse, lá em casa.
O que sei, o que descobri, nesse último e expurgante final de semana, é sou ingênua demais e sem foco. Tento, a partir de agora, tomar decisões e segui-las. Não voltar atrás, senão por um motivo forte, transparente e que valha a pena se arriscar.
Em outro dia, talvez, o comentário do LuizH, aqui, seria suficiente para criar ilusões e legitimar minhas mancadas.
Tenho orgulho em usar meu coração, na maioria das vezes. Mas me envergonho em não temperar minhas ações e decisões com uma pitada de raciocínio, quase nunca. É isso que quero praticar. o equilíbrio.
Seu texto poderia ter sido escrito por mim, rs.
Beijo.

Erário

Mulher Vã disse...

Seria tão bom sentar e divagar docemente sobre a vida enquanto tanta coisa acontece no mundo ao redor, e nada disse ter o poder de nos atingir, mas dentro de cada um, um mundo se move e em cada mundo que se move dentro de cada um, há outros mundos se movendo e nada disso faria sentido se não estivessemos aqui, nesse mesmo canal e nesse mesmo horário.
Até da vontade de divagar sobre a morte da cabrita mas aí o tempo passa acompanhado com sua amante preferida, a vida, eles colocam uma sacola de supermercado na nossas cabeças bem no estilo capitão Nascimento e diz: Acorda, mocréia!
Quer dizer, eu sei que é só força de expressão mas fico ofendida. Ah, valha-me Deus se não fico!


No final das contas o que mais interessa é se MEMIMCOMIGO!

DJ disse...

Perfeito!!!