quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A distância entre nós II

(Eu e a velha da praça!)
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Existe um certo incômodo, pelo menos para mim, em ficar em silêncio na companhia de alguém que conheço a pouco tempo ou que acabei de conhecer. O silêncio me perturba nessas horas. Sabe aquelas reticências que ficam no ar, o sorriso puxado sem mostrar os dentes, sobrancelhas levemente arqueadas, algo um tanto constrangido pela ausência de assuntos?!
No elevador, então... Geralmente são pessoas que vemos todos os dias e nunca temos nada o que dizer além de saudações comuns. Isso quando acontecem, porque tem gente que emite um nfuewwj que deve significar “bom dia” e tem gente que simplesmente fica ali, muda, olhando pra baixo o tempo todo, enquanto o elevador sobe! De resto, ficamos observando o visor, ansiosos para chegar logo em nosso andar. Quando tem criança é mais fácil. Elas são mais espontâneas e quase sempre estão rindo. A gente brinca com elas e acaba formando um elo com os pais (ou responsáveis), mesmo que bem frágil. O problema é quando você mexe com um bebê e ele faz beicinho querendo chorar (ou chora mesmo!) e ainda faltam três andares pra chegar no seu.
“Pensa logo numa coisa pra fazer esse menino se acalmar”. (cabeça baixando arquivos de ajuda!)
É... Elevador é complicado. Não dá tempo de conversar. Mas precisa fingir que não tem ninguém do seu lado? É tão difícil dizer “oi” ?
Não me considero tagarela, no entanto, adoro bater papo. Quando estou de TPM, a coisa piora. Eu não fico irritada. Eu fico com uma necessidade extrema de falar. Foi por isso que resolvi formular um rol de assuntos para iniciar uma conversa, aberto à sugestões. (!) O rol precisa transcender os clichês sobre o tempo. Essa história de “hoje está frio”, “hoje está calor”, faz o assunto acabar rapidinho e não acrescenta muita coisa além do que você já sabe.
Na efervescência da lista, descobri que falar sobre as cicatrizes pode ser bem interessante. Você fica sabendo um pouco da história do outro e acaba por se revelar também.
Eu tenho uma cicatriz pequena sobre a sobrancelha direita. Foram cinco pontos. Eu devia ter uns três anos e meu irmão mais velho ia atirar na minha boneca com uma espingarda de chumbinho. Fui salvar a boneca e levei o tiro na testa. O chumbinho está lá até hoje. Se pressionar o dedo, dá até pra senti-lo. (Eu e meu irmão temos atualmente uma relação harmoniosa!!!Rsrs) Adorei dizer certa vez ao otorrino (que consultei devido à sinusite) que aquele “objeto metálico não identificado” que apareceu no raio-X da minha cabeça, era fruto de uma abdução alienígena, onde instalaram um chip em mim! Gosto daquela cara de incredulidade que fazem, embora a verdade que eu conto depois seja menos glamourosa : "Estou brincando, isso aí é um tiro que eu levei!”
E o assunto começa...

10 comentários:

Karen disse...

Acho que pior ainda é o silêncio entre duas pessoas que se conhecem há muito tempo mas não sabem como agir, o que dizer para não parecer tolo. Passo por isso as vezes e me sinto uma idiota, aí vem "nossa que frio", "nossa, como ela emagreceu/engordou!"...e por aí vai.

Adorei esta história do otorrino...ah, eu não tenho cicatrizes assim, só se eu mostrar a da cesária, serve?? hohohohoh

bjs

Malaguetta disse...

gente eu moro no 14º andar. e nunca tenho assunto no elevador.
vou fazer uma lista dessas o.O

Karen disse...

Estrela querida!
Até que enfim a vejo em carne e osso! Adorei..linda..

Quanto ao vomitar palavras, foi um post que escrevi e ainda não postei, acho que será meio polêmico e os conhecidos que lerem não gostarão muito...rsss..estou criando coragem para postar. Sabe o tipo de coisa que não tem como voltar atrás depois?? rssss..e é sobre alguem que vive me fazendo voltar atrás...

bjs

Otavio Oliveira disse...

karen, vc viu ela pela foto? tá lembrando que ela é a da esquerda, né??



então, michele, o grande problema em puxar papo com as pessoas desconhecidas (q uma amiga minha tb adora fz, como vc e como a moça do 1207 q eu peguei aquele dia e q me falou q eu tenho olho de peixe) é q as pessoas já estão tão acostumadas com os silencios absolutos q qdo alguém puxa papo é certo: estão dando mole.

e dpois reclama das assombrações q te aparecem. ehhe

eu sempre, SEMPRE, olho pro visor esperando chegar o 7º.

Elga Arantes disse...

Adorei o e-mail que me enviou, viu? Só não havia me acostumado ainda com 'Havem de Avalon', quando bati os olhos, pensei: "Vírus.". Obrigada por sua delicadeza e amizade.

Sobre o post, é exatamente o que ocorre. Sabe que no dia em que conheci a Pati, senti esse incômono enorme no começo? Tagarelamos tanto aqui e cara a cara, brochamos, rs... Depois foi ficando mais natural. Mas nossa história é um pouco diferente, sabe, né?

Concordo com a Karen o silêncio entre duas pessoas que se conhecem a tempos é mais desconsertante. Vivo tanto isso! Aliás, espero, vivia...

Você podia vir a BH no finde que vem também, hein?

Sheyla disse...

Michele,
Primeiro, quero dizer que gostei de saber o seu nome.
Depois, vc descreveu a realidade dos elevadores. É isso mesmo que acontece. Vou pensar mais a esse respeito.
A Karen fez a colocação do silêncio entre pessoas que se conhecem, o que daria para fazer outro post, heim?
Bjs.

Karen disse...

gente, vivo tanto isso..viu Elguinha...não é só vc! rsss

Olha, daria para eu fazer um belo post. O pior de tudo é que vc conhece tanto a pessoa que até o silêncio fala, horrível!!!!!! Vc até sabe que o silêncio é uma defesa, mas que dá vontade de falar "Desembucha FDP!!!" ah, isso dá!!!!

É Mi, vc podia ir tb heim???

bjs

Anônimo disse...

Vampira...
Sobre o tiro na testa... aff, nem vou comentar...
Sobre o silêncio... lembrei-me de uma crônica de Afonso Sant'Anna, em que ele se questiona sobre o "abismo intransponível" que se coloca entre duas pessoas estranhas em um ponto de ônibus qualquer, mesmo que estejam elas, quem sabe, esperando o mesmo ônibus para, quem sabe, o mesmo destino...
Não preciso dizer que pra mim ele É O CARA né?!
Quantas vezes você não esteve ao lado de um total estranho subindo para o mesmo andar na vida não?!
É isso...
Nada a acrescentar...
Ps.: Gostei da cara nova do blog.

Anônimo disse...

tem até uma frase que diz que a amizade começa mesmo quando duas pessoas podem ficar juntas em silêncio sem se sentirem constrangidas por isso.

então tipo, eu devo ter poucos amigos!

BORBOLETA CULT disse...

Essas interlocuções ou mesmo intervenções verbais que podem nos levar a uma proximidade maior dos outros fazem do mundo um lugar menos frio?
O calor das palavras sempre vão me aquecer a cada manhã, por isso gosto de sair de casa e dar "BOM DIA" para desconhecidos. Estranho a espera de uma resposta ou não. No fundo espero que o dia do outro seja tão bom quanto o meu possa vir a ser, mesmo que não seja, tenho a sensação que vai começar melhor se for assim.