segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

E no entanto, ela se move.

Assisti ao filme “O Caçador de Pipas”. Embora “Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain” continue encabeçando a lista dos meus filmes preferidos, o Caçador de Pipas é um filme simples, lindo, terno, chorei até. Ainda não li o livro. Talvez lá eu encontre explicações para certas atitudes do personagem central que me incomodaram. Para mim, esse não é um filme sobre amizade, nem sobre o Talibã. É um filme sobre firmeza. Sobre coragem. Sobre atitude. No caminho de volta pra casa, fiquei pensando muito sobre ter coragem e ser covarde. Amir jan, protagonista, ao meu ver, não alcançou a redenção com a atitude de ir buscar o filho de seu “amigo” em Cabul. Ele sofreu leves transformações no decorrer da trama, porém sempre foi um banana. O filme termina e ele continua assim, tentando fazer as pazes com sua consciência de banana. Mas eu não quero estragar o prazer de quem não viu ainda. Assista e diga!
Agora, por que isso me incomodou tanto (?), pensei. Será que sou assim também? E segui pensando a respeito durante todo o trajeto de volta pra casa. Pensei no ditado popular que diz que mais vale um covarde vivo do que um herói morto. Ao mesmo tempo, lembrei que entre os trailers do Caçador de Pipas, havia o do filme Rambo IV, onde o Satalone dizia: - Viver por nada ou morrer por algo.
Pensei naqueles que negaram suas verdades e seus amigos, como Pedro, o apóstolo que chegou a negar Jesus (três vezes!), ou Galileu Galilei que para não ser condenado pela igreja católica negou suas teorias, disse que havia cometido um erro, que a Terra não se movia em torno do próprio eixo e nem girava em torno do sol! E ainda jurou que sempre acreditaria nos ensinamentos teocêntricos da igreja. Pensei também naqueles que morreram por suas verdades, que lutaram pelo que acreditavam, como Joana D`Arc que foi firme até o fim, Mahatma Gandhi, Luther King, aquela mulher que a Sigourney Weaver interpretou no filme Congo, Paulo César Vinhas, ambientalista do Espírito Santo, que foi assassinado por não ter se calado ante as constantes e falsas fiscalizações e extrações ilegais de areia, assim como outros tantos pelo mundo.
E com tudo isso em mente, pensei em até que ponto eu iria por uma verdade, até que ponto eu daria minha cara à tapa pra defender o que eu acredito, para defender alguém que amo. Não sei se sob tortura eu “pedira para sair”! Sei que em sã consciência jamais deixaria que alguém pagasse por um erro meu, mas me incomodou e está me incomodando essa dúvida.
Existe um ponto, uma bifurcação no caminho onde a gente escolhe se vai se imolar por algo ou se não vai ser besta pra tirar onda de herói. Por onde você escolhe ir na maioria das vezes? Até que ponto você consegue continuar vivendo consciente de que não foi verdadeiro consigo mesmo nem com o mundo. De que não teve a atitude certa quando deveria? De que foi omisso?
Não se sabe ao certo, mas dizem que Galileu quando terminou seu julgamento, se levantou e sussurrou baixinho "eppur si muove" ("e, no entanto, ela se move").
(...)


3 comentários:

Otavio Cohen disse...

qualquer comentário sobre um filme que a gnte não viu baseado num livro que a gente (ainda) não leu é insuficiente, mas acho que do mesmo jeito que você falou que o filme não é "sobre" amizade, acho que o post não é "sobre" o filme.

é sim sobre desafios pessoais, impostos por nós mesmos. sobre expectativas também próprias. e disso eu posso falar, só não tenho conclusões otimistas.

ficar irritado com a própria mediocridade, como eu disse uma vez num conto, é dez mil vezes pior do que se incomodar com a estupidez alheia.

(diz que o livro é muito melhor)

Phabbinho disse...

A vida é como uma feira, onde você é atraído pelos melhores valores, mascarados por uma embalagem aparentemente inofensiva. Na maior parte das vezes nem verifica se a mercadoria é de boa procedência e se foi vendida por alguém de confiança (isso lembra minha profissão). Também uma algaravia, em que você é levado por aquele que fala mais alto, sem mesmo conhecer bem o que está levando para casa. Acho que a analogia ficou clara, bom... Na falta de clareza sobre minha interpretação, aliás, meu comentário, digo que tudo tem um preço, e se paga caríssimo, as vezes em moeda sem troca por aquilo que acreditamos. Levantar uma bandeira (sem querer parecer militante neo-liberal)pode custar a vida até hoje, como aconteceu na história e nos personagens assoprados ^^. Guardar certas convicções pra nós mesmos parece o mesmo que enfiar a cara no buraco e esperar que alguém diga que não é a postuta certa... Ahhh, será que é pra isso que os escritores servem!?

Unknown disse...

bem eu tenho uma teoria sobre esse lance de verdade...
verdade é o que tu faz sentir na sua vida naquele momento ou na vida...
o que tu acredita por um determinado tempo e luta por aquilo...
atos e fatos sao presentes que se tornam passado e quem vive de passado é museu e nao eu...
entre ser banana e ser heroi , vai depender de qual heroi pra eu tomar essa decisão , afinal o bananinha já é meu apelido e tb tem o seu banana que esta na moda fazendo um papel otimo na peça teatral "terça insana " e no programa "zorra total".... jááá os herois ... dos que ainda passam seriados mal mal tem antigo e famoso smallville que por sinal superhomem morre no final...

entao tudo vai do ponto de vista de qm viveu o fato, de qm viu o fato acontecer e de qm ficou sabendo....
telefone sem fio nunca tem uma mensagem dita como no inicio e assim é a vida, como se diz nosso querido compositor Gabriel pensador


Muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente
A gente muda o mundo na mudança da mente
E quando a mente muda a gente anda pra frente
E quando a gente manda ninguém manda na gente

Na mudança de atitude não há mal que não se mude nem doença sem cura
Na mudança de postura a gente fica mais seguro
Na mudança do presente a gente molda o futuro

Não adianta olhar pro chão, virar a cara pra não ver
Se liga aí que te botaram numa cruz e só porque Jesus sofreu
Num quer dizer que você tenha que sofrer

Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ficar sem fazer nada?
Até quando você vai levando porrada, porrada?
Até quando vai ser saco de pancada?