quinta-feira, 13 de março de 2014

ENTÃO...

Coisa que nunca fiz e nem tive vontade, coragem ou pulso pra fazer foi levantar bandeiras de causas que não me interessavam. Eu já falei: Ok, sou homossexual e tals, mas isso não significa dizer que aplaudo as posturas de Daniela Mercury ou Thamy Miranda ou que aprecio repertórios recentes de Ana Carolina. E também não quer dizer que eu não seja grata a essas mulheres. Se não fosse por elas, eu seria uma pessoa medrosa e encolhida. A sociedade precisa de quem mostra a cara e a oferece a tapa em nome de outros rostos e identidades.  Essas desbravadoras apenas poderiam estar atentas ao que separa o excesso  da revolução, senão uma coisa que era pra abrir caminhos, acaba sendo um desserviço pra quem quer simplesmente levar uma vida normal gostando de outra pessoa do mesmo sexo.

Então chega essa novela do Maneco depois do beijo do Félix e coloca duas mulheres pra ter um caso. Porque eu torço o nariz? Porque uma delas é casada. E família é uma instituição que eu respeito. Desaprovo uma pessoa que está sendo a pedra de tropeço no caminho da outra, seja ela homem ou mulher, no entanto, quando se vincula o estímulo ao adultério à homossexualidade, nós sofremos o efeito desastroso. E olha: é um saco, porque os argumentos se confundem, as pessoas começam a falar pelos cotovelos tagarelas e nem sabem o que dizem e o que realmente sentem em relação ao que dizem. Se elas compararem a outras condutas tão naturais de suas vidas, verão bailar paradoxos no palco do discurso.

Já estou farta de: "que podridão, meu filho não pode ver beijo de mulher com mulher, de ômi com ômi”, “ isso é uma afronta, tem idoso assistindo novela” ou “ isso é uma violência à moral e aos bons costumes”. Ou o famoso: “Não é por preconceito, mas...”  E depois do “mas”, essa interessante conjunção adversativa, jorram argumentos frágeis e tolos.

A sociedade tem seu tempo de amadurecer seus conceitos, seus parâmetros morais, entretanto, ela raramente questiona o que considero um mal real. Na adolescência, li A Pata da Gazela, um romance de José de Alencar, de 1870, no qual uma mulher que ficasse com o tornozelo de fora chocava a sociedade. Tornozelo!  Hoje sintonizamos em qualquer canal pra ver muito mais que isso. Dia desses recebi um videozinho de whats app onde um suposto pastor mostrava através do data show um cu - e ele diz cu, não usa eufemismos -  a toda uma assistência de fiéis!

O novo clipe da Beyonce está bombando e é de um erotismo imenso!! Lembro de ter visto videozinhos de crianças “sensualizando” com músicas da própria, com refrões do Naldo, do É o Tcham, do Lepo Lepo... O programa Pânico é exibido em horário nobre. O UFC não, mas os pais motivam as crianças a lutarem ou a verem lutas sangrentas dentro do ringue, circuito onde correm altos valores, assim como nas arenas de gladiadores. Mulheres desfilando seus corpos em comerciais de cerveja, “mostrando nosso alto valor comercial”...  Isso criança e idoso pode ver!! Se embebedar na frente das crianças, fumar na frente delas, falar palavrão na frente delas, mentir na frente delas, colocar no som numa altura além do suportável refrões em série que falam que pode trair, que a carne é fraca, que as mina pira e sobe na mesa, que quem tem dinheiro pega todas... Para mim, isso é a deseducação moral da humanidade e não vejo isso ser questionado.  Visualizar a imagem que essas canções tão lucrativas transmitem é a visão do estado deplorável de “moral e bons costumes”. E é triste quando a gente descobre que quem propaga isso em carro de som, em churrasco de família e outras mídias nem para pra entender o que diz a letra e quando eu informo, apesar do susto que tomam, me dizem: Ah, mas o ritmo é bom!!

São exemplos de coisas que ficaram naturais e as crianças veem. Trabalho com crianças, sei o que sabem, o que fazem, o que imitam de seus pais. E sei que pouquíssimos adultos questionam essas atitudes e além de não questionarem, ainda incentivam, passando ao largo do que é realmente educar um filho ou respeitar um idoso. Com certeza, e eu afirmo, COM CERTEZA: testemunhar um beijo contido de duas pessoas que se gostam, seja qual for sua orientação sexual, não vai deseducar ninguém. Pra deseducar, basta o contrato tácito que fazemos com o mundo, com a mídia, com a arte, assinado por nós e autenticado no cartório da consciência!


Não há mais considerações gerais a fazer. Tá tudo aí, tá tudo aí para quem quiser ver.

Um comentário:

Tempos de Aracne disse...

Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você iria postar sua indignação.
Quando as cadeiras giraram em 2000 e lá vai pedrinhas, os pobres acharam lindo e o proletariado também. Enfim a esquerda chega ao poder e como tantas outras, conspira contra seu povo e torna-os escravos dos seus desejos mais mesquinhos.
Você não deve se esquecer que o nosso "Cidadão Kane", ou sera cáncer midiático morreu. E o que acontece quando se extirpa uma célula cancerosa de tamanho considerável? Aparece um tanto de Mané para ocpar a "Boca" do lobo que no caso da mídia e da Política vem em pele de "Carneirinho".
Quanto aos "bons costumes", vou ficar com aquela música que fala dos estetas e dos críticos com seus segundos cadernos(Adriana Calcanhoto).