segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Anabelamente!


A eternidade.
Este é o tempo contido entre o início da queda e o impacto contra o chão.
Eternidade comprimida no desejo de que aconteça algo mágico que reverta a situação e evite o trágico tombo. Fica-se na sensação da dor antecipada e do constrangimento que a queda causaria. A visão se turva e todo o corpo se prepara na defesa dos ossos e músculos possíveis.
Eu sei. Já caí algumas vezes!
Dessa vez foi ela, uma das advogadas mais respeitadas e requisitadas daquele quadrado.
Entrou lindamente na padaria onde eu, humilde “aprendiz de feiticeira”, esperava ser atendida.
Reparei no salto. Anabela. Tinha o desenho bonito de um beija-flor nos hibiscus. Os galhos que saíam do desenho continuavam como tiras da sandália.
Enquanto observava os detalhes, ouvi uma interjeição que não consigo traduzir aqui e vi que ela tentava se escorar em algo. No ímpeto, segurou a cadeira vazia da mesa onde eu estava, no entanto, a queda era inevitável. A dela e a da cadeira sobre ela.
Naqueles átimos de segundo, desejei não ser testemunha do espalhafatoso momento. Quis que não fosse ela. Quis não estar ali. Mas eu estava!
No intervalo de tempo em que levantei depressa e contornei a mesa para acudir, ouvi o “Anhi”. Lembrei que foi a mesma interjeição dolorida que ouvimos quando a moça toda poderosa esborrachou no meio do baile de formatura de minha irmã, meses atrás. Quis rir da comparação, mas me contive.
Aproximei-me dela achando curioso que apenas eu fui socorrê-la. Nenhum cavalheiro presente se moveu. Algumas pessoas ficaram tentando disfarçar o riso. Outras nem disfarçaram.
Acho que fiquei tão constrangida quanto ela, sem saber se seria mais adequado minha séria comiseração ou qualquer comentário cômico que amenizasse a situação! É mais fácil cair assim perto de amigos. Uma gargalhada em conjunto resolve tudo. Mas como eu ia dizer a ela que aquilo sim era um “chá de cadeira”?!!!
Optei pela séria comiseração!
- Você se machucou? Perguntei oferecendo o braço.
- Aquele filho da mãe... Ele falou pra eu não usar esta sandália. (ela não respondeu minha pergunta!)
- Ah, mas ela é tão linda!
- Também achei. Mas já me desequilibrei antes e ele disse que aconteceria de novo. Lei de atração, conhece?! Fiquei com isso na cabeça e acabei caindo.
- Acho que isso está mais pra lei da gravidade!
Ela riu. Ufa!! Ri também.
Nisso o funcionário da padaria se aproximou e perguntou se estava tudo bem. Ela disse que sim e agradeceu, mas é claro que não estava. Como cair ruidosamente e ficar bem?!
Um senhor, sem sair de onde estava, tentou encontrar algo no chão para colocar a culpa, porém, coisas inanimadas são inimputáveis!
E foi assim que em poucos minutos fiquei sabendo que “ele” a quem ela se referiu era o namorado 12 anos mais novo, que aquela sandália foi comprada na Itália por um preço ínfimo e que ela não vive sem pão de queijo pela manhã. Encerramos nosso pequeno diálogo sobre lei de gravidade, lei de atração, pão de queijo e atitude:
- Já não existem tantos gentlemans no mundo! Ela disse, se referindo à falta de solicitude dos homens ali.
- Mas tá cheio de ladys, né?!
Ela riu do trocadilho e foi embora trabalhar com as leis, enquanto eu fiquei ali esperando a sucessão dos fatos.
A manhã estava apenas no início.
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Esta imagem eu encontrei no blog de Fábio Moon. Com o perdão do cara, eu modifiquei o salto da moça!
oblogdapapoila.blogspot.com

5 comentários:

Elga Arantes disse...

Puxa vida!

Queria que o texto não tivesse acabado. Foi tão bom ler! Deliciosamente agradável de ler. E muito engraçado. Aliás, eu quase nunca consigo segurar o riso, melhor, as gargalhadas ao ver alguém cair. A não ser quando 'rola' uma fratura exposta. É... já rolou isso comigo. Aí minha solidariedade foi maior, claro. Não sou assim nenhuma bruxa de conto-de-fadas, também.

Mais legal, seria se vcs tivessem se tornado amigas ou ela te chamasse para trabalhar com ela ou ela tirasse as sandálias e te desse de presente... Tipo conto-de-fadas. Nossa, como estou com estórias de mentirinha na cabeça hoje. Mas até sei o porquê.

Mas isso será assunto de post lá no 'Prometeu'.

Anônimo disse...

Vapira!
Afffffffffff.....
Nossa, nem parece que fui eu quem acabou de postar alguma coisa no quintal!
Ocorreu um fato agora que tirou toda a inspiração do que pretendia escrever, mas vamos lá...
Vamos tentar!!!
Nessa altura do campeonato, a essa hora da noite, sob tanta pressão, poucas coisas me fariam cair na gargalhada como a história da queda! Terrível pensar isso, mas não sei se estivesse presente se conseguiria conter...
Sobre os cavalheiros que estão se estinguindo, bem, conheço um, hoje ele mora em Moscou... E assim como certas Ladys, ele também me faz falta!
Sabe, o mundo está de cabeça pra baixo, eu me revoltando, e concluindo!!! Todo mundo devia ser gay!
Se vc não entender, deixa pra lá, uma outra hora explico!
Sangue-sangue!

Anônimo disse...

Adorei e tbm quis que o texto não tivesse acabado...Tão assim descorrido, entrei no universo na padaria, imaginei cada detalhe, me senti lá até me tornado amiga da advogada e brincando com ela hehehe!

Karen disse...

Adoro histórias com tantos detalhes, ricos detalhes. Mas confesso que foquei na sandealia...tenho um sério problema de compulsão por elas..rsss. Mas sabe que isso de "agorar" dos homens por causa de sandálias é real. Eu nunca caía quando andava sozinha, mas quando estava com o ex, de tanto ele falar "vc vai cair ainda" eu vivia virando o pé! rss
Humpft!

bjs

Brenda disse...

quem sabe se vc ñ fica com um cavalo marinho???