sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Das coisas comuns e quase definitivas que atormentam nossa inércia e intensificam nossa pulsão de morte.


Eu digo que tenho respeito pelos seres vivos.
Menos de pernilongos que me envenenam e formigas que passeiam pela minha mesa de trabalho.Sempre tem um açúcar a recolher da xícara de café. Esmago todas elas com o dedo. Uma a uma. O que já é bom, pois em minha crueldade infantil, elas eram incineradas, antes encurraladas por um círculo de álcool. Um inceticídio justificado.
Formigas não temem a morte. Elas possuem um objetivo e muito foco.
E elas voltam todos os dias, buscando já não sei o quê, enfrentando o perigo em sua jornada irracional repleta de feromônios.
Eu sou a cigarra, mas acumulo como formigas.
Os dias estão cada vez mais velozes. Se você entrasse agora em minha cozinha, veria como é fácil acumular coisas. Acumulo pratos sujos. Acumulo mais que um castor. Caixas de leite, potes de coisas,  palitos, promessas, planos. A ideia é de usar tudo um dia pra fazer um brinquedo interessante. Qualquer coisa interessante. Mas os dias se acumulam sem nenhum brinquedo construído. Ou qualquer coisa interessante. 
Só não acumulo dinheiro. Esse consegue fluir em minha mão como um rio.
Você já segurou um rio com as mãos? Sem o concreto das represas?
Olho o universo precisando de manutenção. Nada é definitivo e permanente. De vez em quando alguma coisa estraga, adoece ou cresce demais. As frutas da geladeira que deixamos de consumir, o sangue que se modifica de acordo com o que você come, o cabelo, as unhas, a grama do jardim, o óleo do carro, a água do carro, a roda da moto, a roda da vida. A tinta da casa descolore e faz você acreditar que precisa de outra cor.
E mesmo que eu pinte a minha casa de laranja crepuscular, isso não mudaria o fato de eu - não raro - esmagar as formigas que passeiam pela minha mesa de trabalho procurando o café que já nem tomo mais.
Quanto mais eu perco tempo, mais acumulo o resto do mundo e isso às vezes parece o cúmulo nimbus!

10 comentários:

Alvaro Vianna disse...

Tenho acumulado amores impossíveis e listas de exercícios de Física.
Não mato formigas, tenho pena, mesmo que elas não sintam dor. Tenho dó das baratas, mas essas eu mato. Então não posso te imputar formicídio sem arcar com o meu baraticídio. Rabo preso, chinelo solto.
Acumulo mais: teorias de relacionamentos perfeitos. Rumo ao Nobel de cupidagem.
Comentário quase definito. Talvez volte para complementá-lo.

Grande e cumulativo beijo, Mi.

Mulher Vã disse...

Na infancia, sempre observei formigas, principalmente quando ia na casa do meu vô, lá tinha uma castanheira e eu ficava olhando elas subindo e descendo em correntes opostas, de vez em quando duas se cruzavam, confabulavam com as antenas, graves como homens de negócios, atarefadas e cheias de pacotes como donas de casa e eu tinha um prazer perverso, de esfregar o dedo no tronco e ve-las chegarem, confundindo-se, perdendo o rastro e atras delas outras se acumulavam em maré toda desordenada! Hehehehe
Outra coisa que eu fazia com minha era observar que do lado de fora dos buracos delas, tinha monturos de restos de besouros, alguns destes eram carapaças tão perfeitas que eu não resistia, capturava alguma formiguinha e vestia nela os restos de besouros, ficava parecendo um mini power ranger!!! Hahahahaha
Outra coisa que eu gostava de fazer, isso com outros insetos também: os jogava na agua depois "salvava" com um palito ou então barquinho de papel...

Da vida mesmo, acumulo apenas inexperiência...

Um beijo

Mulher Vã disse...

*Fazia com minha irmã*. Ficou faltando!!

Blog do Óbvio - Manoel disse...

Michele, adoro quando você escreve poeticamente sobre todas as "manias" que a gente coleciona quando criança. o que mais me traumatizou foi o colocar fogo nas formigas. Um dia me falaram que quando o gigante viesse ao mundo e visse todos aqueles hominhos andando nas ruas ele faria o mesmo. Fiquei bastante tempo fugindo do gigante, mas não contei para ninguém. Até hoje ele não apareceu, todavia do jeito que o mundo está, quem sabe já não está chegando a hora?!
Na sua próxima postagem desse estilo gostaria que você versasse sobre: "Ter minhocas na cabeça".
É um pedido de amigo e não pode ser negado.
Beijos no coração da amiga Mineira Itinerante,
Manoel - Blog do Óbvio

Blog do Óbvio - Manoel disse...

A Vã é um amor de pessoa.
Bjoss

Mulher Vã disse...

Voltei pra dizer que adoro a Turma ma da Mônica! E que também acho o Manô um fofo. E que amo minha tatoo e ainda mais o motivo de tê-la feito, amo esse blog e a blogosfera inteirinha! Amo todos vocês, todinhos, 4ever!

Mulher Vã disse...

Amo domingos e segundas, respectivamente!

sblogonoff café disse...

Rabo preso, chinelo solto.
Estamos sempre a querer mostrar nossa superioridade e aniquilar os incômodos e até por requintes de crueldade jogar sal na lesma para vê-la espumar.
Acumulamos crimes pequenos rezando para o cosmos não ter um programa tipo smiles...

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"graves como homens de negócio""

Que predicado engraçado e erudito!!
GRAVES!!! rsrs!
Eu gostei de te ler usando isso!

Eu salvava as formigas.
Depois de assistir Bugs Lifes, fiquei um tempo sem matar nada,mas elas entram no computador. Acho que tem doce lá dentro.
Então eu esmago tudo. E não tenho mais dó.
O Chico Xavier conversava com elas e diz que elas o respeitavam.
Mas eu mal sei falar a língua dos homens com amor, pra ser alguma coisa...

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Eu tinha subentendido a irmã!!!

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Já acreditei em gigantes,Manô. Na mesma época em que achava que comunistas comiam criancinhas. Tinha medo das campanhas do Brizola!
Achava que ele era o próprio diabo!!rsrsrs!

A Vã já fez um ótimo texto sobre minhocas na cabeça!
Pena que ela excluiu, essa maluquinha!

Vc se lembra? Do menino que andava de ponta cabeça por causa das minhocas?!!rsrs!!

Difícil fazer um depois de ela ter feito, mas prometo tentar!!

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Não gosto do domingo quando começa Revange.

Mulher Vã disse...

Ei, eu excluí mas desescluí, tá?!
Star lá no Culorindos.

Mulher Vã disse...

Eu acho formiga um bicho sério, grave, atarefado, sempre com pressa. No lugar do coelho da Alice tivesse colocado uma formiga teria combinado mais: é tarde, é tarde, estou atrasado!
Mas acho que o braço da formiga é muito fininho pra ter relógio, é, deve ser por isso.