quinta-feira, 1 de agosto de 2013

JOÃO E O PÉ DE FEIJÃO

Querido Charles,

Se eu soubesse de antemão que haveríamos de parar onde chegamos, teria tomado um outro trem. Existem coisas das quais não me arrependo, o que não significa que faria novamente do mesmo modo.
Ao conhecer-te, pude senti meus órgãos reagindo à tua presença.
Eu pude sentir meu coração, meu estômago, minhas mãos e minhas pernas reagindo ao simples pensamento em ti. Eu pude sentir minha ânsia, minha vontade que sairia rompendo portas, atravessando paredes por ti e mesmo assim eu não poderia imaginar que ficaria pequena demais diante desse sentimento.
Se no início pude controlar, pude andar como me apetecia, dediquei muitas noites de insônia à tua existência. Se no início eu pude sentir o frescor das novidades, no fim eu poderia apenas sentir o pesar lancinante de tua partida de mim, de dias sangrando, de esperanças destroçadas. Uma rosa tão rara que entregamos a alguém com tanta sinceridade não espera ser destruída pelas mãos que a recebem.
O que não quero, meu querido, é que te sintas um monstro, como cheguei a te acusar. Se puderes, perdoe-me. Naquele momento a besta existia, entretanto, dentro de mim e queria destruir. Eu a controlei, juro que a controlei. Não pude, no entanto, deter seus urros, suas palavras, suas lágrimas.
Hoje, sob o céu onde na torpeza dos sentidos tu batizaste uma estrela com meu nome, percebo que vivencio um momento grandioso. 
Quero chamar-te pelos melhores vocativos. Quero dedicar-te os melhores pensamentos. 
Quero crescer mais do que o ódio incômodo que um dia pretendeu fazer morada em mim.
Não se imagina, Charles, que um sentimento tão bonito e terno possa um dia nos esmagar.
E nem se imagina que desse desterro que é o abandono possam nascer outros gigantes.

                                                                                            Perdoo-te.

                                                                                                               Emma

8 comentários:

Mulher Vã disse...

Pelo jeito parece uma carta de despedida, ou talvez a Emma tenha ido embora tinha tempo mas só agora voltou atrás em escrever algo para o Charles.
Parece que se conheceram no trem e foi paixão a primeira vista, porque veja bem, não é pra qualquer pessoa que nossos órgãos reagem, a pernas dela reagiram [leia-se abriram haha, não pude conter!] mas se era até quando ela pensava nele, deve ser que tremiam ou ficavam fracas...
Achei lindo demais, e muito bem colocado parte que ela tem ansia de atravessar paredes e portas apenas diante do sentimento pelo Charles.
Achei importante frisar antes de mais nada o sentimento enorme dela e depois a frustração e decepção, porque faz o leitor ter empatia por ela e uma espécie de desprezo pelo Charles.
Por outro lado, a ida do Charles pode não ser culpa dele, ele pode ter morrido ao ir pra guerra, por isso ela ficou tão brava, ou talvez morrido de qualquer tipo de morte mesmo, a reação da Emma é compreensível, logo que alguem querido morre, todos passamos pelos estágios de luto, entre eles está a raiva e por ultimo aceitação, neste caso, quando a Emma perdoa o Charles é como se o eximisse da culpa por deixa-la.
O bom de tudo é que você deixou margens para várias interpretações, parabéns pelo texto, excelente!


Beijos

sblogonoff café disse...

Hhahahahaha!!
Vã, isso sim é uma análise do texto!!
Não foi exatamente nisso que pensei ao escrever, mas ainda assim é um análise tipo aquelas que fazemos na escola. Me senti a escritora!

E depois de tantas "implicações", não se se isso implica numa ironia ou numa real análise!!

Poxa... Não pensei que as pernas dela reagem se abrindo...

Mulher Vã disse...

Ah vamos, Michele, não faça mal juizo de mim, menina, você bem sabe que quando gosto não poupo elogios! ;)

Anônimo disse...

Michele, adorei a postagem. Embora não seja muito criativo dizer, digo que faço minhas as palavras da Vãnessa. Ela é tão cabeça boa quanto você. Me chamou a atenção essa realidade importante nas nossas vidas:
"Quero crescer mais do que o ódio incômodo que um dia pretendeu fazer morada em mim."
É muito importante isso e achei essa abordagem inédita.
Eu também quando gosto não poupo elogios ;).

Manoel - Blog do Óbvio

Tempos de Aracne disse...

O sentimento e as razões que movem o ser desejado não importa naquela hora. Somos egoístas demais para pensar na dor outro. A nossa é mais importante. Porém como o tempo é o senhor de todas as coisas,Emma passa a ter uma visão menos parcial e real da razões que envolviam a partida de Charles.

Mulher Vã disse...

O Manô voltou, viva!

sblogonoff café disse...

Um texto após parido, é filho adotivo de muitas cabeças!!

Na verdade, primeiro vi a imagem e depois pensei em um texto que coubesse na imagem!!!
Um menino bonitinho ao de um elefantinho bonitinho. É uma imagem terna, assim como a paixão quando começa entre duas pessoas. Ela envolve com doce encantamento, mas se cuidada, vai crescer e se não controlada ou adestrada pelo amor, ela pode nos esmagar.

Não sei o que fez o Charles. Sei que seja lá o que ele tenha feito, isso a machucou demais. Ela sangrou. Ele de alguma forma partiu o coração de Emma e isso a deixou sentindo como se tivesse sido esmagada por um pé de elefante.

Mas ela aprendeu, lembrando dos bons momentos que tiveram juntos, que era possível crescer mais do que aquilo que a esmagava. E o perdão, ao meu ver, é uma ação que nos torna gigantes diante de qualquer coisa.

Não me importei muito em pensar estritamente no que ele fez, mas na grandeza do perdão que ela conseguiu ofertar.

Isso é maior do que uma paixão que esmaga, do que um elefante na Índia ou na África. Isso é gigantesco.

Isso é o ouro do ovo da Galinha que o João encontra na casa do Gigante quando sobe o pé de feijão.
Com a diferença que o perdão não é roubado.
É conquistado perante nós mesmos.

Mulher Vã disse...

Ainda bem que era uma pata de elefante e não uma manada!
Acho que a Emma não quis te contar o motivo do sumiço do Charles pra te poupar de algum tipo de julgamento, ela queria que nós soubéssemos apenas do seu perdão!