quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Um minuto avulso dentro do dia

Você sabe que eu me perdi.
Demorou tanto para reencontrar o caminho, que quando comecei a avistar as placas que indicavam nossa cidade, eu já era outra pessoa.
Você me reconheceu por alguns traços inconfundíveis, desses que nem o tempo e nem as circunstâncias depreciam ou transformam.
Mas eu sei que você olhava com desconfiança, como se eu estivesse sob torpor temporário ou interpretando alguma das minhas novelas imaginárias.
Não...
Era aquilo e só.
Eu era um produto, um resultado ou um "resto ou diferença".

Fiquei me sentindo como se me faltassem partes.
Estranhei as partes novas (...), no entanto é como dizem:
"Com o tempo a gente se acostuma."

Vejo as horas no rodapé da tela enquanto as músicas dos anos 80 me reconduzem ao presente.
O tempo não perdoa.

Quando os elétrons que orbitam todos os meus átomos desaparecem, pra onde será que eles vão?

Quanto mais eu demoro nessa janela, mais atrasada fico e a consciência do atraso não me faz mover quase nenhum músculo.

Procuro sustentar a lógica e encontrar qualquer pensamento que seja linear. Quem sabe eu possa ao menos ter a desculpa que preciso pra justificar minha ausência na sua caixa de e-mails, emitindo alguma nota fiscal ou na constância dos contatos?

Na verdade, nesse momento eu sei de tão pouca coisa.
Mas sinto coisas demais.

Ouvindo A-ha

3 comentários:

Tempos de Aracne disse...

Drumond encerrou "O Sentimento do mundo"num poema. Maiakovski disse que "comigo a anatomia ficou louca, sou todo sentimento".
"Tanta tecnologia só pra criar fantasia". O tempo de cada um foi furtado em prol da vaidade e conforto, misturado a conveniência de cada um.

Anônimo disse...

Olha só. Entro no blog todos os dias pra ver suas sábias palavras.
E hoje estou adormecida com seu texto maravilhoso, que nos faz pensar e sentir tantas coisas.
Obrigada Michele, por escrever e nos proporcionar sentimentos inexplicáveis!

disse...

Essas janelas sugam até nossa alma se a gente deixar...
Lembre-se de piscar.

Comparo a sombra da árvores com aquele ombro em que nos apoiamos quando o fardo que carregamos fica pesado demais...

O mais do mesmo pode ser bom!