quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

DEFORMAÇÕES

Quando é o caso, fico procurando desenhos no mármore, nas cortinas florais, no emaranhado de árvores. Geralmente procuro rosto de pessoas, de animais, de formas que conheço.
Gosto de encontrar o familiar, por isso talvez eu estranhe quando você revela coisas inéditas pra mim.
Sinto que essa parte estranha me faz querer te agredir de formas nas quais ninguém verá o sangue, mas que vai doer do mesmo jeito, ou pior.
É que Narciso acha feio o que não é espelho.
Fica meio confuso isso, porque há quem diga que nos incomoda no outro somente as sombras que também são nossas.
Eu gosto dos seus jardins, das telas e das tintas, dos rostos sorrindo... 
Gosto quando encontro um beija-flor, a mão do Spock desejando vida longa e próspera, gosto quando encontro um dragão ou qualquer personagem épico. São coisas do nosso universo e isso a gente reconhece e se alegra por encontrar.
Mas eu não sei por que essas outras coisas que são tão intimamente estranhas a nós ainda atravessam nosso coração como flecha envenenada. Poderíamos apenas aceitar que o mundo é infinito demais para conhecermos tudo e admitirmos que é necessário aprender até sobre matéria escura. 
Que forma é essa que me confrange? 
Se eu reconheço alguns de seus aspectos, porque quero apagá-los?
Eu não sei exatamente por que quero gritar até a imagem ser outra, até se tornar algo mais familiar e aconchegante como um abraço ou a primeira colher de Häagen-Dazs de macadâmia.
Olhando as rajas do mármore dessa parede, só procuro o que conheço, porque do contrário, poderia inventar qualquer forma e dizer que ela estava ali, por coincidência.

O problema, meu bem, é que a gente nunca acreditou no acaso.

3 comentários:

Alvaro Vianna disse...

Das pareidolias!

Rafael disse...

Eu não acredito mais no acaso.

Ah, aquele watts não existe mais, fui roubado na Bahia, é uma longa história.
Depois vc me manda seu contato dnovo por favor.

Rafael disse...

16 993160800 meu wats